Grupo Varanda retoma roda de samba no Itaim Paulista após 20 anos
“Olha o saco de bolacha quem vai querer?
Tenho doce e cocada que é pra vender,
E na próxima parada eu vou descer,
Tô fugindo dos home porque tenho fome e preciso viver”.
É com a composição ‘Moleque de Trem’, criada há 36 anos, que integrantes do grupo Varanda chamam sambistas e moradores para participar de rodas de samba no Itaim Paulista, na zona leste de São Paulo.
A canção, que pode facilmente remeter aos dias de hoje, é uma composição dos músicos Beto Guilherme e Márcio Alves Goulart, e foi o ponto alto do grupo. Em 1987, ela foi apresentada na TV, no extinto quadro Cidade x Cidade, apresentado por Gugu Liberato no SBT.
No programa, eles representaram Ferraz de Vasconcelos, município da Grande São Paulo. No final do quadro, venceram a cidade de Avaré e conquistaram uma ambulância de prêmio para Ferraz.
Dez anos depois, o grupo acabou por dificuldades financeiras. A separação durou até janeiro deste ano, quando os sambistas retornaram com um projeto chamado ‘Samba de Verão’.
“A ideia da roda é conhecer o samba da periferia, valorizar quem faz, trocar experiências e animar as tardes dos moradores que gostam do estilo musical”, conta Luiz Celsio, 60, componente do Varanda, mais conhecido como Sorriso.
Além de Ferraz, os componentes são do Itaim Paulista, Penha e Ermelino Matarazzo, na zona leste da capital.
A iniciativa de criar o projeto ‘Samba de Verão’ surgiu de Edgar Goulart, 29, e Jadir Alves Goulart, 52, mais conhecido como Didi, um dos criadores do grupo.
“Em conversa com meu sobrinho Edgar, pensamos em como poderíamos nos alimentar de mais samba na região. Estamos nos fortalecendo pouco a pouco e já pensamos em montar um projeto para conseguir fomento”, alega Didi.
No repertório, além das músicas autorais que retratam o cotidiano das periferias, há Zeca Pagodinho, Dona Ivone Lara, Cartola, Fundo de Quintal, Benito di Paula, Almir Guineto e Beth Carvalho.
Segundo os sambistas, conciliar a vida profissional com a roda de samba é um dos desafios de realizar a ação no bairro. Atualmente, Jadir Goulart trabalha como frentista, Marcelo Goulart, em uma pizzaria, Márcio Goulart é segurança e Carlos Roberto é aposentado.
O objetivo do grupo é que a periodicidade dos encontros seja uma vez ao mês. “Ainda sem local fixo para a roda, queremos que os encontros sejam em diversos lugares, públicos ou privados, recebendo diversos sambistas da periferia”, conta Sorriso.
HISTÓRIA
A primeira geração do Varanda começou em 1980. Criado pelos irmãos Jadir Alves Goulart, Marcelo Alves Goulart, Márcio Alves Goulart e o amigo Beto Guilherme, eles chamaram Sorriso para ser o ritmista do grupo. “Eu já tocava na noite antes de conhecê-lo. Eles me viram tocando e me chamaram para participar”, lembra.
Para ensaiar o repertório e sem recursos para usar um estúdio, o grupo usava a casa de um amigo na Vila Alabama, no distrito do Itaim Paulista, zona leste. Após nove anos de ensaios, o Varanda conseguiu, em troca de parcerias, gravar o primeiro LP: ‘Pagode Pra Valer’.
Na foto do disco, os integrantes estão na varanda da Capela de São Miguel do Arcanjo – conhecida popularmente como Capela dos Índios, templo religioso mais antigo do estado de São Paulo.
Por outro lado, o nome varanda foi escolhido, porque eram onde ensaiavam na casa de Didi e por não querer algo que remetesse apenas ao samba.
Depois do disco, foram quase dez anos de jornada até 1998, quando cada um tomou um rumo na carreira.
“Foi muito difícil o término, tantos anos juntos. Mas precisávamos seguir em busca de novos horizontes. Cada um partiu em busca do seu sustento e também de fazer música como podia”, afirma Sorriso que foi o único que continuou trabalhando com música profissionalmente.
Segundo os participantes, a volta do grupo com a ação ‘Samba de Verão’ será mais fácil graças à internet. “Antes era muito difícil produzir um vídeo, hoje há lives”. O próximo show confirmado é em abril no espaço Alabama, no Itaim Paulista.
“Antes convidávamos no boca a boca, ou colocávamos na rádio sobre um evento. Agora, mandamos um convite no telefone de cada pessoa e ela já fica sabendo de tudo. Estamos confiantes que a ação vai dar certo”, conta Didi.
Danielle Lobato é correspondente do Itaim Paulista
daniellelobato@agenciamural.org.br
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