Grafiteiros da zona leste de SP apostam no ‘Beco do Hulk’ como ponto turístico
Eduardo Silva
Desde maio, quem passa pela Viela Gildo Lao, em Ermelino Matarazzo, na zona leste de São Paulo, se sente dentro do Universo Cinematográfico Marvel.
Batizado de Beco do Hulk, o espaço possui grafites de personagens como Homem-Aranha, Capitão América, Pantera Negra e O Incrível Hulk, desenhados em um muro de cerca de 200 metros de comprimento.
Os desenhos foram feitos por grafiteiros da zona leste da capital, a pedido da comissão de Festejos de São Miguel Paulista, responsável pelas tintas fornecidas e por conseguir a autorização da Prefeitura.
“Como o filme ‘Vingadores – Ultimato’ estava em evidência, nós fomos procurados para fazer o beco com a temática dos super-heróis”, conta o produtor cultural André França, 39, fundador do CCCU (Coletivo Cultural Cenário Urbano), formado por 11 grafiteiros da zona leste e de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo.
Ao todo, a produção levou duas semanas e contou com o trabalho de quatro membros do coletivo e outros três artistas de Ermelino Matarazzo. Inaugurado durante a 60ª festa de 1º de maio do bairro, também foi entregue uma homenagem ao ex-piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna, na lateral do beco, próximo ao ponto de ônibus da avenida Milene Elias.
Quanto à semelhança com o Beco do Batman, na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo, o grafiteiro Waldir Grisolia, 37, considera que este é um trabalho que retrata a realidade da periferia.
“Eu considero uma ‘extensão’ do Beco do Batman. Se uma pessoa daqui não tem condições de ir até a zona oeste visitar o beco, ela pode usufruir de um espaço turístico semelhante aqui na zona leste”, diz o artista, responsável pelas pinturas do supervilão Thanos, Stan Lee (criador dos personagens da Marvel) e o Hulk, na entrada do beco.
O próximo passo, segundo França, é a captação de recursos financeiros para terminar o outro lado do beco e transformá-lo num espaço de lazer e cultura na região. “Quero deixar os dois lados grafitados com personagens e transformar a via numa galeria a céu aberto para cada vez mais pessoas virem aqui aproveitar o espaço”, finaliza o grafiteiro.
O local, aos poucos, está se popularizando na região. O porteiro Júlio Ferreira, 61, trabalha ao lado do Beco do Hulk e diz ter percebido o aumento no movimento de pessoas passando pela via. “Tem gente de todas as idades vindo aqui tirar fotos”, comenta. “A estética ficou mais bonita. Deu outra vida para o local”.
SINALIZAÇÃO
Apesar da ideia de se tornar uma exposição a céu aberto, o Beco do Hulk ainda enfrenta alguns desafios. No Beco do Batman, desde 2016, o tráfego de carros é proibido para dar mais seguranças aos visitantes. Na zona leste, por enquanto, a situação é diferente.
A Viela Gildo Lao liga a rua Fioravante Lopes Garcia à avenida Milene Elias. Mesmo sinalizada com uma lombada e velocidade máxima de 20 km/h, é grande o número de carros que passam por lá. A região também possui comércios nas proximidades, o que aumenta o fluxo de pessoas e veículos.
De acordo com a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), não há registro, no banco de dados da empresa, sobre a restrição de circulação de veículos na viela.
“É uma via estreita, de aproximadamente 4 metros de largura, sentido único de direção, que não possui acesso aos lotes lindeiros. Até o momento não há pedidos de moradores ou de motoristas para alterar a situação atual”, informa a companhia em nota.
COMO CHEGAR?
O Beco do Hulk fica a 15 minutos da estação Comendador Ermelino, da linha 12-safira da CPTM, e as ruas próximas são atendidas por linhas de ônibus para quem vem das estações Tatuapé, Vila Matilde ou Guilhermina-Esperança da linha 3-Vermelha do Metrô.
Também está próximo à Ocupação Cultural Ermelino Matarazzo, na avenida Paranaguá.
Eduardo Silva é correspondente de São Miguel Paulista
eduardosilva@agenciamural.org.br
VEJA TAMBÉM:
Moradores reformam túnel em São Miguel Paulista e cobram iluminação
Sem ciclovias, moradores da zona leste enfrentam via crucis para pedalar em SP