Professor de geografia, Agnaldo Vidali escreve livro sobre Francisco Morato
A estação Francisco Morato da CPTM está em obras há quase dez anos e funciona de forma improvisada. Mesmo assim, é a ferrovia o coração da cidade. Os trilhos trazem e levam pessoas que cruzam a história do município da Grande São Paulo.
Esta é a cidade narrada por Agnaldo Vidali, 40, em “A História do Município de Francisco Morato: muito além da cidade-dormitório”, lançado neste ano.
Natural de São Paulo, Vidali nasceu no bairro da Vila Mariana, na zona sul da capital, e se mudou para Francisco Morato aos oito meses de idade. Os pais buscavam o sonho da casa própria, mas não queriam ficar longe da capital. Por isso, Francisco Morato foi onde Agnaldo morou por quase toda a vida.
“Este trabalho representa parte de minha gratidão pela cidade em que todos são acolhidos e ninguém é tratado como estrangeiro”, afirma no agradecimento da obra.
O livro tem 82 páginas e faz um registro geográfico e histórico da cidade. Também aborda a situação das oportunidades de emprego, a falta de empresas e as desigualdades na região metropolitana. Foram impressas 100 cópias com distribuição gratuita. O livro também pode ser baixado na internet.
Professor de geografia formado pela USP (Universidade de São Paulo), Vidali conta que a ideia do livro não veio repentinamente. Tudo começou há cerca de 10 anos, por meio de um trabalho de observação para a faculdade. “Lembro da professora falando para observar a cidade, fotografar alguns pontos e buscar uma ligação histórica”, diz.
Vidali descobriu que havia poucos documentos sobre o município. “Eu já estava na USP há uns dois anos, quando veio essa ideia que poderia ser um tema de TCC. Comecei o projeto, lembrando que tinha que observar o cotidiano da cidade, por não ter um registro organizado”, explica.
INÍCIO
Emancipado em 21 de março de 1965, Francisco Morato recebeu este nome em homenagem ao deputado federal e fundador da Ordem dos Advogados de São Paulo, Francisco Antônio de Almeida Morato.
Na origem, o município era um povoado chamado Vila Belém, pertencente a comarca de Franco da Rocha. O local servia de entreposto agrícola e abrigava operários na construção da ferrovia Santos-Jundiaí.
Estima-se que antes da emancipação, a cidade contava com mais ou menos 10 mil habitantes, número que pode ser maior. Como não havia um tabelião no povoado, os nascidos na região eram registrados em Franco da Rocha como cidadãos francorrochenses.
Assim, o número de habitantes moratenses só começou a ser contabilizado na década de 1970 pelo IBGE. A população atual é de cerca de 174 mil habitantes, em 2018.
Natural de Mococa, interior de SP, a merendeira aposentada Carmen Luzia, 77, conta que chegou a Francisco Morato aos três anos, após o pai aceitar uma proposta de emprego para trabalhar em uma fazenda local.
“Era charrete e cavalo. Não tinha carro ou eletricidade e a linha de ferro era a única condução que tinha para os trabalhadores. Normalmente, as pessoas trabalhavam no hospital de Franco da Rocha [Hospital Juqueri], na estrada de ferro ou em casa de família em outras cidades”, conta.
A estrada de ferro, construída para transportar o café do oeste paulista até Santos, foi essencial para o crescimento e urbanização do município. “Morato é o que é hoje por conta da ferrovia. Se estabeleceu por conta dela e muitas pessoas usufruem disso para permanecer [na cidade]”, explica Vidali.
Inaugurada em 1867, a antiga estação Belém era apenas um barracão com alpendre que recebeu a primeira reforma e ampliação entre os anos de 1880 e 1890.
Em 1954, a estação troca de nome e passa a se chamar Francisco Morato. Atualmente, a antiga estação, reformada em 1982, está desativada para dar espaço ao novo prédio, em obras desde 2009.
Ao constatar a importância da linha férrea para Francisco Morato, Vidali escreve a monografia com o eixo central na temática da ferrovia. “Em 2009, quando apresentei o trabalho, disseram que isso poderia se tornar um livro. Então tentei, diminuindo alguns termos acadêmicos para deixar mais popular, mas [o projeto] perdeu o foco”, conta.
A falta de tempo e orçamento impediram que Vidali escrevesse o livro após terminar a faculdade, projeto que só se concretizou no início de 2019. “Achava que seria até impossível escrever um livro, mas houve algumas pessoas que se doaram em ajudar”.
Uma delas foi Jorge Cabanez, 54, comerciante e presidente do conselho da associação de bairros do município.
Natural de Cachoeiro do Itapemirim (ES), Cabanez diz que Morato foi a cidade que acolheu a família dele e lhe deu a oportunidade de trabalhar com dignidade. Mas nem sempre foi o lugar preferido do comerciante.
A primeira vez que Cabanez ouviu falar na região foi em 1979, quando veio conhecer o local a convite de um amigo. Na época, ele procurava um terreno para comprar. Mas, chegando na estação de trem, o lugar o surpreendeu.
“Falei para o meu amigo: não boto os pés fora da estação. Estação de madeira, não tinha nada”, relembra. Cinco anos depois, a situação mudou. “Em 1984, eu mudei para Morato. Eu vim para cá e comprei dois terrenos. Estou aqui há 35 anos”, conta.
A cidade se tornou opção, afirma, por causa do aumento do aluguel na cidade de São Paulo e a necessidade de uma casa maior. Ele também se casou e os irmãos passaram a viver com ele, após a morte da mãe.
Casado, com três filhos e seis netos, Cabanez diz que pensava em voltar para a cidade natal, mas não consegue ficar longe da família. “A negatividade [sobre algo ou algum lugar] quem faz é a pessoa, tem gente que não acredita em Morato até hoje. Eu acredito”, conta.
ATUAÇÃO
Vidali afirma que as pessoas que vêm para Morato buscam mais do que uma cidade dormitório. “É um lugar de pessoas que batalham, que têm sonhos. Os que ficam aqui não têm receio de se aventurar, de construir e fazer o que tem que ser feito”, comenta. Ele ainda quer fazer uma segunda edição ampliada da obra.
Resgatar a história da cidade por meio do livro não foi a única iniciativa de Vidali em Francisco Morato. O professor participa da associação de bairros da Vila Capoa, onde ajuda os moradores com ações para preservar o meio ambiente. O dinheiro arrecadado está sendo utilizado para a construção da nova sede da associação e para a construção de um ecoponto no mesmo local.
“Copiei aquilo que meus pais sempre falavam de cuidar da cidade. A gente tem uma dificuldade, pede ajuda para administração pública, mas não é atendido, acaba pondo a mão na massa e resolvendo o problema”, completa.
Betiane Silva é correspondente de Franco da Rocha
betianesilva@agenciamural.org.br
Quero registrar o meu agradecimento a esta belíssima publicação. Muitos na cidade de Francisco Morato terão a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a história do município através da divulgação do Mural Blog da Folha de São Paulo. Meu muito obrigado a toda equipe. Muito obrigado a Jornalista Betiane.
Prof. Agnaldo Vidali
Poderia deixar o link para acessar o e-book pra ler seu livro. Obrigado
Olá, Thiago.
Tem o Hiperlink no texto, mas acho que não estava muito visível. Segue: http://www.morato.org.br/
Abraços,