Cinco cidades do ABC aumentam tarifa de ônibus e grupo marca protesto
Diego Brito
“O aumento na passagem prejudica todo mundo, mas principalmente quem está desempregado”, aponta o eletricista Adailton Pereira Mourão, 25.
Sentado com o currículo nas mãos em um banco da Praça Castelo Branco, no centro de Diadema, na Grande São Paulo, ele está desempregado há pelo menos dois anos, e procurava por trabalho nesta terça-feira (15). Foi para lá da forma que deu: a pé.
“Já não temos dinheiro para procurar emprego e ainda tem reajuste?”, questiona. No município, a passagem paga em dinheiro subiu de R$ 4,40 para R$ 4,65 no dia 6 deste mês. A alta foi de 5,6%, enquanto a inflação oficial dos 12 meses de 2018 foi de 3,59%.
Além de Diadema, São Bernardo do Campo (R$ 4,40 para R$ 4,75 – reajuste de 7,9%), Santo André (R$ 4,40 para R$ 4,75 – 6,8%), São Caetano (R$ 4,20 para R$ 4,50 – 6,8%) e Ribeirão Pires (R$ 4 para R$ 4,40 – 9%) também reajustaram o valor da cobrança nos coletivos em 2019.
Até o momento, apenas Mauá e Rio Grande da Serra não se pronunciaram sobre o acréscimo no preço das passagens na região do ABC paulista.
Uma manifestação que pede a revogação do reajuste foi marcada para esta quarta-feira (16), na Praça Matriz, no Centro de São Bernardo. O ato foi chamado pelo Comitê Regional Unificado Contra o Aumento das Passagens no ABC, coletivo criado em 2013 e formado por militantes de diversas organizações políticas e movimentos sociais.
“É um aumento que, além de ser acima da inflação, não corresponde ao atendimento prestado pelas prefeituras e à qualidade do serviço que a gente tem hoje no transporte na região”, comenta Anderson Lopes Menezes, 32, integrante do comitê.
O grupo realizou outras ações semana passada como panfletagem e conversa com os moradores em pontos de ônibus e terminais. “Os moradores dos municípios que não tiveram aumento também sofrem com o reajuste porque trabalham ou fazem outras tarefas nas cidades vizinhas”, diz.
Ele afirma que terão protestos nas outras cidades do ABC nos próximos dias.
IMPACTO NA POPULAÇÃO
“Tenho que pegar dinheiro emprestado de parente ou vizinho para caçar serviço e não é certeza que vou encontrar. Prejudica muito esse aumento”, ressalta Mourão.
Assim que perdeu o último emprego, em 2017, ele também teve a moto roubada, que era seu principal meio de locomoção. “Quando tinha moto, saía mais em conta pagar a gasolina do que a condução.”
Sobre o valor da condução em Diadema, ele diz que o preço não é justo. “Não vale a pena. Tem pouco ônibus para muita gente. Em horário de pico é lotado, quase não dá para entrar. Se aumentou a tarifa, poderia aumentar a frota também”, finalizou.
Moradora do bairro Baeta Neves, em São Bernardo, a cuidadora Edna Maria, 45, também está desempregada. Com currículo em mãos, ela descansava em uma praça no centro da cidade após caminhar cerca de 30 minutos nesta terça-feira. “Estou sem emprego há três meses e não tenho dinheiro para pagar a passagem. Entrego currículo a pé. É o jeito que dá.”
O PREÇO NO ABC
Diadema
2017 – 3,80 para 4,20
2018 – 4,20 para 4,40
2019 – 4,40 para 4,65
Santo André
2017 – 3,80 para 4,20
2018 – 4,20 para 4,40
2019 – 4,40 para 4,75
São Bernardo
2017 – 3,80 para 4,20
2018 – 4,20 para 4,40
2019 – 4,40 para 4,75
Ribeirão Pires
2017 – 3,80 para 4
2018 – Sem aumento
2019 – R$ 4 para R$ 4,40
São Caetano
2017 – 3,70 para 4
2018 – 4 para 4,20
2019 – 4,20 para 4,50
PREFEITURAS DIZEM SEGUIR CONTRATOS
Em nota, a Prefeitura de Diadema informou que o aumento “é uma condição contratual e os índices são definidos pela inflação dos últimos 12 meses”. Para pagamento com o cartão de ônibus da cidade, o SOU Diadema, o valor passou de R$ 4 para R$ 4,25.
A Prefeitura de Santo André, também em nota, explicou que o reajuste levou em consideração outros fatores além da inflação, “como salários dos motoristas e funcionários, demais benefícios e insumos de abastecimento da frota, que somados, mantém o equilíbrio econômico-financeiro do contrato de concessão do sistema”.
No caso da administração de São Bernardo do Campo, a prefeitura afirma que a empresa concessionária solicitou reajuste para R$ 5,05, o que foi rejeitado.
“Na planilha da concessionária, foram considerados aumento das despesas, tais como elevação no óleo diesel, manutenção, consumo de pneus, elevação salarial e benefícios dos operadores”, afirma a gestão.
“Vale destacar que, ao contrário do que acontece na capital, em São Bernardo não há pagamento de subsídio”.
Questionadas pela reportagem, as gestões de Ribeirão Pires e São Caetano não se pronunciaram sobre o tema até a publicação deste texto.
Diego Brito é correspondente de Diadema
diegobrito@agenciamural.org.br
VEJA TAMBÉM:
Hospital de Diadema corre risco de ser fechado
São Bernardo corta folgas quinzenais de servidores da saúde e segurança
O grupo realizou outras acoes desde a semana passada como panfletagem e conversa com os moradores em pontos de onibus e terminais. ?Os moradores dos municipios que nao tiveram aumento tambem sofrem com o reajuste porque trabalham ou fazem outras tarefas nas cidades vizinhas?, comentou.