Raios queimam aparelhos na zona leste e reembolso tem processo burocrático

Raquel Porto

A casa da costureira Cícera Eliana dos Santos, 45, já foi atingida por raios por, pelo menos, quatro vezes. Ela vive no Jardim Marília, no distrito de Cidade Líder, zona leste da capital, onde os transtornos após chuvas têm se tornado comuns.

A família teve televisores, geladeira, aparelho de DVD e chuveiro queimados pelas descargas elétricas, além da queda de uma árvore que havia em frente à residência. “A minha casa fica desprotegida, pois é no meio de um descampado”, diz.

A realidade vivida por Cícera na rua Pão de Açúcar foi semelhante a de outras duas moradoras vizinhas que também tiveram prejuízos nos últimos anos.

Há casos de moradores que tiveram televisores queimados, mesmo fora da tomada, afirma o técnico de televisão Luiz Roberto do Nascimento, 62.

“A descarga elétrica percorre os cabos [que ligam a antena à TV], entra no aparelho e queima a placa principal”.

O que muitos moradores não sabem é que podem ser ressarcidos pela perda de alguns aparelhos eletrônicos. No entanto, a burocracia para reaver costuma ser um impeditivo.

Rua Pão de Açúcar fica perto de um descampado (Raquel Porto/Agência Mural)

Para recuperar a televisão e a geladeira queimados em 2015, Cícera precisou entrar em contato com a Eletropaulo e foi orientada a ir até uma assistência técnica para fazer a avaliação do aparelho.

Em seguida, com o laudo técnico, ela teve de ir a um posto físico da empresa que, posteriormente, pagou a indenização no valor de aproximadamente R$ 960. Após a entrega do documento, a empresa levou em torno de sete dias úteis para o efetuar o pagamento.

A vizinha Lúcia Fátima Almeida da Silva, 58, também teve a geladeira e a televisão queimados após uma queda de energia num dia de forte chuva. No caso da costureira Maria Aparecida Alves da Silva de Lima, 54, ela perdeu uma televisão.

Maria Aparecida buscou a indenização, porém não pôde passar por todos os processos já que não tinha mais a nota fiscal do aparelho. Lúcia, no entanto, foi ressarcida. Recebeu o valor aproximado de R$ 750 pela geladeira e R$ 1.200 pela televisão.

“Agora quando chove eu tiro tudo da tomada, mas também começamos a usar um aparelho, que parece um transformador, e que ajuda a prevenir contra os raios”, diz Maria.   

A Enel, empresa que assumiu o serviço de energia elétrica, afirma que modificou o atendimento para esse tipo de ocorrência.

Ela afirma que precisa primeiramente das informações sobre a marca, o modelo do aparelho e a data do ocorrido. Depois, um técnico vai até a casa ou estabelecimento fazer a avaliação e, em dez dias úteis, o proprietário tem a resposta da aprovação ou não do pagamento da indenização.

A marca que o raio deixou em 2015 (Acervo Pessoal)

PARA-RAIOS

São Paulo é o décimo município no ranking da maior média de concentração de raios por quilômetro quadrado ao ano, segundo o Elat (Grupo de Eletricidade Atmosférica) do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), com quase 14 raios por km². Em primeiro lugar está o município de São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, com 20 por km² ao ano.

Segundo o coordenador do Elat, Osmar Pinto Júnior, a alta incidência de raios ocorre devido ao aumento da urbanização. “Acontece por causa da elevação de temperatura acentuada, as ilhas de calor, e o crescimento da poluição, que é o que gera mais tempestades”, explicou.

Um para-raios pode ser uma solução para evitar boa parte dos transtornos. O aparelho faz com que a descarga elétrica perca força e se dissipe. “Prédios mais baixos e de áreas pequenas precisam de um único para-raios. Já edifícios mais altos costumam ter mais de um”, finalizou Osmar.

A Enel afirmou que não é responsável em instalar esses equipamentos em casas. Caso morador queira ter um, pode adquirir em uma loja de material de construção. No caso de terrenos vazios e sem donos, o cidadão deve procurar a Prefeitura.

Para as pessoas não serem pegas de surpresa, o coordenador da Elat citou algumas regras:

  • Não sair ou permanecer na rua durante as tempestades. Caso não seja possível, o morador deve procurar abrigo em casa ou edifícios, ou em carros não conversíveis e abrigos subterrâneos. Além disso, não deve segurar objetos metálicos longos, como tripés e empinar pipas.
  • Evitar também áreas abertas como campos de futebol e locais descampados, trilhos e locais próximos a árvores isoladas.
  • Dentro de casa, deve evitar usar o telefone com fio ou celular ligado à rede elétrica, ficar próximo de tomadas, canos, janelas ou portas metálicas ou tocar em qualquer equipamento elétrico ligado na tomada.
  • Se estiver em locais sem abrigo e sentir os pelos arrepiados ou com coceira na pele é importante ficar atento, pois pode ser um indicativo de que um raio está prestes a cair. Neste caso, a pessoa deve se ajoelhar e se curvar para a frente com as mãos nos joelhos e a cabeça entre eles. Em hipótese alguma deve ficar deitado.

Raquel Porto é correspondente de Cidade Líder
raquelporto@agenciamural.org.br

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