Itaquaquecetuba completa 459 anos sem festas e com comemoração discreta
Lucas Landin
Sem festa. É assim que Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, vai comemorar os seus 459 anos de fundação neste domingo (8). Segundo a Prefeitura, apenas uma exposição de carros antigos está prevista para a data.
Para o resto do mês, a Prefeitura chegou a divulgar um calendário especial de atividades, mas poucas delas possuem caráter comemorativo. Na lista, constam inaugurações de obras, como a do auditório da Secretaria Municipal de Educação, cursos de capacitação, e até a Marcha para Jesus realizada na cidade.
Quando assumiu como prefeito em 2013, Mamoru Nakashima (PSDB) resolveu cortar parte das festividades de aniversário do município. A justificativa era que a verba destinada para as comemorações poderia ser gasta em outras áreas, como a saúde.
“Essa atitude possui significado simbólico importante. A ausência de um calendário cultural, que conceba também a comemoração de sua fundação, me parece um sintoma de descaso”, afirma a historiadora Diana Costa, que se dedica a pesquisar a história do município.
Para a historiadora, a falta de investimentos na área cultural acentua o distanciamento que os cidadãos têm com o município, já que boa parte dos moradores o utilizam apenas como cidade-dormitório, ou seja, possuem residência em Itaquá, mas trabalham, estudam e têm a vida social em outros municípios.
“E a consequência mais grave deste distanciamento é a ignorância gerada pelo desconhecimento do indivíduo sobre sua própria realidade”, comenta.
A primeira festividade a ser encerrada pela prefeitura foi a Festa do Peão de Boiadeiro, ainda em 2013. O evento, que recebia grandes cantores como Michel Teló e Ivete Sangalo, fez parte do calendário da cidade por 14 anos e chegou a receber 900 mil visitantes em sua penúltima edição.
Em 2018, foi cortado também o tradicional Desfile Cívico, uma comemoração conjunta de aniversário da cidade e de Independência do Brasil. O evento contava com apresentações da Guarda Municipal, da Polícia Militar, e de setores da comunidade, como fanfarras de escola. Nesse ano, havia expectativa de que ele voltasse a compor o calendário de festividades, o que não ocorreu.
A consultora de investimentos Danila Perine, 37, participava do desfile todo ano com a família, e se diz desapontada. “Itaquá já não tem muitas coisas referente à educação, então o desfile era importante para um ensino de questões como ética, cidadania, símbolos patrióticos e culturais”, argumenta.
APAGAMENTO DA HISTÓRIA
A cidade, fundada pelo padre José de Anchieta no século XVI, fez parte da vizinha Mogi das Cruzes até 1953, quando conseguiu a sua emancipação. A partir de então, se industrializou e virou moradia de centenas de migrantes, sobretudo nordestinos, que vinham para o estado de São Paulo à procura de emprego na área industrial.
Dentre a programação de aniversário, apenas uma atividade será voltada para contar a história do município: uma exposição sobre os 459 anos será montada no Museu Municipal a partir do dia 18.
Diana argumenta que essa atitude ajuda no processo de apagamento da memória da cidade, que também acentua o distanciamento dos moradores, causando um prejuízo em termos de representatividade e de sentimento de pertencimento à comunidade.
“A partir desta realidade, é possível compreender como uma cidade tão plural e diversificada sustenta preconceitos contra suas minorias”, afirma.
A Prefeitura de Itaquaquecetuba foi procurada para comentar as mudanças nas comemorações, mas não se pronunciou.
Lucas Landin é correspondente de Itaquaquecetuba e Poá