Vítima de fogueira, prefeito de Osasco flertou com PT e PSDB para vencer eleição em 2016

Paulo Talarico

A cena da explosão da fogueira de São João, em Osasco, na Grande São Paulo, na sexta-feira (28), chamou a atenção do Brasil. Nela, o prefeito Rogério Lins (Podemos) estava ao lado da primeira-dama, Aline Soares Lins, no momento em que ia acender a fogueira. A explosão atingiu os dois e ambos estão internados no Hospital Antônio Giglio, no centro do município, sem previsão de alta. 

Mas quem é Rogério Lins, 40, e como se tornou líder da cidade com o sexto maior PIB do Brasil? 

Formado em direito, Lins foi eleito prefeito de Osasco em 2016, primeira vez em que disputou o cargo. Usou o discurso de ‘renovação’ e do antipetismo para conquistar quase 210 mil votos e vencer Jorge Lapas (PDT) no segundo turno. 

Ao longo da carreira política, ele flertou com vários grupos de poder da cidade. Foi vereador por dois mandatos, no período em que o PT comandava a prefeitura. 

Na Câmara, foi da base aliada do ex-prefeito Emidio de Souza (PT, 2005 a 2012), possível adversário nas eleições do ano que vem. Também foi aliado de Jorge Lapas, que deixou o PT para se filiar ao PDT antes das eleições de 2016.

Prefeito chegou à prefeitura em 2016, após dois mandatos de vereador (Divulgação)

Lins começou a trajetória política como diretor na secretaria de Esportes, em 2004. Em seguida, decidiu concorrer para vereador. Passou por três partidos.

Em 2004, disputou a vaga de vereador e não entrou, mas na segunda eleição venceu. Assumiu em 2009 pelo PR. Deixou a legenda para se filiar ao PHS. No meio do segundo mandato, fez uma articulação para ser expulso da legenda e poder se filiar no então PTN (atual Podemos), em um movimento que já envolvia a disputa da prefeitura.

Ainda como vereador, Lins evitou declarar abertamente que seria candidato a prefeito, mas dava pistas. Em 2015, o então prefeito Emídio teve pedido de rejeição de contas pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado), e Lins se ausentou da sessão da Câmara que votaria o caso, indicando distanciamento do então aliado.

Na época, legisladores afirmaram que Lins articulou uma debandada dos parlamentares para que o parecer fosse pela rejeição. No final, Emídio teve as contas aprovadas. Caso contrário, poderia se tornar inelegível. 

ALIADOS DO PASSADO

Para a disputa de 2016, Lins se uniu aos principais clãs políticos que governaram Osasco no passado. No primeiro turno, fez acordo com o ex-prefeito Francisco Rossi (PR), que emplacou a esposa, Ana Rossi (PR), na vaga de vice. 

No segundo turno, foi a vez de Celso Giglio (PSDB), morto em 2017, e Guaçu Piteri (PPS), ambos ex-prefeitos, se juntarem a Lins. 

Adversários afirmam que ele chegou ao comando de Osasco graças ao apoio nos bastidores do ex-deputado federal João Paulo Cunha (PT), condenado no julgamento do mensalão. Lins e João Paulo sempre negaram o vínculo. No entanto, o coordenador da campanha foi Gelso de Lima, antigo braço-direito do petista. 

Apresentação dos projetos de segurança (Divulgação)

Antes de assumir, contudo, Lins teve outro problema. A Operação Caça Fantasmas, da Polícia Civil, indiciou ele e outros 13 parlamentares sob acusação de manter funcionários fantasmas na Câmara Municipal, em 6 de dezembro. Lins estava nos Estados Unidos com a família, enquanto outros vereadores indiciados foram presos. 

Ele retornou apenas no Natal, quando se entregou para a polícia, mas logo conseguiu uma liminar que o deixou em liberdade. O caso ainda não foi julgado e segue em segredo de Justiça. Recentemente, um ex-vereador foi absolvido e outra acusada, condenada. 

GOVERNO ECLÉTICO

Fruto de uma aliança tão ampla, Lins teve de juntar todos esses grupos num secretariado eclético. Havia membros do PT, PSDB, PPS, PR e ex-secretários da gestão de Lapas. Logo no início, o gestor começou a enfrentar resistências e se distanciou de Francisco Rossi, que o acusou de ter se unido ao PT. 

Os petistas sairiam do governo meses depois. Lins exonerou os secretários do PT após um  desentendimento entre militantes e o governador João Doria (PSDB), no dia em que o tucano veio receber o título de cidadão osasquense. 

Fiadora da candidatura de Lins, a deputada federal Renata Abreu teve apoio do prefeito ano passado (Divulgação)

Na eleição de 2018, o prefeito apoiou a presidente de seu partido, o Podemos, Renata Abreu, que se reelegeu para mais um mandato de deputada federal. Renata foi madrinha política da candidatura de Lins e destinou boa parte dos recursos da sigla para ajudá-lo. 

Nos três primeiros anos de governo, Lins entregou algumas obras, como o Hospital Veterinário Manchinha (nome em referência à cadela morta em um Carrefour da cidade) e um albergue para cem pessoas.

Ele teve de lidar com um impasse com o Exército para liberar imóveis do Conjunto Residencial Miguel Costa, e trocou duas vezes a Organização Social que administra o hospital municipal onde ele está internado. 

A situação da saúde é o que mais tem movimentado a oposição, atualmente composta de três dos 21 vereadores. Um deles, Tinha di Ferreira (PTB), tem colhido assinaturas para abrir uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito). Como a oposição é minoria, há poucas chances da ação ir em frente.

Outros compromissos de campanha ainda não saíram do papel, como a implantação do Bilhete Único. Recentemente, Lins também teve de enfrentar uma greve dos servidores municipais. Obra que começou na gestão passada, a nova sede da prefeitura também está atrasada.

Cotado para disputar a reeleição, o cenário ainda está incerto. Fora a possível candidatura de Emidio, também são esperados nomes do PSL e do PSDB na disputa.

Paulo Talarico é correspondente de Osasco
paulo@agenciamural.org.br

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