Eleição fora de época define novo prefeito de Cajamar
Betiane Silva
Município da Grande São Paulo, Cajamar teve um carnaval diferente. Além do clima de festa, uma disputa eleitoral para comandar a prefeitura movimentou os bairros da cidade.
Marcada para o próximo domingo (17), a nova eleição foi determinada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), após a cassação da prefeita Paula Ribas (PSB) e da vice Dalete de Oliveira (PC do B).
Oito candidatos têm buscado convencer uma população descrente com a constante mudança de prefeitos – foram 13 trocas em seis anos. Atualmente, Saulo Rodrigues (PSD), presidente da câmara dos vereadores, governa interinamente.
Concorrem na eleição suplementar Danilo Joan (PSD), candidato que ficou em segundo lugar em 2016; Eurico Missé (DEM), vereador que foi prefeito interino até o final de 2018; e o ex-prefeito Messias Candido (PSDB), que governou entre 1993 e 1996, e entre 2002 e 2008.
Também estão na corrida Francisco Thainan (PSOL), Vaguinho (PSL) e Shima Gás (PSC). Fecham a lista Alexandre Lima (Patri) e Tunico Azevedo (DC).
Lima teve a candidatura barrada pela Justiça Eleitoral, mas conseguiu reverter a decisão no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) e pode concorrer. Já Tunico segue com o registro indeferido e terá os votos considerados nulos caso não consigam reverter a decisão judicial.
DESCONHECIMENTO E SAÚDE
Apesar da quantidade de políticos na disputa, o desafio de informar o eleitorado não tem sido fácil. Além das passeatas, os candidatos estão utilizando carros de som, panfletos e as redes sociais. Vivem 72 mil habitantes na cidade.
Moradora do bairro Fazenda Velha, no km 42 da rodovia Anhanguera, Sônia Oliveira Silva não sabia que haveria eleição no próximo dia 17. Para ela, as próximas eleições municipais só seriam em outubro de 2020.
Ela tem uma filha que precisa passar no médico para renovar a receita de um remédio que toma regularmente. “Preciso passar a minha filha no psiquiatra e a vaga dela está no número 100, marquei a consulta em janeiro e estou esperando a quase dois meses para pegar o remédio e renovar a receita”, explica.
A reclamação de Sônia acompanha a de boa parte dos moradores ouvidos pela Agência Mural. A situação da saúde foi a mencionada como principal problema a ser resolvido pelo prefeito que assumir o mandato tampão. Há uma obra parada e falta de médicos.
Localizado na avenida Dr. Antônio João Abdala, no bairro Vila União, a obra de um hospital foi abandonada. Há apenas o esqueleto do prédio. Todos os candidatos prometeram concluir a obra.
“Eles começaram um hospital aqui, só colocaram o esqueleto. Cadê o hospital? Só está a carcaça. Não tem mais condição de fazer nada, porque os ferros estão todos enferrujados”, afirma o ajudante geral Domingos Correa Lima, 58.
O operador de máquinas Kelvin Gonçalves, 27, diz que não tem interesse em ver as propostas dos candidatos porque não acredita que alguma coisa irá mudar. “Eu não vou votar nem em branco. Não vou perder meu tempo”, afirma.
Morador do bairro Gato Preto, Gonçalves conta que muitos bairros não têm ruas com asfalto, enquanto outros sofrem com alagamentos. Mas reforça a falta da qualidade nos serviços de saúde.
“Minha esposa está grávida e estamos fazendo todos os exames e consultas nos hospitais públicos da cidade de Jundiaí”, explica.
Desempregado, Fernandes Felix, 51, espera por uma cirurgia de hérnia umbilical e não tem previsão de quando será operado. “Vai fazer um ano que estou correndo atrás [da cirurgia] e nada. Exame eu até pago, aí chego no hospital, mandam esperar e nunca chamam. Conheço gente que tem dois anos pra fazer operação e não consegue”, lamenta.
TRANSPORTE
Outro setor que atrai críticas é o transporte. “O ônibus que utilizamos é muito caro, não tem meia passagem igual a linha do Lapa [que cobra por distância]. A gente precisa de uma passagem de ônibus ”, comenta Sônia Oliveira.
A tarifa está em R$ 4,60, mas onde Sônia mora não tem ônibus municipal. Os moradores dos bairros próximos à rodovia Anhanguera só têm duas opções: o Lapa e o Jundiaí. Porém a linha Lapa só faz o trajeto em um sentido da rodovia, sobrando apenas a Linha Jundiaí, que cobra R$ 5 na passagem.
Antônio da Conceição dos Santos, 49, é ajudante geral em uma terceirizada da subprefeitura de Jordanésia, bairro de Cajamar, e vai trabalhar todos os dias de bicicleta. “Se tivesse que pagar a passagem todos dias, o salário ia embora porque tem que pagar tudo de condução”, explica.
Outro problema apontado por Santos, que vive no bairro Fazenda Velha, é a falta de uma passarela na Anhanguera para as pessoas do bairro poderem atravessar a rodovia. Há somente uma via para pedestres no km 43.
Ele aponta as contantes trocas como motivo para a falta de novas ações na cidade.
“Ninguém sabe quem é o prefeito. Quem está na prefeitura? Ninguém sabe. Eu queria um prefeito bom para organizar as coisas”, finaliza.
Cajamar tem R$ 500 milhões por ano de orçamento e o novo gestor terá um ano e nove meses de mandato.
Entre as propostas dos candidatos, estão reforma e manutenção de escolas municipais, reforma e modernização de hospitais, revitalização de espaços públicos, modernização de postos da Guarda Civil Municipal, implantação da delegacia da mulher, construção de moradias populares e a integração de ônibus municipais.
Betiane Silva é correspondente de Franco da Rocha
betianebatista@agenciamural.org.br
Erramos: o texto foi alterado
O candidato Alexandre Lima (Patri) está com o registro deferido para disputar a eleição, diferente do informado inicialmente. No site de divulgação das candidaturas ainda consta "indeferido com recurso", mas o candidato teve registro aprovado pelo Tribunal Regional Eleitoral, na terça-feira (12).