Nove anos depois de anunciado, área do ‘Piritubão’ segue sem uso em São Paulo
Renan Cavalcante
O bairro de Pirituba, na zona norte de São Paulo, chamou a atenção internacional em 2010 quando começou a sair na imprensa a notícia de que o estádio para a Copa do Mundo de 2014 seria construído na região.
Nove anos se passaram, o Brasil perdeu na semifinal, o mundial teve jogos em Itaquera, na zona leste, já foi realizada a Copa na Rússia, mas o Piritubão não virou realidade. No local, nada foi construído no terreno, mas rumores sobre o futuro não pararam de chegar para os moradores.
Atualmente, a última informação é de que o local pode se tornar um bairro planejado.
“Isso foi na Copa, não foi? Saiu daqui e foi para Itaquera. Tinha problema de metrô e não fizeram”, relembra o torneiro mecânico Benedito Rodrigues, 68, que mora em frente ao terreno desde quando ali “era tudo mato”. A referência ao Metrô é pelo fato de Itaquera ser servido pela linha 3-vermelha.
“Mas dizem que aqui está para sair um grande empreendimento, igual ao Anhembi. Porque aqui tem saída para todo lado”, ressalta.
De fato, a Prefeitura emitiu um decreto declarando o imóvel de aproximadamente 1,7 milhão de km², entre as avenidas Raimundo Pereira de Magalhães e Doutor Felipe Pinel, como de utilidade pública. Mas longe de pensar na Copa do Mundo ou em uma nova casa para o Corinthians, a ideia era de que o local abrigasse um “Polo de Feiras e Exposições”. O decreto, válido por cinco anos, perdeu efeito em 2013.
Atualmente, o terreno é uma área verde, arborizada, cercada e com placas que indicam “propriedade particular”. Um dos fatores que impediram a construção do estádio era a situação do solo. O terreno contém metais pesados.
De acordo com a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), a contaminação é proveniente de resíduos de uma cava de mineração que existia no local. Sobre a situação atual do terreno a Companhia diz em nota que há três anos não há risco para a saúde da população.
“A área mencionada é classificada como Reabilitada para Uso Declarado desde 2016, ou seja, não oferece risco à saúde humana”, diz a empresa. Ainda assim, até liberação da Cetesb, estão proibidas a escavação no terreno; o uso da água subterrânea; e a construção de moradias ou edificações.
O terreno pertence à Companhia City, empresa que teve forte atuação na urbanização de São Paulo no século passado, com a criação do Jardim América e outros bairros nobres da capital.
Procurada, a City informa que mantém os planos originais para a propriedade, com a ideia de implantar um novo bairro.
“Existe apenas restrição ao uso residencial em área de aproximadamente 24.250m2, que não será utilizada, remanescendo na propriedade dos atuais proprietários, que se responsabilizarão pela sua segurança e manutenção”, afirma a City em nota.
Segundo a empresa, o desejo é que o espaço conte com áreas residenciais, comerciais e também receba equipamentos públicos como escolas. Também fala em um novo parque ao longo do Córrego do Canta Galo.
Outra proprietária do terreno e controladora da Companhia City, a empresa Anastácio Empreendimentos Imobiliários não respondeu ao contato da Agência Mural para esclarecer as questões sobre o terreno.
ALÍVIO E INCERTEZA
Apesar da incerteza, entre os moradores que vivem perto do que seria o Piritubão, há quem veja de forma positiva o terreno ainda não ter sido usado para algo esportivo.
O comerciante Márcio Prete, 42, vende cervejas na região. Apesar disso, via a ideia do estádio com receio por conta do conflito entre torcidas. “Alguns comerciantes gostaram, mas quando pensam na questão de violência, briga, o pessoal já fala que é melhor não ter”.
A visão do comerciante é compartilhada por Maria da Cruz. Com 65 anos, a aposentada diz acreditar que a região ficaria barulhenta. Mas a maior preocupação dela foi com o rumor de que as propriedades vizinhas ao estádio perderiam dez metros de terreno.
“Você se mata para conseguir alguma coisa e vê muitos casos em que desapropriaram e não pagaram as pessoas até hoje”, diz.
Rodrigues, que diz não acompanhar futebol porque os jogadores não têm mais amor à camisa, pensa no gasto financeiro que a construção do estádio traria. “O governo e a prefeitura estão falidos. Está igual a ponte da marginal”, afirma se referindo à promessa de ligação da entre a Lapa e Pirituba, separados pelo Rio Tietê.
Em junho, a prefeitura anunciou o início das obras da ponte.
Renan Cavalcante é correspondente de Pirituba
renancavalcante@agenciamural.org.br
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