Artistas do Campo Limpo e de Taboão da Serra vencem prêmio de melhores do ano
Lucas Veloso
Era 2017. Um jovem dramaturgo estava com uma peça pronta sobre a história de um menino negro da periferia. Ele tinha acabado de ganhar um edital para produzir o espetáculo. Ao pensar na direção, lembrou da atriz Naruna Costa, 35.
Quando ela recebeu o convite, hesitou em aceitar por conta da rotina, mas após ler o texto, achou que deveria colaborar com a obra. Aceitou a direção.
Na semana passada, a APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) divulgou os vencedores do prêmio, que contempla os melhores do ano, e Naruna estava lá na categoria direção de teatro. Ela recebeu o prêmio por “Buraquinhos – ou o vento é Inimigo do picumã”.
Naruna é de Taboão da Serra, na Grande São Paulo, cidade vizinha ao bairro do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, onde vive outro premiado na edição deste ano: Rubens Oliveira, 33. O bailarino foi reconhecido pela direção e coreografia de “Subterrâneo”, espetáculo de dança do grupo Gumboot Dance Brasil.
A APCA premia anualmente os melhores nas categorias: arquitetura, artes visuais, cinema, dança, literatura, música popular, rádio, teatro, teatro infantil e televisão.
Naruna tinha pouca expectativa de ser premiada. Também concorriam Gabriel Villela por “Estado de Sítio” e Inez Viana que dirigiu “A Mentira”.
“Tenho 15 anos de [Grupo] Clariô e sei o quanto de qualidade, estética, poética, política, além de profética tem nosso trabalho, e quanto isso merece prêmio, mas que não foi acessado [até agora] por conta dessa camada que julga os trabalhos teatrais”, diz.
Ela foi contemplada pelo espetáculo que conta a história de um menino negro, morador da periferia de São Paulo, que corre o mundo para fugir da violência policial. Participaram da peça os atores Ailton Barros, Clayton Nascimento e Jhonny Salaberg. O último foi quem escreveu a obra.
“Esse fato nos dá mais vida, afinal, foi escrito por um jovem negro, dirigido por uma mulher negra, todos de periferia, e ganhamos um prêmio da elite do teatro paulistano, como é o APCA. Nosso corpo é político”, resume a diretora.
DANÇA
Na mesma linha de pensamento, Rubens Oliveira vê a questão da representatividade como fator essencial na premiação, pelo protagonismo dos artistas que vivem nas bordas da cidade.
“É muito feliz saber que nós, artistas negros e periféricos, estamos ocupando este lugar [da premiação], porque a arte mesmo está em todo lugar, e pertence ao lugar em que os artistas quiserem”, declara.
“Subterrâneo”, de Oliveira, traz um panorama do Brasil de hoje, e dos trabalhadores das minas na África do Sul. As situações degradantes sofridas pelas pessoas mais pobres nos dois países é mostrada no palco, com 13 dançarinos do grupo Gumboot Dance Brasil.
“Artistas negros ganhando prêmios na cidade de São Paulo, contando a história de ‘pessoas invisíveis’ diz muita coisa”, completa Oliveira.
Lucas Veloso é correspondente de Guaianases
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