Osasco deve ganhar Bilhete Único, mas sem integração com o trem
Ariane Costa Gomes
A implantação do Bilhete Único em Osasco, na Grande São Paulo, é uma promessa antiga e pode finalmente sair do papel. Em agosto, o assunto voltou a ser discutido com a entrega de um projeto de lei para iniciar a integração ainda este ano.
No entanto, embora tenha o mesmo nome, o sistema osasquense deve ter bem menos benefícios do que o utilizado na capital.
Caso aprovado, a partir do dia 1º de dezembro o usuário poderá fazer até duas integrações diárias durante a semana pagando apenas uma tarifa. No entanto, há um limite de até uma hora de diferença entre o primeiro e o segundo embarque.
Aos fins de semana, o tempo da integração tarifária será de até duas horas. Em São Paulo, são três horas diariamente.
Outra limitação é quem poderá usar o benefício. Segundo o texto, a integração tarifária será aplicada às modalidades de BEM (Bilhete Eletrônico Municipal) Comum e Escolar. Porém, o vale-transporte, pago pelos empregadores, não está incluído.
Em nota enviada à Agência Mural, a Prefeitura de Osasco afirma que as “viagens realizadas com o vale-transporte já estão sob a responsabilidade dos contratantes e não impactam na realidade financeira dos cidadãos”. Sobre o tempo de no máximo uma hora para a integração, a gestão afirma que estudos realizados pela secretaria de Transportes mostram que o intervalo de espera entre um ônibus e outro é, na maioria das viagens, de até meia hora.
Para ter acesso à integração tarifária não será preciso adquirir ou efetuar a troca por um novo cartão. Segundo a Prefeitura, os cartões BEM serão mantidos e será estimulado, por meio de campanha, que mais usuários realizem suas viagens com o bilhete.
No projeto também não está previsto integração com os trens da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).
A cidade possui cinco estações de trem pertencentes à linha 8-Diamante da CPTM são elas: General Miguel Costa, Quitaúna, Comandante Sampaio, Osasco e Presidente Altino – as duas últimas também fazem parte da linha 9-Esmeralda.
Hoje, o passageiro paga R$ 4,50 na tarifa municipal mais R$ 4,30 para o transporte sobre trilhos.
COMO É HOJE EM OSASCO
- Bilhete Eletrônico não garante integração. Quem precisa utilizar duas linhas paga tarifa cheia de R$ 4,50 duas vezes.
- Não há integração entre trem e ônibus.
COMO SERÁ SE O PROJETO FOR APROVADO SEM ALTERAÇÕES
- Prevê integração, caso respeite o limite de uma hora entre um ônibus e outro. No fim de semana, serão duas horas.
- Benefício é válido para quem usa o bilhete comum ou de estudante. Não é válido para vale-transporte pago pelas empresas.
- São duas integrações no máximo por dia
- Segue sem integração com trens da CPTM.
Segundo a Prefeitura, foram feitos estudos preliminares para adoção da integração entre ônibus e trem no futuro, mas “é um processo que requer um alinhamento e um aprofundamento maior em conjunto com a CPTM e o governo do estado [de São Paulo]”.
De acordo com os estudos preliminares da prefeitura, 33,9% dos passageiros que utilizam o ônibus municipal também utilizam os trens da CPTM.
A estimativa da Prefeitura é que, em 2020, sejam iniciados trabalhos para evoluir a parceria com o governo do estado de São Paulo. A gestão ressalta ainda que serão feitos estudos sobre o impacto financeiro.
De todo modo, o projeto de lei do Bilhete Único ainda será analisado pelos vereadores, que podem propor mudanças.
TRANSPORTE EM OSASCO
Em janeiro deste ano, a passagem de ônibus subiu de R$4,35 para R$4,50. O reajuste de 3,5% gerou insatisfação por parte dos moradores que, além das reclamações sobre a qualidade do serviço oferecido, ressaltaram a falta de integração.
O principal impasse está para quem precisa cruzar a cidade e ir da zona sul à zona norte. A cidade é dividida pelo rio Tietê e cada lado do município é atendido por uma empresa diferente de ônibus. Poucas linhas trafegam pelos extremos das duas regiões.
Atualmente, os moradores que precisam utilizar duas conduções diárias pagam o preço integral da passagem nos embarques gastando assim R$ 9.
A atendente de fast-food, Jaqueline Souza, 26, faz parte desse grupo. Moradora do bairro Vila Osasco, na zona sul, ela costuma pegar dois ônibus na ida e dois na volta do trabalho localizado no Umuarama.
Jaqueline estima gastar meia hora no trajeto de casa até o trabalho. “Onde moro é contramão. Então [quando saio do trabalho] preciso pegar um ônibus até o Largo de Osasco e de lá outro ônibus para chegar em casa”, diz.
“Acho algo benéfico e que essa primeira etapa da implantação do Bilhete Único vai ser um teste para futuramente integrar com o trem e metrô”, observa.
Moradora do bairro Padroeira, Silvia Leandro, 43, está desempregada. Ela trabalhou durante um ano numa escola estadual localizada no Rochdale, zona norte da cidade.
Para se deslocar até o trabalho optou por utilizar o carro. “Perto da minha casa tinha um ônibus que ía [até o Rochdale], mas se pegasse só uma condução teria que andar muito porque é contramão”, conta.
Silvia avalia que economizou ao escolher ir trabalhar de carro ao invés de gastar com quatro passagens diárias de ônibus. Por dia o valor gasto seria de R$ 18, de segunda a sexta o valor chegaria a R$ 90.
“Nosso município é grande. Para se deslocar até outro bairro, às vezes, é preciso pegar duas conduções. É praticamente impossível alguém que esteja na zona sul da cidade pegar apenas uma condução para ir até a zona norte”, observa.
IDEIA ANTIGA
O prefeito Rogério Lins (Podemos) entregou o projeto do Bilhete Único de Osasco ao presidente da Câmara, Ribamar Silva (sem partido), e solicitou que o trâmite de análise e aprovação seja realizado em regime de urgência.
Criado em 2004 em São Paulo, o Bilhete Único foi prometido pelas últimas gestões da cidade, mas não saiu do papel.
As despesas da lei serão bancadas por “dotações orçamentárias próprias”. No projeto de lei consta o orçamento total de gastos que, até 2021, será de R$ 21 milhões – R$ 9,9 mi por ano.
Ariane Costa Gomes é correspondente de Osasco
CORRIGIMOS
A versão anterior do texto dizia que estudos realizados pela secretaria de Transportes mostram que a maioria das viagens dura meia hora, mas a informação correta é que o intervalo de espera entre um ônibus e outro é, na maioria das viagens, de até meia hora. A informação foi corrigida, às 14h04, do dia 26 de agosto de 2019.