Mairiporã deixa de ser cidade de CEP único, mas tem ruas com mesmo nome

Humberto Müller
07600-000. Um número de código postal aparentemente simples e fácil de decorar, mas que foi por anos a origem de muita dor de cabeça para os moradores de Mairiporã, na região norte da Grande São Paulo.
O motivo? Os quase 100 mil habitantes da cidade dividiam até recentemente o mesmo número para tudo. Entregas, cadastros ou até para registrar um boletim de ocorrência eletrônico.
Essa situação tende a mudar. Em 2018 foi enviado aos Correios um estudo feito pela prefeitura para que a implantação do chamado CEP por logradouro pudesse ser feita, o que finalmente ocorreu neste mês.
Os números já foram determinados, mas não devem encerrar definitivamente as confusões na cidade. É comum encontrar vias com nomes idênticos. Um exemplo é a rua Existente, nome utilizado em ao menos 70 logradouros, e até estradas e vielas. Há, por exemplo, uma rua Existente no bairro de Santa Inês, e outra na região do Mato Dentro, a 18 km.
Isto se repete ainda com vias identificadas apenas por números, como é o caso das ruas “Um”, são 24 espalhadas pela cidade. Elas ganharam esses nomes enquanto não recebem outra denominação, o que depende de projeto de lei na Câmara Municipal. Há casos com a nomenclatura Existente desde 1969.

A dificuldade para implantar um CEP para cada rua pode ser explicada por diversos fatores. Mairiporã é uma cidade com bairros espalhados pelo território, onde é possível rodar facilmente mais de 40 km sem sair dos limites de seus mais de 320km².
Segundo mapeamento da prefeitura, são pelo menos 45 regiões e bairros, e uma centena de loteamentos, a maioria distante um do outro.
Com tanta área e um único número de identificação, efetuar uma entrega, algo que deveria ser simples, tornava-se um verdadeiro calvário para carteiros e outros serviços de entrega do município.
Para a artesã Eleni Pereira, 35, que mora na região de Vila Machado, a cerca de 9,5 km do centro do município, ter um único código postal para toda a cidade era “vergonhoso”. “Trazia transtornos e atrasos para todos que precisam passar informações, sejam elas para recebimento de entregas ou para cadastros em empresas”, afirma.
Em uma rápida pesquisa na internet é possível constatar que o primeiro endereço encontrado utilizando o CEP antigo está localizado próximo de um pesqueiro, a 6 km da sede do município.
Tanta divergência nos dados incomodava até mesmo nas tarefas mais simples, como efetuar um cadastro online.
Para a professora Luciana Albuquerque Passarella, 47, que mora na região central do município, o CEP único não causava problemas quando Mairiporã “era uma vila e todos se conheciam”, diferente de hoje em dia.
“Tive alguns problemas com isso, pois alguns sites não aceitam o nome da rua após o preenchimento do número, já que ele é feito automaticamente. Acabei desistindo de fazer o cadastro. É complicado”, diz.
A troca, porém, confundiu parte dos moradores, que na hora de buscar os novos números viram bairros incluídos em áreas maiores, onde loteamentos passaram a fazer parte de bairros por vezes distantes.
O chamado abairramento é parte do processo de oficialização de vias que foi encaminhado pela prefeitura aos Correios para facilitar a criação dos novos CEP e o futuro sistema de entregas.
Na prática, segundo informa a prefeitura, o que muda para os moradores é apenas o código postal de cada rua. Os novos números já estão disponíveis para consulta no site dos Correios.
OITO CIDADES COM CEP ÚNICO
O caso mairiporanense não é o único na região metropolitana. A cidade era a maior a contar com um único código postal, mas a situação se repete em outros oito municípios.
Para ter mais de um código, um dos critérios é que o município tenha mais de 50 mil habitantes. Salesópolis, Guararema, Pirapora do Bom Jesus e São Lourenço da Serra estão abaixo dessa marca.

No entanto, os municípios de Santa Isabel, Embu-Guaçu, Rio Grande da Serra e Vargem Grande Paulista são maiores, mas ainda aguardam pela mudança.
A menor cidade da região metropolitana com CEP por logradouro é Cajamar, com 75 mil habitantes.
Desde o Censo 2000 Mairiporã já possuía oficialmente o mínimo de habitantes necessário para a implantação.
Com apenas 2 mil habitantes a mais que Mairiporã, a vizinha Caieiras implantou o CEP único ainda em 2012. O trabalho, no entanto, não é simples, pois exige um extenso mapeamento de ruas e regularização de endereços e bairros por parte das prefeituras.
A administração municipal de Mairiporã concluiu este serviço ainda em 2018. “Cada quadra, rua, alameda, viela, avenida e travessa passará a ter CEP individual, afirmou a gestão”. A expectativa é que com a nova codificação, a localização de endereços seja facilitada.
Humberto Müller é correspondente de Mairiporã
humbertomuller@agenciamural.org.br