Moradores avaliam impacto da enchente em Franco da Rocha

Betiane Silva

Vários comerciantes não conseguiram trabalhar no primeiro dia que abre o mês natalino em Franco da Rocha, na Grande São Paulo. A cidade amanheceu com ruas cobertas de lama e poeira deixadas pelo temporal que caiu na região no último sábado (1º).

A cidade que completou 74 anos na sexta-feira (30) tem um histórico de enchentes.  Foram 110 milímetros de chuva em apenas 6 horas.

A última vez em que o centro foi alagado foi no começo de 2018. Ainda está na memória dos moradores o mês de janeiro de 2011, quando a abertura das comportas da represa Paiva Castro paralisou o município.

Com acúmulo de lixo e entulho após a chuva, houve o cancelamento dos eventos de comemoração pelo aniversário da cidade.

O carroceiro José Carlos, 43, diz que trabalhou desde 7h recolhendo papelão, plástico e outros materiais recicláveis deixados arrastados pela água. “Eu já dei quatro viagens com o meu carrinho, carregando principalmente papelão, não tenho hora para parar”, conta. Ele estimou faturar em torno de R$ 170.

Outra moradora da cidade, que chegou cedo para trabalhar, foi Maria Amélia Lopes, 54. A vendedora ambulante conta que o ônibus que pega no Jardim Montreal, bairro onde mora, precisou fazer um desvio para chegar ao centro da cidade, passando pelo bairro da Paradinha em vez da Vila Bazú que estava alagada.

Frente da Estação da CPTM; transporte foi afetado na região (Betiane Silva/Agência Mural/Folhapress)

Linhas de ônibus que atendem os bairros da Vila Josefina, Parque Paulista e Jardim Montreal, bem como os que vão para cidades de Francisco Morato e Jundiaí, passam pela Vila Bazú que é frequentemente prejudicada por alagamentos.

“Eu tive que alterar o trajeto por causa dos alagamentos e limpeza das ruas e aumentou o tempo entre o centro e aos bairros em torno de 20 minutos”, explica o motorista de ônibus Renato Pereira, 35.

Não há registro de vítimas ou desabrigados, segundo a Defesa Civil. O órgão monitora as áreas de risco e avalia os perigos. “A orientação é para que as famílias que residam nestes locais saiam imediatamente das casas se notarem qualquer movimentação”, diz a prefeitura.

O município fica em uma região cercada por morros. O escoamento da água é dificultado com construções que desviam o curso do Rio Juqueri.

Para o comerciante Manuel Gomes, 57, o que ajudaria a amenizar o problema das enchentes no município é um outro tratamento nas margens do rio.

“Mas estão fazendo essa canalização [referente a canalização feita na Rua Basílio Fazzi], em um ano entope tudo e a água vai passar por onde? Por cima da rua e a tendência é ficar pior, trazendo lama e tudo mais, porque os rios foram represados, estão muito estreitos e não vencem a água”.

Manuel Gomes (Betiane Silva/Agência Mural/Folhapress)

Morador do Jardim dos Eucaliptos na cidade de Caieiras, Gomes conta que chegou às 10h onde monta a banca de calçados, em um estacionamento da rua Dr. Hamilton Prado. Ele quase desistiu de trabalhar por causa da sujeira que ficou nas ruas depois da enchente.

“Somos sempre prejudicados quando tem enchente porque depois fica a poeira que pega na mercadoria, mas fazer o quê? A chuva é Deus que manda, se a cidade não está preparada, infelizmente acontece isso mesmo”.

No calçadão em frente à Igreja Imaculada Conceição, a situação foi pior. Irenildo dos Santos, 40, conta que quando chegou ao comércio mantido pela esposa, a água estava na altura do peito de uma pessoa adulta.

“Nós estávamos com água na altura do peito na parte externa, mas dentro do prédio a média era de 80cm a um metro, aproximadamente na altura do quadril”.

“O rio está acima do nível da rua, então quando chove forte, durante três ou quatro horas, a água sobe e todos os canos e bocas de lobo mandam água para cá”, diz Irenildo.

Entulho acumulado na Rua Basílio Fazzi (Betiane Silva/Agência Mural/Folhapress)

Morador de Franco há mais de 20 anos, ele afirma que houve ações da prefeitura, mas não o suficiente. “A administração da cidade cuidou, mas agora foi o primeiro teste depois das reformas e a gente viu que precisa melhorar e muito ainda”, conta.

“É preciso resolver a questão do escoamento de água, porque a cidade inteira padece com isso”, completa.

PREFEITURA

Na época da enchente anterior, em janeiro de 2018, a prefeitura informou que estão programados três novos piscinões pelo o DAEE (Departamento de Águas e Energia). No entanto, a construção não foi finalizada ainda.

“Está em fase final de construção o reservatório AV-03, na região do Jardim União, que recebe as águas do córrego Água Vermelha, provenientes de Francisco Morato”, afirmou a prefeitura em nota.

“Está sendo licitada a obra de mais um piscinão, desta vez no Ribeirão Eusébio. Todas estas obras são de responsabilidade do DAEE, órgão do governo do estado, em parceria com a prefeitura”.

A gestão afirma que desde 2015 estão em funcionamento polderes (estruturas hidráulicas para o escoamento) no Rio Juqueri, junto com dois reservatórios que bombeiam o excesso de água que cai nesta bacia.

A prefeitura diz, ainda, que desde a madrugada de sábado as equipes atuaram na limpeza e desobstrução das vias mais afetadas. Na segunda, as ruas principais do centro da cidade já estavam liberadas. A ação prossegue agora nos bairros.

Betiane Silva é correspodente de Franco da Rocha
betianebatista@agenciamural.org.br