Aos 92 anos, José Parada preserva história de Franco da Rocha

Betiane Silva

Hora do café. José Parada me oferece uma xícara depois de uma longa conversa sobre as memórias pessoais e sobre Franco da Rocha, cidade que completa nesta sexta-feira (30) o aniversário de 74 anos de emancipação de Mairiporã.

Aos 92 anos, ele vive há mais de 60 anos na cidade de 150 mil habitantes, na região norte da Grande São Paulo.

A atuação no magistério e a curiosidade pela história de Franco da Rocha para ajudar os alunos em pesquisas escolares, fizeram dele uma referência pelo acervo de documentos sobre a história da cidade.

São mais de mil álbuns de fotografias entre outros documentos. “Até hoje tem alunos que me param na rua, me perguntam se podem me abraçar e dizem que foram meus alunos no primário, isso marca muito a gente”.

A atuação levou a uma homenagem incomum em vida. Ele se tornou nome de uma escola. Localizada no bairro do Parque Pretória, a Escola Estadual Prof. José Parada ganhou este nome, em 2015, por meio de projeto aprovado na Assembleia Legislativa.

“Mês passado, fui homenageado na escola da minha neta e também no Teatro Municipal de Caieiras, onde recebi um troféu pelo trabalho que fiz em Franco da Rocha”, diz.

Bondinho com tração animal, ainda antes da emancipação (Acervo pessoal)

Nascido em São Joaquim da Barra, no interior de São Paulo, Parada chegou 14 anos após a formalização do município, em 1958. Na época, moravam apenas 30 mil pessoas. Ele veio a convite da irmã para dar aula de artes no primeiro grupo escolar (o primário da época), onde ela era diretora.

Antes de chegar a Franco, ele passou por cidades como Itapetininga, Araçatuba, Pirassununga e Campinas. Aqui se casou com Helena, com quem vive há 55 anos, e teve  quatro filhos: Hipólito, André Luiz, Paulo José e Roberta.

Filho de mãe portuguesa e pai espanhol, ele dedicou 35 anos a educação, foi professor e diretor escolar, além de trabalhar 18 anos na biblioteca municipal, quando ficava na Rua Dona Amália Sestini.

O prédio, onde trabalhou, hoje abriga a Casa da Cultura e foi a residência da família Sestini, uma das mais antigas da cidade.

José Parada faz origamis e caminhadas pela cidade (Betiane Silva/Agência Mural/Folhapress)

Além do primeiro grupo escolar, trabalhou na Escola Benedito Fagundes Marques e, posteriormente, na Escola Iraci Sartori, próxima à estação da CPTM Baltazar Fidélis, onde ficou até se aposentar da educação.

MUDANÇAS NA CIDADE

O professor aposentado conta que as casas antigas, guardadas apenas por recordação em fotografias, foram demolidas para dar espaço a prédios e construções mais modernas. As mudanças não estão só na arquitetura da cidade, mas também no social.

“Naquele tempo, eram poucas casas que tinham televisão, por isso, à tarde, o pessoal colocava cadeira na calçada e se reunia na praça (o local ficava em frente ao escadão) para bater papo, quando percebíamos já era tarde e íamos para casa”.

Na época em que chegou em Franco o cemitério era o último lugar da cidade e hoje está praticamente no centro, por conta da expansão do município.

“Quando eu vim para Franco, não tinha nenhuma casa nestes morros (que rodeiam o centro e a estação de trem). Hoje, a cidade é esta maravilha. Cidade linda. Eu adoro Franco da Rocha, eu tenho paixão por esta cidade”, diz.

Franco da Rocha completa 74 anos da emancipação de Mairiporã (Betiane Silva/Agência Mural/Folhapress)

Ele diz que nunca pensou em se mudar para outra cidade. É em Franco da Rocha que está sua história, sua vida, seus anos de dedicação a assistência social e a educação.

A vida segue movimentada. Adepto do espiritismo, o professor é leitor assíduo de livros de Chico Xavier e Alan Kardec. Faz caminhada todos os dias e navega na internet com frequência.

Ele atua em projetos sociais com outros moradores da cidade por meio da Liga Filantrópica de Senhoras. Também gosta de fazer origamis e outros trabalhos manuais.

Nossa conversa, infelizmente termina, mas não antes de José Parada me mostrar um pouco do acervo com fotografias de personalidades da cidade em anos passados, como da cidade e do antigo complexo hospitalar do Juqueri.

“Nunca me arrependi de vir para Franco. Era uma cidade pacata, pequena, com pouco movimento. Em um instante conhecíamos a cidade inteira, todas as pessoas”, completa.

Betiane Silva é correspondente de Franco da Rocha
betianesilva@agenciamural.org.br

Comentários

  1. Cresci em Franco da Rocha. Era vizinha do Sr José Parada. Lembro de ir várias vezes na casa dele para emprestar livros da literatura brasileira que tinha que ler na escola. E ele sempre falava sobre os livros e os autores. Bons tempos… abraço Sr José Parada.

  2. Ele é a própria história de Franco da Rocha, todas as pessoas que convivem ou conviveram com ele como eu, em seu tempo de professor de Escola Estadual, tem ele como referência. Sempre que nos encontramos recebo aquele abraço fraterno e cheio de carinho!
    Parabéns pela matéria!
    Parabéns Franco da Rocha, que acolheu tão bem seus filhos e nos fez criar raízes nesse município

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