Com 65 anos, banda em Osasco luta para se manter e atrair nova geração
Ariane Costa Gomes
Nesta quinta-feira (13), a cidade de Osasco, na Grande São Paulo, festeja o dia de Santo Antônio. Entre as celebrações está a apresentação de uma Corporação Musical que leva o mesmo nome do padroeiro e é mais antiga que o próprio município.
Todas as sextas-feiras, no prédio da Secretaria de Cultura de Osasco na avenida Visconde de Nova Granada, há ensaios da Corporação Musical Santo Antônio, grupo que completou 65 anos em 2019 e luta para manter a história.
Também conhecida como Banda de Osasco, o grupo foi fundado em 1954 pelo padre Joaquim Macedo, na época pároco da Igreja Matriz de Santo Antônio, quando Osasco ainda era um bairro da cidade de São Paulo. A região só se tornou município em 1962.
A intenção era criar uma banda para participar de eventos religiosos, cívicos e sociais, mas se tornou um dos símbolos da cidade de 700 mil habitantes.
A primeira apresentação foi realizada na própria igreja matriz no dia 25 de janeiro, aniversário da cidade de São Paulo. A partir da ideia, o padre convidou músicos que já conhecia e o grupo foi lançado no dia da apresentação.
“O tenente Lazinho do Exército do 4º RI (Regimento de Infantaria do Exército Brasileiro) foi chamado para reger e formar os músicos. Na época não tinha fardamento, nem nada”, conta Clóvis Gomes, 76, presidente da banda.
Na primeira aparição, os músicos apresentaram-se com fardas do Exército arrumadas pelo maestro. “Quando eu entrei para a banda em 1960 já era uma farda diferente”, relembra Gomes, morador do Vila Yolanda, na zona sul da cidade, e um dos membros mais antigos.
Entrou aos 18 anos para tocar trombone e foi também sargento músico do Exército, onde tocava tuba.
A lista de presença dos ensaios já chegou a contar com 48 músicos. Porém, o número é rotativo e, atualmente, a banda principal conta com 19 participantes. Alguns músicos têm outros compromissos e a participação é voluntária. “Não ganhamos nada com a banda, é o amor pela arte mesmo”, conta Gomes, responsável pela administração e organização da agenda.
Há integrantes de 18 a 77 anos e novos membros são aceitos com frequência. Os interessados devem entrar em contato pelo e-mail e possuir instrumento próprio, uma vez que não há instrumentos para empréstimo durante o ensaio.
A Corporação oferece oficina de musicalização e prática de banda, mas a falta de instrumentos dificulta o acesso.
Outro integrante antigo da banda é o maestro Moacir Carvalho de Oliveira, 77. São 60 anos ao lado no grupo. Entrou para tocar trombone em 1959 quando tinha 17 anos. Também tocava na Banda da Polícia Militar de São Paulo onde chegou a ser Oficial Maestro.
Após se aposentar da banda militar em 1990, passou a ficar integralmente na de Osasco. “Estava lá, mas não deixava aqui. Minha mulher quase comia meu fígado, mas tudo bem”, brinca o morador do bairro Cipava.
Tornou-se auxiliar de maestro e, após a morte do regente, passou a ocupar o cargo de maestro, posição que está há cerca de 25 anos. “Essa banda significa tudo na minha vida. É aqui que tive meus amigos. A maioria já se foi, mas eu continuo aqui. Continuamos lutando para não deixar a peteca cair”, conta Oliveira.
O maestro observa que houve uma diminuição no número de serviços da banda e que com o tempo os investimentos feitos pela prefeitura foram caindo.
Por meio de nota, a Prefeitura de Osasco afirma que reconhece o valor histórico e cultural da banda para a cidade e que o investimento na corporação é feito “por meio do Decreto nº 11.552/2017”. A norma permite o uso sem cobrança do espaço onde atualmente a corporação desenvolve as atividades.
Informa ainda que a banda recebe pelas apresentações por meio do edital de credenciamento de artistas.
Além das apresentações contratadas pela prefeitura, a banda costuma ser chamada para eventos em outras cidades como Pirapora do Bom Jesus, na Grande São Paulo, e Araçariguama, no interior.
NOVA GERAÇÃO
Nos últimos meses, a preocupação com a nova geração de músicos também tem tomado conta do grupo. Nas segundas-feiras, das 19h30 às 21h, a sala de ensaio é usada pela nova geração de músicos que fazem parte do projeto apelidado de “Camerata de Sopros”. Formada há menos de um ano, possui 11 integrantes. A camerata é uma orquestra menor e tem o limite de 15 integrantes.
A ideia surgiu a partir de uma demanda do grupo. Como a banda principal tinha uma formação maior, inviabilizava apresentações em determinados eventos.
“Conversando com o maestro Roberto surgiu a ideia de montar um trabalho num formato menor que trouxesse o retorno às raízes, que era uma banda de coreto com um número menor de integrantes”, conta Rafael Brás, 32, músico profissional e diretor artístico da banda.
A camerata apresenta marchinhas, marchas, maxixes e polcas. “É um trabalho voltado ao resgate da cultura musical do final do século 19 e início do século 20”, conta Roberto Oliveira, 32, maestro da Camerata de Sopros e professor de tuba.
Às quintas das 19h30 às 22h são realizados os ensaios da Orquestra de Sopros, mais um projeto da banda, com 40 músicos.
Entre as músicas que não podem faltar nas apresentações estão “Fascinação”, de Elis Regina, “Chuva de Prata”, de Gal Costa e “Aquarela”, de Toquinho. Há espaço também para músicas mais atuais como “Vou Deixar”, do Skank e “Do seu lado”, do Jota Quest, além do tema do filme “Missão Impossível”.
Entre os desafios da Corporação está difundir a prática de banda na cidade e aumentar a participação feminina.
A flautista Aline Braga, 29, é uma das nove mulheres que fazem parte da banda. Há uma mulher na banda principal, uma na Camerata e sete na Orquestra de Sopros. “É importante essa vivência para mim como musicista, aprender a trabalhar em equipe. Um grupo onde cada um tem a sua voz e a sua importância”, diz Aline.
Ariane Costa Gomes é correspondente de Osasco
arianecosta@agenciamural.org.br
Muito boa a matéria da Banda. Há anos, venho insistindo: PRESTIGIE O MUSICO
EXIJA MUSICA AO VIVO
A musica é um dom divino…………..