Periferias não conseguem transporte para ir trabalhar nesta segunda
As chuvas da noite deste domingo (10) e na madrugada desta segunda-feira (11) complicaram a vida de quem depende do transporte público nesta manhã nas periferias da capital e na Grande São Paulo.
O volume grande do temporal chegou aos principais rios da região como o Tamanduateí, que transbordou e afetou o nível do Rio Tietê.
“Moro em Heliópolis [na zona sul], acordei e fui para a estrada das Lágrimas pegar o ônibus para ir ao trabalho, no Paraíso. Quando cheguei no ponto, vi que estava muito cheio. Lá fui informada de que os coletivos não estavam passando, pois a garagem estava alagada”, conta a analista de comunicação Renata Nascimento, 31.
As regiões mais afetadas por alagamentos foram as cidades de São Bernardo, Santo André, São Caetano do Sul, Mauá, no ABC paulista. Segundo o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), a chuva chegou até 184mm na Vila João Ramalho, em Santo André, quantidade prevista para o mês inteiro.
Situação parecida ocorreu em São Bernardo do Campo, em que bairros onde não havia enchentes tiveram problemas nesta manhã.
“Muito triste o que está rolando por aqui em São Bernardo. No nosso bairro mesmo, as pessoas perderam tudo. Houve alagamento até o teto dessas casas. Ouvi dizer que houve mortes em deslizamentos na cidade”, diz Aline Davi, 41, moradora de Rudge Ramos. Sete pessoas morreram nesta manhã, uma em São Bernardo, quatro em Ribeirão Pires e duas em São Paulo.
A cidade teve transbordamentos inclusive em bairros com piscinões. Houve pontos de alagamento na Vila São Pedro, na rua Jurubatuba, e no centro.
A circulação de trens da linha 10-turqueza (Brás – Rio Grande da Serra) foi interrompida e não há previsão de normalização. Vários moradores desistiram de ir ao trabalho, impedidos de chegar a capital com o problema.
Foi o caso de Eduardo Batista do Santos, 23, que mora em Mauá e faz estágio de engenharia próximo ao shopping Morumbi. “Não consegui passar da estação Santo André”, conta. “Toda a parte subterrânea da estação Santo André estava com água, não tinha como trafegar da estação leste para a oeste. Voltei com mesmo ônibus intermunicipal 157. Nessa tentativa, levei duas horas”, diz.
As aulas na Universidade Federal do ABC foram canceladas nos dois campus, em São Bernardo e Santo André.
CAPITAL
Professora de educação infantil, Luciana Carvalho, 32, não conseguiu sair para o trabalho nesta manhã. A rua Dom Bosco, em que mora, amanheceu alagada e permaneceu cheia até às 6h30.
“Impossível sair de casa assim. Quando a água abaixou já era cerca de 10h. Agora já perdi o dia porque trabalho até o 12h30. Eu posso pedir para abonar o dia, mas é uma concessão, a diretora pode dar ou não. Ela não é obrigada”, reclama a professora, que vive na Mooca, zona leste.
“Moro há seis anos aqui e á a primeira vez que vejo a rua assim alagada. Isso nunca tinha acontecido antes. O porteiro disse que à noite foi pior, a água chegou na altura dos capôs dos carros”, completa.
Ainda na zona leste, a Avenida Aricanduva teve boa parte de sua extensão alagada neste domingo por volta das 22h30. A extensão sentido Cidade Tiradentes teve alagamentos e a via Ragueb Choffi, também sentido Cidade Tiradentes, tinha diversos pontos intransitáveis.
Um deles com água barrenta de um rio que transbordou. Motoristas tiveram de circular na contramão para fugir do problema.
No Expresso Cidade Tiradentes, que liga o Parque Dom Pedro a Vila Prudente, a situação ficou tensa por volta das 22h30. Com a avenida do Estado alagada, o motorista não conseguiu chegar ao ponto final, na avenida Inácio de Anhaia Mello, e precisou manobrar de ré, para desviar do problema. Moradores ficaram seis horas dentro do coletivo e uma pessoa quebrou um vidro para sair do ônibus.
O motorista contornou a situação e tomou uma nova rota em direção ao Terminal São Mateus, quando chegou por volta das 4h.
A assistente fiscal Flávia Lima, 24, mora em Guaianases, na zona leste. Ela conseguiu chegar até a Barra Funda, mas os ônibus não estavam saindo. “Mesmo tendo três opções de lotação, que posso pegar para chegar no serviço, não tinha nenhuma no terminal que estava praticamente vazio. Decidi ir andando, uma caminhada de aproximadamente 25 minutos.”
METRÔ TUCURUVI
Devido as fortes chuvas, os usuários do ônibus municipal linha 105 – Jardim Moreira (Guarulhos) já se preparavam para permanecer mais do que o programado pela EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo), sendo até 60 minutos para à chegada ao destino final, o metrô Tucuruvi, em São Paulo.
“Embarquei no coletivo pontualmente às 6h59 e ao chegar na estação Tucuruvi (Linha 1) às 8h28, 1h30 depois do esperado, dei de cara não só com a estação lotada, mas também com uma estratégia de bloqueio na entrada por medidas de segurança, segundo o anúncio do metrô de São Paulo no Twitter”, relata Jéssica Souza, correspondente de Guarulhos.
Ainda no Twitter, o metrô de São Paulo se manifestou, às 6h04, alegando que: “A linha 1-Azul estava com a circulação dos trens sendo normalizada”.
MAIRIPORÃ
A chuva atrapalhou também regiões que não tiveram uma quantidade tão alta de água. Em Mairiporã, na Grande São Paulo, a chuva veio mais fraca e a cidade não registrou alagamentos ou deslizamentos.
Porém, desde cedo vários ônibus que saíram de Mairiporã ficaram presos no congestionamento na Marginal Tietê, que esteve interditada desde a madrugada.
Veículos das linhas 240, 187 e 566 da EMTU, que saíram antes das 6h, permaneciam parados na via mais de três horas depois com passageiros dentro.
Por conta disso estas linhas deixaram de circular a partir das 7h50, forçando a população a seguir em outros ônibus em direção ao Tucuruvi e Parada Inglesa. Estes coletivos estão saindo lotados e com intervalos maiores.
MOGI DAS CRUZES
No Alto Tietê, o receio é outro. Nas últimas semanas, informações sobre o limite da represa Jundiaí, situada em Mogi das Cruzes, tem levado moradores de vários bairros a se preocuparem. Na madrugada desta segunda-feira (11), a Sabesp e o DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), enviaram um comunicado de que a represa encontra-se em estado de alerta.
“Caso permaneçam as chuvas nas próximas hora na Bacia do Jundiaí (o índice pluviométrico das últimas 5 horas atingiu 150mmo) há previsão de em 12 horas atingir a cota máxima e com isso poderá haver vertimento de água excedente represada na barragem Jundiaí”. Vertimento é quando há o escoamento de água excedente para evitar dano estrutural.
A situação pode afetar os bairros mogianos como Jardim Santos Dumont 2º, Jardim Santos Dumont 3º, Jardim Aeroporto 2º, Jardim Aeroporto 1º, Jundiapeba, Oropó, entre outros junto a várzea do Rio.
Além disso, moradores da região rural de Mogi relatam que a quantidade de água afetou as plantações de hortaliças no distrito de Jundiapeba.
Ana Beatriz Felicio, Giacomo Vicenzo, Humberto Muller, Jariza Rugiano, Jéssica Silva, Jéssica Souza, Laiza Lopes, Leonardo Barbeiro, Lucas Landin, Lucas Veloso, Kátia Flora, Karol Coelho e Vagner Vital
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