Franco da Rocha cria dia para ciclistas, mas tem poucos espaços para pedalar

Micaela Santos

Nas redes sociais, o vereador Emerson Nunes Pereira (PSB) exibe com orgulho uma das mais recentes legislações criadas pela Câmara de Franco da Rocha, na Grande São Paulo. A lei 1391/2019 coloca o dia do “Passeio Ciclístico” como evento oficial do município.

A ideia é incentivar a atividade física e o uso da bicicleta, mas esbarra em um detalhe: pedalar em Franco da Rocha não é das atividades mais seguras.

É praticamente impossível encontrar uma ciclofaixa ou ciclovia no município. Apesar do IBGE listar a cidade como uma das que possui esse tipo de via, a única visível está dentro do parque Benedito Bueno de Morais.

O cenário é semelhante ao de boa parte da região metropolitana, onde 24 das 38 cidades não possuem ciclovia.

Morador do bairro Vila Ramos, o estudante de análise de sistemas Renan Martins, 23, faz estágio em São Paulo e pedala cerca de três quilômetros todos os dias até a estação de trem da CPTM. No trajeto, segundo ele, não há segurança ou sinalização para ciclistas.

Em fevereiro, Renan foi atropelado durante o percurso. “Eu tive que disputar espaço com um carro entre a rua e a calçada, foi quando ele bateu em mim e me derrubou”, conta. Sem ajuda do motorista, ele foi socorrido por outro ciclista que passava pelo local.

Deixar o equipamento guardado em segurança até a volta para casa é outro problema enfrentado por quem opta pela bicicleta.

Localizado na estação de trem da CPTM, o único bicicletário da cidade tem 180 vagas para a média de 240 ciclistas que passam diariamente pelo local. “Preciso chegar cedo para conseguir vaga, se não corro o risco de deixar minha bicicleta do lado de fora e ser roubado”, explica o estudante.

Bicicletário não tem vagas suficientes em Franco da Rocha (Micaela Santos/Agência Mural/Folhapress)

PROJETO

Apesar da falta de espaços para pedalar, o vereador Emerson Nunes (PSB), autor da lei, afirma que o projeto “irá mostrar o potencial que a cidade tem para realizar ações nesse sentido”.

Para ele, a medida deve estimular a utilização da bicicleta e a qualidade de vida dos moradores por meio de exercícios físicos e da educação ambiental, além de promover momentos de lazer e preservar o meio ambiente.

A iniciativa, porém, dividiu opiniões entre o moradores. “Do que adianta uma lei como essa se as ruas estão cheias de buracos e sem segurança?”, questiona a operadora de telemarketing Maria do Socorro, 44.

Já para o estudante de farmacologia Henrique Liciardo, 21, a norma pode ser o primeiro passo para futuras melhorias na infraestrutura em relação ao uso de bikes. “Pelo menos eles estão demonstrando interesse”, afirma.

O líder de operações logísticas Edson Melo, 41, é morador do bairro Pouso Alegre e deixou de usar a bicicleta como transporte depois que passou a trabalhar no período noturno.

Hoje, mesmo usando a magrela exclusivamente para o lazer, ele reclama da falta de espaços. “É um hábito que eu mantenho porque é saudável, mas é complicado até para chegar nos parques onde eu costumo pedalar, pois preciso ir pelo acostamento”, diz.

Entre os principais parques de Franco da Rocha, apenas o Benedito Bueno de Morais possui ciclovia, mas para chegar lá é preciso ir pelo acostamento da Estrada do Governo.

No caso do parque estadual do Juquery, com área que chega até a cidade vizinha de Caieiras, é possível pedalar em uma trilha de terra com 14 km de extensão para a prática do ciclismo.

PREFEITURA

A lei foi sancionada pelo prefeito Kiko Celeguim (PT) em abril.

Procurada pela Agência Mural, a prefeitura informou que o Plano de Mobilidade Urbana, a ser executado nos próximos cinco anos e que está em etapa final de elaboração, contempla iniciativas de incentivo ao ciclismo “ainda que a cidade apresente sérias restrições topográficas nesse sentido”.

Como ações imediatas, a prefeitura afirma que deve concluir ainda este ano uma ciclovia na avenida Giovanni Rinaldi, localizada no bairro Parque Vitória, e a expansão da ciclovia do parque municipal da cidade.

Também estão previstas a ampliação do bicicletário e a instalação de paraciclos, segundo a gestão.

Micaela Santos é correspondente de Franco da Rocha
micaelasantos@agenciamural.org.br

VEJA TAMBÉM:

Em Franco da Rocha, população faz vaquinha para melhorar estradas

Sem ciclovias, Suzano teve 13 mortes em dois anos

Como Juquery criou um estigma para Mairiporã e Franco da Rocha