Prédio construído para EMEI serve de ‘escola temporária’ para alunos do ensino fundamental no Capão Redondo

Gisele Alexandre

Nos anos 1990 os bailes de black music eram a principal diversão no Capão Redondo, distrito da zona sul de São Paulo. O som, como os bailes eram chamados, da escola municipal José Olympio Pereira Filho era um dos mais famosos e todo sábado servia de point para os jovens da região. 

No entanto, a escola que era um polo cultural, virou um problema para a comunidade. Sem manutenção adequada, o prédio passou a apresentar problemas estruturais e foi demolido em 2017.

Em 2012, a secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras (SIURB) abriu um processo de licitação que previa a demolição e a reconstrução do prédio da Emef José Olympio Pereira Filho. O mesmo terreno também seria ocupado pela Emei Passadeira. Em janeiro de 2013, a prefeitura firmou um contrato no valor de R$ 5,8 mi com a Tecla Construções com vigência de 300 dias. Em abril de 2015, a empresa pediu a rescisão do contrato e entregou apenas o edifício da Emei Passadeira, para a qual recebeu R$ 2,3 mi.   

No mesmo ano, o prédio da José Olympio Pereira Filho foi interditado e os estudantes transferidos para o que estava pronto, algo que impossibilitou a inauguração da Emei Passadeira, destinada a crianças de quatro e cinco anos de idade. 

Prédio construído para Emei é ocupado por alunos do ensino fundamental (Gisele Alexandre / Agência Mural / Folhapress)

O velho edifício foi demolido somente em 2017 após pedidos da população à Diretoria Regional de Ensino do Campo Limpo (DRE), mas o local segue com entulhos. Além disso, passou a ser um ponto irregular de descarte.   

A dona de casa Luziane dos Santos, 36, moradora da Cohab Adventista, no Capão Redondo, ex-aluna da José Olympio Pereira Filho e mãe da Isabella dos Santos, que está estudando no prédio provisório, comenta que, além de lixo e mato alto, animais peçonhentos são vistos no terreno. “Imagina como a gente fica preocupada pensando que nossos filhos estão estudando lá do lado. A gente fica muito triste com o que está acontecendo”.

“Eu ainda estudava lá quando começou a cair parte do teto da escola. Tinha rachaduras, vazamentos, as salas de cima chegaram a ficar interditadas, mas a escola continuava funcionando, até que um dia precisaram derrubar”,  lembra Fernanda Cristina Martins das Dores, 33, dona de casa. Fernanda tem dois filhos, de nove e seis anos de idade, que também estudam no prédio emprestado. As mães ainda contam que os filhos não têm aula de educação física pela falta de ambiente adequado.

Já o motorista Fernando Rodrigues Mendonça, 49, que mora há 28 anos em frente à escola, reclama que a presença de um esgoto a céu aberto que passa pelo terreno pode ter contribuído para a deterioração da área. 

Segundo a prefeitura, a secretaria municipal da Educação (SME) liberou em agosto recursos para o levantamento topográfico do terreno da Emef e a previsão para a conclusão do processo de contratação é de 30 dias. Quanto ao entulho e ao lixo, a limpeza será providenciada, mas não informaram um prazo.

Pais e mães de alunos da Emef José Olympio Pereira Filho organizaram uma manifestação em frente a DRE (Diretoria Regional de Ensino) Campo Limpo no dia 16 de agosto. Na ocasião, foi protocolado o pedido coletivo pela reconstrução da escola e a DRE solicitou o prazo de 30 dias para dar um retorno à comunidade.

Gisele Alexandre é correspondente do Capão Redondo