Campeã da Taça das Favelas, Mineira trabalha com panfletagem nas ruas de SP

Rubens Rodrigues

Ana Karolyna Aparecida de Jesus Ribas, 21, veio morar em São Paulo no ano passado, com objetivo de tentar uma vaga no MPU (Ministério Público da União). No entanto, conseguiu nas últimas semanas a conquista de um outro sonho: jogar futebol.  

“Quando eu ganhava boneca, eu tirava a cabeça dela e brincava de jogar bola”, revela Ana, mais conhecida como Mineira, atacante campeã da Taça das Favelas.

Mineira foi destaque no último sábado (1º) na conquista do torneio. Ela foi autora dos dois gols da vitória do Complexo Casa Verde contra o Paraisópolis em disputa no estádio do Pacaembu.

Natural de Catuti, no interior de Minas Gerais, a atacante começou a viver na Vila Aurora, bairro do distrito da Casa Verde, na zona norte. Veio para São Paulo morar na casa de uma amiga e fazer cursinho preparatório para um concurso público, com objetivo de entrar na área administrativa do MPU.

Desapontada por não ser aprovada, e prestes a voltar para a cidade natal, viu em uma página no Facebook o PS9 (Projeto Social 9), que faz integração de meninas que sonham em ser jogadoras de futebol.

“Pedi uma chance e eles deram. Prometi não decepcioná-los. Os treinadores Dayana e o Luiz costumam dizer que os nossos sonhos também são os sonhos deles. Deixaram eu treinar e estou aqui desde abril de 2018”.

Casa Verde venceu por 2 a 0 o time de Paraisópolis (Jonathan Paixão/Taça das Favelas)

Atualmente, Mineira divide a casa de atleta do PS9 com a zagueira Andressa Castro. Os gastos são custeados pelo clube.

Fora dos treinamentos, ela começou a trabalhar há duas semanas com a entrega de panfletos de uma loja de portões automáticos nos bairros da zona norte.

CAMPANHA

Durante todo o campeonato, Mineira entrou por quatro vezes na seleção da rodada da Taça das Favelas. O desempenho constante a cada partida serviu para esquecer um passado infeliz. Após se consagrar campeã ela desabafou.

“Isso daqui para mim é muito gratificante, pois passei por uma depressão e eu pensei em me matar”, afirmou. A situação se agravou após não ter passado no concurso. “Estar aqui hoje é uma redenção para mim, estou muito feliz, não tem como explicar”.

Todas as terças e quintas Mineira se junta com mais 35 atletas e treinam no campo do São Bento, que fica na região de Santana, na zona norte. O gramado é esburacado e quando chove a lama toma conta e dificulta o trabalho das meninas. A condição não foi motivo para não se dedicar ao futebol.

“Faça chuva ou faça sol, a gente sempre está lá treinando, mas às vezes fica difícil porque é um campo com buracos e quando chove já viu. O que o futebol feminino precisa é de apoio. Falta incentivo”, relata a camisa 19.

A Taça das Favelas reuniu 32 equipes femininas na competição, enquanto no torneio masculino foram 64, com o título para o Parque Santo Antônio. A organização do campeonato premiou com R$ 5.000 os campeões, R$ 3.000 os vices, e R$ 2.000 os terceiros colocados. A artilharia, melhor jogador e melhor treinador foram contemplados com R$ 1.000.

Além de ser campeã, Mineira foi a artilheira do campeonato com seis gols. A boa atuação a anima a manter o sonho em jogar em um time profissional.

Apesar da esperança, ela sabe das dificuldades para conseguir espaço e diz que se não atingir o objetivo, pretende cursar administração ou educação física. 

“Estou lá [em Catuti] quase sempre pra ver minha família, e minha avó sempre pede pra eu ir porque diz que está morrendo de saudades”. Diz estar adaptada a periferia da zona norte e não pretende seguir com a vida na capital. “Para morar [em Minas] pretendo ir quando eu me aposentar”, brinca.”

Rubens Rodrigues é correspondente de Embu-Guaçu
rubensrodrigues@agenciamural.org.br

VEJA TAMBÉM:

Várzea não tem confusões como as da Libertadores, afirmam dirigentes

De um jogo de casados e solteiros, time de Cidade Líder completa 30 anos

Equipe de Cidade Tiradentes leva Super Copa Pioneer