Jota.pê lança canção e vê bom momento para negros na música
Lucas Veloso
João estava compondo uma música em casa. Fez alguns versos, mas não gostou e decidiu jogar bola. Foi impedido pelo pai, que viu a letra e mandou o menino terminar, pois só assim seria liberado para o futebol.
Assim é a história da música Beija-flor, a canção de maior sucesso de João Paulo Gomes da Silva, 26, o Jota.pê. Nascido e criado no Parque Continental, em Osasco, na Grande São Paulo, ele lançou, na semana passada, seu novo single: Errata Perfeita.
Há quatro anos, o cantor trabalha exclusivamente como músico. Aos 10, começou a tocar violão e, aos 14, surgiram as primeiras composições. Lançou alguns clipes na internet, por insistência de amigos.
Com o material na internet, uma escola de forró de Belo Horizonte (MG) começou a usar as músicas dele na escola, e assim também ele deu os primeiros passos para fora de sua cidade.
Seguir a carreira, contudo, nem sempre esteve nos planos. “Lutei contra viver de música, porque sempre ouvi a história ‘não se ganha grana com isso’. E assim, insisti com outras coisas, como designer”, relembra.
“No fim, decidi pela música, já que chegou a um nível de seriedade que atrapalhava o resto das coisas na minha vida.”
Em 2015, Jota.pê lançou o primeiro trabalho autoral: “Crônicas de um Sonhador”. Na época, ainda tinha dificuldades para entender as possibilidades dentro do universo musical, como a produção e atuação em eventos.
Dois anos depois, a carreira ganhou maior alcance. Foi selecionado para a sexta temporada do programa The Voice Brasil, da TV Globo, onde foi orientado pelo cantor Lulu Santos. Por lá, ficou cerca de três meses, sendo um dos últimos a sair da atração.
Com a experiência, se aproximou de profissionais do mercado musical brasileiro. “Antes, achava tudo combinado lá dentro, mas depois eu conheci tanta gente boa e fiz tantas amizades e parcerias, que mudaram a minha vida. Inclusive, foi depois do programa, a ideia do novo disco”.
O single Errata Perfeita tem letra da cantora Camila Brasil, que conheceu em um evento musical. Depois, se encontraram para fazer a música, e foi quando ele pediu para gravar a canção e teve aprovação.
“Sempre gostei pela intensidade. Foi escolhido para ser o primeiro single por causa da sonoridade, por ser diferente do que já fiz”, define Jota.pê. Na música, une MPB a guitarra e eletrônicos.
O lançamento faz parte de um projeto maior: o segundo disco, chamado Garoa. Por isso, compôs novas músicas, além de resgatar outras guardadas. No trabalho, além de testar novos balanços e musicalidade que não tinha gravado antes, queria deixar claro que apesar dos problemas diários do cotidiano, ter fé nos sonhos é o que mais importa.
O nome veio depois de assistir ao documentário Human, onde uma senhora chamada Maria Lindalva, do interior do Ceará, relatou como a vida era feliz, mesmo com a chuva que caía no acampamento que ocupava e molhava seus pertences.
“‘Garoa’ veio porque era hora de falar das dificuldades, mas de uma forma positiva no fim. Descobri que meu lance é dar força pras pessoas. Ninguém vai conseguir mudar o mundo triste, diz minha amiga Anna Tréa, e nisso eu acredito muito”, confessa.
Apesar da carreira ascendente, o músico reconhece que a falta de oportunidades impede que outros artistas também sejam favorecidos na carreira. “Vi gente desistindo do seu trabalho porque no dia seguinte tem que ter pão na mesa”, resume.
Ainda assim, elege alguns amigos ‘da cena preta’, como ele próprio diz, admirados, mesmo com as dificuldades, como a baiana Indy Naíse e a cantora Bia Ferreira. “Ela fala das questões sociais em tudo que canta”.
Lucas Veloso é correspondente de Guaianases
lucasveloso@agenciamural.org.br
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