Em Franco da Rocha, população faz ‘vaquinha’ para melhorar estradas
Micaela dos Santos
Na semana passada, a dona de casa Kelly Jordão, 46, não pôde levar os filhos à escola na primeira semana de aulas em Franco da Rocha, na Grande São Paulo. Já o motorista Carlos Alberto de Souza Júnior, 40, precisou da ajuda de vizinhos e até de um trator para retirar o carro que atolou na estrada enquanto voltava do trabalho.
Embora as fortes chuvas que atingiram Franco da Rocha durante a semana tenham causado estragos e pontos de alagamentos em alguns bairros, situações como essas são comuns na região do Mato Dentro, zona rural da cidade, a cerca de 5 km do centro do município.
No sábado (9), moradores da região se reuniram para discutir como fazer a reparação das estradas danificadas após temporais que deixaram famílias ilhadas. No início da semana, crianças tiveram que faltar às aulas e um ônibus atolou na lama, deixando os residentes sem transporte público para entrar ou sair do bairro.
Sem o auxílio da prefeitura, os moradores decidiram organizar uma ‘vaquinha’ para a manutenção dos pontos mais críticos das estradas.
O dinheiro arrecadado será usado para a compra de material reciclado de sobras de pavimentos e comum em projetos de restauração de ruas. Além das estradas, eles também avaliam instalar câmeras de segurança em pontos estratégicos dos bairros, por conta de assaltos na região.
Quem organiza as reuniões e direciona as ações em favor dos bairros, desde abaixo-assinados até o envio de ofícios à prefeitura, é a gerente administrativa Patrícia Wolfmann, 54.
Dona de um depósito de materiais para construção, Wolfmann decidiu mobilizar os moradores após consertar, com a ajuda dos funcionários e recursos da própria loja, parte da estrada danificada após a formação de uma cratera em 2017. “Resolvi promover reuniões para que todos possam buscar seus direitos e se ajudar”, explica.
Patrícia também criou um fundo para receber as doações dos vizinhos. Os valores necessários para pagar as iniciativas são divididos entre os moradores que depositam as quantias de maneira voluntária.
O presidente do Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) de Franco da Rocha, João Miguel Gasparim, ressalta que a iniciativa é bem-vinda, mas que o conselho deve recorrer às autoridades para solucionar o problema.
“A prioridade é acionar os órgãos estaduais e municipais competentes para que sejam feitos os reparos necessários nos locais mais afetados”, afirma. “Caso os moradores queiram se unir para viabilizar obras, vamos orientá-los para que sigam todos os procedimentos de forma legal”.
MATO DENTRO
A região, que também abrange os bairros Jardim Sinki, Campos São Benedito, Valos e Vargem Grande, é composta por áreas de uso rural, condomínios em chácaras e zona de interesse ambiental, de acordo com o plano diretor do município.
As principais vias que cortam o Mato Dentro, a Estrada da Vargem Grande e Miguel João Ortiz, geram dor de cabeça para os moradores da região. Juntas, somam cerca de 12 km de extensão de uma estrada vicinal sem asfaltamento e que fica intrasitável em períodos de chuva.
Mãe de quatro filhos, a dona de casa Vanderlete Rodrigues, 42, não conseguiu levar a filha que tem paralisia cerebral em uma consulta médica agendada no Hospital das Clínicas, na região central de São Paulo. “Meus filhos estão perdendo aulas e consultas médicas porque é quase impossível sair do bairro quando chove”, conta Vanderlete.
As más condições das estradas também prejudicam o acesso de ambulâncias e viaturas policiais nos bairros quando há ocorrências. “Aqui, não tem meio termo: ou ‘comemos’ poeira quando faz sol, ou ‘comemos’ lama quando chove”, desabafa Patrícia.
Outros problemas comuns na região são as quedas de energia nos poucos postes de iluminação pública instalados nos bairros, além da falta de sinal para celulares. “Sofremos as consequências de morar em uma zona rural, mas com as necessidades de qualquer outra região urbana. É inadmissível não termos sinal de celular e coleta de lixo regular, por exemplo”, conclui.
Procurada, a prefeitura de Franco da Rocha afirma que a região do Mato Dentro passou por um aumento populacional nas últimas décadas que resultaram em divisões irregulares de terras sem a aprovação da administração.
A gestão alega que desde 2013 intensificou a fiscalização para evitar novas ocupações irregulares e solucionar as que já existem para preservar as características de zoneamento estabelecidas pelo plano diretor.
Em relação à pavimentação das vias, a prefeitura informou que a ação “representa um investimento alto demais” para o município.
Além disso, as obras não poderiam ser realizadas sem o investimento do Governo do Estado por se tratar de uma estrada que segue em outra cidade vizinha, Mairiporã. A administração também ressaltou que as vias recebem manutenção regular por parte da prefeitura, mas que não há previsão para urbanizar o local.
Micaela dos Santos é correspondente de Franco da Rocha
micaelasantos@agenciamural.org.br
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No bairro Vila Amália, mais conhecido como Cruz do Raul, os moradores estão se unindo para recolher dinheiro para “agradecer” um morador que cansado de esperar pelos serviços da Prefeitura, capinou o mato do escadão e da Praça da Cruz. Que isso não vire rotina, pois pagamos os nossos impostos e a Prefeitura tem que arcar com sua obrigação, principalmente para manter a limpeza de áreas públicas.
A prefeitura de Franco da Rocha só se preocupa com o centro da cidade, bairros distantes mais de 4 quilômetros como o lago azul alto estão abandonados pelo prefeito, ônibus a 4.60, ruas esburacadas, encrateradas mesmo Veja a Av arco íris só buracos.