Após revezamento entre prefeito e vice, Mauá completa 100 dias de gestão Alaíde
Laiza Lopes
Após dois anos de incertezas no cenário político, a prefeita Alaíde Damo (MDB) completou os primeiros cem dias no comando da prefeitura de Mauá, na Grande São Paulo.
Eleita em 2016 como vice de Átila Jacomussi (PSB), ela assumiu o cargo definitivamente após a cassação do mandato do ex-prefeito, acusado de crime de responsabilidade por não ter informado a ausência do cargo para os vereadores. O político foi preso duas vezes ano passado.
Dona Alaíde, como se denomina politicamente, assumiu o cargo com o desafio de administrar um município com mais de 460 mil habitantes, a terceira maior população do ABC Paulista.
Morador de Mauá desde os cinco anos, Adler Donella, 26, afirma não ter visto mudanças no município desde a troca. “A nossa cidade fica indo e voltando para as mesmas pessoas”, avalia o assistente operacional.
Alaíde é esposa do ex-prefeito Leonel Damo, que governou entre 1988 e 1992 e entre 2005 e 2008. A família se uniu a Átila em 2016, em uma chapa de oposição ao PT na cidade. No entanto, logo nos primeiros meses, o grupo se dividiu após a prisão de Átila.
“Sei que a Alaíde tem um lado mais conservador alinhado com o presidente [Jair Bolsonaro]. Acredito que a onda conservadora vai continuar no poder por um bom tempo”, ressalta o morador.
SAÚDE
As trocas mudaram pouco uma das demandas prioritárias dos moradores: a saúde. A falta de medicamentos e insumos para fazer curativos em postos de saúde, espera para realização de exames e a ausência de médicos são os principais problemas apontados pela população.
Na UBS do bairro Sônia Maria, por exemplo, os médicos especialistas disponíveis são dois clínicos gerais e uma pediatra, que atendem até às 16h e apenas durante a semana. No local, mais de 10 mil habitantes dependem dos serviços.
O psicólogo Danilo Silva, 40, mora no Parque das Américas e teve dificuldades na UBS do bairro.
“Queria fazer um check-up e eles disseram que não tem médico, é só caso de urgência. Desde março dizem que vai chegar médico, porém teve o novo edital do Mais Médicos, mas nenhum veio para cá”, conta o psicólogo que tem problemas de hipertensão e descobriu recentemente uma diabetes tipo 2.
Segundo a prefeitura, em março, o município preencheu 28 das 35 vagas deixadas pelos médicos cubanos no ano passado. As unidades básicas que receberam estes profissionais foram Macuco, Jardim Zaíra 2, Jardim Primavera, Jardim Santista e Jardim Kennedy.
A orientadora social Hosana da Silva, 39, teve de recorrer ao convênio para conseguir cuidar da saúde. “Tem 1 ano e 7 meses que estou esperando ultrassom. Minha neurologista pediu demissão em novembro do ano passado e não recontrataram”, afirma. “Um [prefeito] demite, outro contrata, isso também dificulta”, desabafa.
A reclamação vai de encontro com as constantes trocas de gestores. O ex-prefeito Átila assumiu em janeiro de 2017 e governou até maio de 2018, quando foi preso, por conta da Operação Prato Feito que investiga desvios de recursos na compra de merenda.
Ele voltou a assumir a prefeitura no mesmo ano até que teve de deixar novamente o cargo em dezembro, desta vez por conta da Operação Trato Feito. Ele foi solto após decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes.
As idas e vindas só terminaram em abril, com a cassação na Câmara e que tornaram o político inelegível até 2024.
Esse revezamento culminou com trocas na equipe de governo, em áreas como a saúde. Em junho deste ano, o secretário da saúde Rogério Zutin ficou dois meses no cargo até ser demitido pela atual prefeita. David Ramalho, atual secretário adjunto do governo, acumulou o comando da pasta.
Apesar das reclamações, a saúde tem sido um dos principais pontos destacados por Alaíde nas redes sociais, como avanço dos 100 dias de governo. A gestora diz ter implantado um sistema de Saúde Humanizada e cita a entrega de oito novas ambulâncias.
A Agência Mural ouviu funcionários da saúde, que afirmam não ter visto ações sobre a humanização.
Também nas redes sociais, o ex-prefeito Átila reivindica a conquista das ambulâncias como parte da gestão anterior e acusa o atual governo de publicar “fake news”.
A disputa na internet têm sido uma dinâmica comum em Mauá. No ano passado, a página do ex-prefeito era atualizada até no período em que ele esteve preso, com mensagens em defesa do mandato.
MULHERES
As mulheres têm sido o foco de algumas iniciativas anunciadas pela atual prefeita, que é a primeira gestora da história do município.
Em 2017, movimentos da região reivindicaram um Centro de Referência para mulheres em situação de violência. No entanto, o projeto se transformou em uma Casa de Passagem não sigilosa, que abrigará mulheres de forma temporária.
Atualmente, a região conta com duas casas abrigo que recebem mulheres da região, por meio do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC.
Enquanto a Casa de Passagem não é instalada, há uma preocupação com o atendimento das mulheres na delegacia. O local só funciona de segunda a sexta, em horário comercial, das 9h às 18h, inviabilizando atendimentos aos fins de semana. “Já acompanhei mulheres na delegacia, a última vez que liguei foram três horas de espera”, conta Hosana da Silva, 39.
No dia 21 de julho, Alaíde Damo também anunciou a Parada Segura para as mulheres, projeto que dá o direito de as moradoras descerem fora do ponto de ônibus, das 22h às 6h. No entanto, a medida está prevista na lei 5.197/16, aprovada ainda na gestão passada. Apenas dois anos depois se tornou uma campanha.
Na cidade de São Paulo, a lei 16.490 que permite essa opção para mulheres e idosos foi regulamentada em 2016 na gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (PT).
A Agência Mural entrou em contato com a assessoria da prefeitura para comentar as ações dos 100 primeiros dias de mandato, porém não teve retorno até a publicação deste texto.
Laiza Lopes é correspondente de Mauá
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