Em seis anos, Cajamar troca 13 vezes de prefeito
Betiane Silva
A cada seis meses, um novo prefeito. Essa tem sido a média da cidade de Cajamar, na Grande São Paulo, desde 2013.
Em sessão que reuniu 13 vereadores e mais de 150 pessoas no sábado (15), o vereador Saulo Rodrigues (PSD) foi eleito presidente da Câmara. Com a vitória, ele assumirá a prefeitura a partir de janeiro.
Saulo substituirá Eurico Missé (DEM), atual prefeito interino, e que voltará para o legislativo em 2019. Será a segunda vez que Saulo governa o município de forma interina. Em 2015, passou dois meses no comando da prefeitura, onde a troca se tornou regra.
Com pouco mais de 71 mil habitantes, Cajamar teve 13 trocas em seis anos, após a cassação dos gestores eleitos.
“A cidade perde muito com essas alternâncias porque muda tudo. Fornecedor fica com medo de vender e não receber pagamento da prefeitura, a cidade fica sem credibilidade e vira uma bagunça”, admite Saulo, que recebeu 12 dos 13 votos dos vereadores. Dois faltaram.
“Pretendo fazer a pacificação política e que a gente dê continuidade nos projetos do prefeito interino que estava lá. A cidade não pode parar”, disse.
IMPASSE
Em Cajamar, o último prefeito que conseguiu terminar o mandato foi Daniel Fonseca (PSDB), eleito em 2008. O problema começou na reeleição dele em 2012, quando a chapa foi cassada pelo uso de jornais, a favor de Fonseca, de forma irregular durante a campanha eleitoral.
O tucano recorreu e começou a primeira série de trocas entre ele e os presidentes da Câmara Municipal. Cinco vereadores se revezaram no posto.
A situação foi concluída perto do final do mandato, em novembro de 2015, quando Paula Ribas (PSB), segunda colocada na eleição de 2012, assumiu definitivamente a gestão.
Ribas foi reeleita em 2016, quando começou novo impasse. Ela também foi cassada, por abuso do poder político. A justiça entendeu que obras foram realizadas no período eleitoral para beneficiar a candidata. A vice Dalete de Oliveira (PC do B) chegou a assumir, mas também deixou o poder após decisão judicial.
Assim, assumiu Eurico Missé (DEM) e agora Saulo. Uma nova eleição será realizada na cidade. O TRE (Tribunal Regional Eleitoral) recebeu ofício para organizar a votação, mas ainda não há data prevista para a disputa.
CLIMA DE ABANDONO
Moradores apontam clima de abondono com o impasse. Alguns não sabiam dizer qual era o nome do atual prefeito após tantas trocas. É o caso da empregada doméstica Cleuza Sena, 55. Para ela, a cidade piorou em áreas como o transporte.
Ela mora no Jardim Florim e trabalha no bairro de Jordanésia. Precisa pegar ônibus todo dia para ir trabalhar. “De manhã, o pessoal pega o ônibus 5h para ir trabalhar e vai lotado, chega quase 7h no serviço e atrasado ainda”, diz.
Assim como Sena, a auxiliar de limpeza Dulce Firmina, 29, trabalha em uma escola municipal e também reclama da situação.
“Não tem médico para nada, nem para pessoas gestantes e nem para as crianças. Está tudo abandonado. Cajamar está abandonada”, lamenta.
Outro problema relatado pelos moradores é a manutenção. O motorista aposentado Jorge Caetano, 54, é morador do bairro Fleury e diz que quando aparecem buracos nas ruas de onde mora são os próprios moradores que consertam.
“Só colocam remendo no asfalto quando a Sabesp vem para fazer uma ligação de água, aí eles asfaltam, mas fora isso, não”, comenta. “Aqui tem umas lâmpadas queimadas na rua. Faz uns dois, três meses que está tudo apagado”, conta.
Para o pintor Valdecir Bezerra, 36, o próximo prefeito interino precisa reabrir o que foi fechado e contratar pessoal para atender a população.
“Vai ter que abrir postos, contratar médicos, porque mandaram embora. Não tem remédio, não tem nada. Agora ele vai ter que refazer tudo de novo, abrir os postos, abrir escola e dar vaga de serviço”, explica.
O prefeito interino diz que a cidade tem enfrentado problemas de arrecadação. Segundo ele, os investimentos das empresas foram prejudicados com essa mudança de prefeitos.
“Empresas estão indo embora da cidade e o nosso ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercados e Serviços) vem caindo. Precisamos de uma estabilidade política para que novos empresários venham para Cajamar e a cidade fique em uma situação melhor”, comenta.
Betiane Silva é correspondente de Franco da Rocha
betianesilva@agenciamural.org.br
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