Com trânsito e buracos, Carapicuíba perde recursos para obras em avenidas
Ana Beatriz Felicio
Moradora de Carapicuíba há 42 anos, a supervisora de oficina Luzia Constantino de Souza, 55, conta que já sofreu um acidente devido a má condição das ruas do município da Grande São Paulo.
“Tive um pneu estourado em um buraco próximo a Avenida Integração [Cohab]. Era noite e acabei rasgando o pneu, amassando também a roda. Não deu nem para consertar”.
O local foi remendado após o problema, mas ela ainda vê perigo em regiões próximas, principalmente nos bairros de Vila Menck e Jardim Angélica. “O asfalto é péssimo, cheio de buracos. Quando chove então você sai pelas ruas e não sabe se vai cair em um buraco. Não dá nem para saber por onde você está passando”.
A melhora em vias como essas no município teve um novo obstáculo no começo do ano. Com orçamento de R$ 578 milhões e mais de 400 mil habitantes, a prefeitura da cidade recorreu ao governo estadual em busca de verbas para melhoria de vias. No entanto, um impasse político afetou o repasse de R$ 20 milhões para obras desse tipo.
No começo de janeiro, o governo de São Paulo cancelou cerca de 60 convênios firmados com municípios paulistas durante a gestão do ex-governador Márcio França (PSB).
Dentre eles, havia dois para os carapicuíbanos no valor de R$ 10 milhões cada. Durante a eleição de 2018, França foi apoiado pelo prefeito Marcos Neves (PV).
O Governo do Estado nega que os cancelamentos tenham viés político. A administração de João Doria (PSDB) afirma que anulou os repasses devido a falta de requisitos técnicos e detalhamento de fontes de receita.
O município mais afetado foi São Vicente, cidade natal de França, com repasses previstos de R$ 47 milhões. Na sequência, aparecem Carapicuíba e Guarulhos, com R$ 20 mi cada. No total, todos os convênios somavam R$ 158 milhões.
ENVIO PARCIAL
De acordo com a prefeitura de Carapicuíba, os repasses cancelados foram protocolados em junho de 2018 e confirmadas no final do ano por causa do período eleitoral.
A prefeitura diz que cumpriu as solicitações e documentações necessárias e que parte dos investimentos já foi recebida. Questionada sobre esse repasse parcial e a utilização da verba, a gestão não respondeu.
Segundo o Portal da Transparência do Governo do Estado, R$ 4 milhões foram encaminhados pela gestão França em 28 de dezembro, três dias antes do fim do mandato. A cidade também recebeu mais R$ 3 milhões de outros convênios para pavimentação, e R$ 3,6 mi para obras de infraestrutura urbana.
O governo estadual afirma que será feita uma avaliação de obra por obra para retomar os convênios. “O governo irá de forma transparente trabalhar em conjunto com as prefeituras, analisar os pleitos municipais e a partir de critérios técnicos realizar a liberação de recursos de acordo com a disponibilidade orçamentária do estado”.
ASFALTO
Além do problema dos buracos, Carapicuíba também é um polo de congestionamento. Com saídas para o Rodoanel Mário Covas e para a rodovia Castello Branco, a cidade tem um trânsito movimentado.
De acordo com a prefeitura, cerca de 50% do tráfego de veículos é proveniente de pessoas de outras cidades. O município é também opção de acesso para quem vai para Alphaville, em Barueri, onde há um polo empresarial.
Os repasses que viriam do governo estadual seriam gastos justamente em obras de recapeamento e duplicação de vias. Porém, os documentos não dizem quais ruas e avenidas receberiam as melhorias.
A prefeitura se limitou a dizer que as vias que tiverem a massa asfáltica em piores condições serão contempladas.
Enquanto isso, a situação segue com problemas para moradores. A assistente de administração Débora Oliveira, 23, teve complicações no escapamento. A moradora dirige há apenas um ano e recentemente comprou o primeiro carro.
Ela diz que é preciso investir na pavimentação. “A situação [do asfalto] aqui péssima, um descaso com os motoristas”, comenta.
Para o supervisor de suporte Gabriel Mendes Silva, 23, a condição do asfalto não é o pior problema da cidade. “Claro que em alguns pontos você consegue encontrar buracos, mas é algo que ainda é transitável”, diz o morador do Jardim Ercy.
Para ele, é necessário parcerias para a cidade receber verbas para outros serviços. “Saúde e segurança, principalmente, são pontos que precisam de mais atenção”, complementa.
Ana Beatriz Felicio é correspondente de Carapicuíba
anabeatrizfelicio@agenciamural.org.br
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Carapicuíba é uma cidade que não consegue se manter. Menos de 600milhoes de arrecadação e população que passa dos 400mil. Mal tem dinheiro pra bancar o desenvolvimento da cidade e ainda depende de repasses do governo pra não “ficar na mão”. Se for falar pra desenvolver a indústria na cidade (que é o setor que mais paga impostos),, é impossível pois é só olhar no mapa, não existe mais espaço pra nada. Ao contrário dos outros municípios onde sobra área para novos e grandiosos empreendimentos, como Itapevi, Jandira, Cotia, Barueri, Santana de Parnaíba. Quando vão se convencer de que a cidade precisa ser dividida entre os municípios vizinhos?