Imigrantes mantêm cultura boliviana em Itaquaquecetuba

Lucas Landin

Quem anda pela rua Santa Luzia, no Parque Viviane II, em Itaquaquecetuba, Grande São Paulo, pode imaginar que está em território boliviano. Ali, o país vizinho está presente em todo lugar: nas bandeiras, no idioma falado e nos traços dos moradores.

Há cinco anos, a rua se tornou o lar de mais de setenta imigrantes da Bolívia, em sua maioria, oriundos da cidade de La Paz. O costureiro Walter Sinka, 42, se orgulha de ser um dos fundadores da comunidade.

“Eu morava lá no Brás [zona leste de São Paulo], mas o aluguel era muito caro. Então um conhecido disse: ‘tem um terreno vazio lá em Itaquaquecetuba e que cabe no seu orçamento’. Não pensei duas vezes”, lembra.

Walter chegou ao Brasil em 1997, quando ainda tinha 20 anos de idade. O rapaz estava fugindo da pobreza que atingia o seu país. “Era a época em que a Bolívia era um dos países mais pobres do mundo. Que futuro havia para um jovem ali?”. Hoje, garante que a situação por lá é outra. “Desde o governo Evo [Morales, que governa o país de 2006], a Bolívia passou a crescer. Hoje eu tento trazer  jovens de lá para trabalhar aqui comigo, mas não acho”, brinca.

Após a chegada do costureiro, outros bolivianos também se mudaram para o bairro. “Foi passando de boca em boca. E foi bem melhor, porque aqui cuidamos uns dos outros, evitando até mesmo a exploração e casos de racismo”, comenta. 

Unidos, os imigrantes construíram boa parte da infraestrutura do local. Em mutirão, fizeram o calçamento da rua, o encanamento de água e esgoto, uma quadra de futebol, e até construíram um portal de entrada, que acabou cedendo durante uma forte chuva.

“Não esperamos pela Prefeitura. Fizemos tudo aqui unidos e estamos orgulhosos de nossa rua”, conta a costureira Zaida Flores, 40.

Zaida Flores e Walter Sinka na festa de comemoração de cinco anos da rua Santa Luzia (Lucas Landin / Agência Mural / Folhapress)

COTIDIANO

Os imigrantes que moram na rua Santa Luzia trabalham no comércio e no setor têxtil, em oficinas de costura caseiras. Os produtos confeccionados ali continuam sendo vendidos na Feira da Madrugada, em São Paulo.

Vizinhos, os brasileiros da região veem com bons olhos a chegada dos “hermanos”. “Eles ajudaram a dinamizar o comércio do bairro. E posso dizer que, aqui na escola, os jovens bolivianos são aplicados e têm um rendimento alto”, afirma Ronimar Brito, 31, coordenador pedagógico da escola estadual Parque Viviane.

No dia 17 de agosto, a comunidade comemorou o aniversário de cinco anos da rua. Com comidas típicas, danças, inclusive ao som do moderno reggaeton, os bolivianos celebraram a união.

“Hoje, 99% dos moradores daqui são da Bolívia. Será que vamos chegar nos 100%?”, questiona Walter.

Lucas Landin é correspondente de Poá e Itaquaquecetuba