Sem passarela, trilhos em Embu-Guaçu têm histórico de acidentes
Rubens Rodrigues
A buzina ensurdecedora avisa que o trem vindo de Santos está próximo. Rapidamente, moradores correm para atravessar a linha que cruza o Cipó, distrito de Embu-Guaçu, na região metropolitana de São Paulo.
A correria tem explicação: a ausência de passarela e a perda de tempo esperando os mais de 50 vagões atravessarem. O problema pode ser maior quando o trem descarrila ou quebra.
A região tem circulação intensa de pedestres e, além do Cipó, moradores dos bairros Granja Regina Maria, Lagoa Grande, Jardim Brasil e ValFlor precisam cruzar a linha. Alguns se arriscam ao pular as composições para cumprir os compromissos.
É o caso da operadora de caixa, Sueli Ferreira, 34, que precisou pular o vagão quando o trem ficou parado cerca de 30 minutos no mês passado. “Minha consulta médica estava marcada fazia três meses, e eu não poderia esperar”.
Ela ainda reclama da passagem de pedestre. “Depois que eles implantaram esse segundo trilho, essa obra prejudicou muito. Semana passada um senhor quase caiu quando descia a rua para atravessá-la, porque tem um buraco enorme bem no meio da passagem”, diz.
Os trilhos que passam por Embu-Guaçu vêm de Santos e vão até o Mato Grosso. São usados para escoar a produção também da região da Alto Sorocabana, no interior de São Paulo.
Além da passarela, a construção de um viaduto no bairro é um outro pedido recorrente dos moradores. Eles protocolaram um documento no gabinete da prefeitura em 6 de junho de 2017.
“Decidimos fazer esse abaixo-assinado porque o povo está cansado de ver acidentes com os moradores, teve gente que já até perdeu as pernas”, diz a psicopedagoga Ruth Hessel, 55, que viu o filho perder um pé em um acidente de trem no ano passado.
VÍTIMAS
Há um ano, a auxiliar de cozinha Sandra Partezani, 40, teve as duas pernas amputadas quando se envolveu em um acidente no local. Ela chegou a ficar 35 dias em coma. De acordo com Sandra, o trem não buzinou e, em um momento de distração, não percebeu ele se aproximar.
“Lembro que aguardava ele [trem] passar, mas quando estava terminando um outro já vinha sentido contrário mas eu não tinha a visão, quando percebi já estava no chão”, relata.
Sandra afirma que não recebeu ajuda da empresa All/Rumo, responsável pela linha férrea. A prefeitura disponibiliza uma ambulância para fazer tratamento em Itapecerica da Serra, cidade vizinha a Embu-Guaçu.
Somente após o acidente, o aviso sonoro foi instalado no local e um segurança da empresa passou a orientar e bloquear a passagem de pedestres e motoristas.
Procurada pela Agência Mural, a ALL/Rumo informou por nota que um portão de bloqueio seria instalado no bairro em fevereiro deste ano para aumentar a segurança da população.
O processo, contudo, não foi concluído. Uma nova passagem foi aberta um pouco a frente para os pedestres e carros transitarem enquanto eles realizam a obra. A empresa diz que a instalação está na fase final.
Questionada sobre a construção de um pontilhão, a ALL/Rumo diz que “as melhorias para otimizar o fluxo na região estão condicionadas à renovação antecipada da Malha Paulista, cujo processo está em análise pelo TCU (Tribunal de Contas da União)”.
NOVOS ACIDENTES
Uma semana após a instalação de um portão para ajudar no fluxo de pedestres, duas vezes a estrutura foi atingida por trens que transitam na região. A primeira ocorrência foi na quinta feira (11). De acordo com a ALL/RUMO o acidente aconteceu por falha humana. Ainda de acordo com a empresa, uma equipe da concessionária esteve no local para avaliar os reparos e danos.
Nesta terça-feira (16), mais uma vez houve uma colisão no local. No momento, nenhum portão está em funcionamento e seguranças orientam a passagem.
Rubens Rodrigues é correspondente de Embu-Guaçu
rubensrodrigues@agenciamural.org.br
Apoie o jornalismo da Mural e ajude a desconstruir os estereótipos sobre as nossas quebradas. Saiba como
VEJA TAMBÉM:
Ônibus em Embu-Guaçu demoram mais com a retirada de cobradores
Cortes no transporte universitário afetam alunos em Embu-Guaçu