Linha mais cheia da manhã em SP tem atrasos e pontos sem estrutura
Carolina Figueiredo
Nas manhãs em Cidade Ademar, na zona sul de São Paulo, é comum que motoristas de ônibus da linha 5022 abram a porta traseira do carro para que mais passageiros consigam embarcar.
No trajeto, os veículos ficam parados por mais tempo do que o normal por conta da dificuldade que passageiros têm para entrar. Somam-se a isso pontos sem estrutura ao longo do caminho e atrasos no intervalo entre um ônibus e outro.
A linha, popularmente conhecida como Margarida, liga os bairros da Vila Clara e da Fonte São Bento à estação Jabaquara, da linha 1-azul do metrô. O espaço é concorrido no trajeto de 4 km.
São mais de 10 mil passageiros diários no micro-ônibus que é a linha mais cheia do pico da manhã em São Paulo.
“Pego no começo e desço no final, por isso consigo entrar”, comenta Desire Souza, 22, auxiliar administrativa que mora no bairro da Vila Clara e utiliza o Margarida todos os dias para ir ao trabalho.
Por conta do trajeto curto, a maioria dos moradores embarca no sentido metrô logo nos primeiros pontos do itinerário, que tem 18 paradas. No meio do caminho fica mais difícil encontrar espaço no coletivo, e a opção é esperar os próximos carros.
Por vezes, há o impasse. Pessoas tentam entrar mesmo sem espaço por temer a demora do próximo ônibus. Ao mesmo tempo, motoristas não podem sair com as portas abertas.
LOTAÇÃO E FILAS
Segundo dados da SPTrans, das 6h às 8h, o Margarida leva 12,7 pessoas por metro quadrado.
O número é o dobro do acordado em contrato com a A2 Transportes, empresa que é paga pela Prefeitura de São Paulo para operar a linha, e está acima do limite de cinco passageiros em pé por metro quadrado no horário de pico, definido pela própria SPTrans.
No pico da tarde, a ocupação também é alta no sentido bairro.
No ponto final do Jabaquara, na Avenida Francisco De Paula Quintanilha Ribeiro, filas volumosas se formam na espera da lotação que segue para a Vila Santa Margarida. O cartaz colado no ponto informa que o intervalo médio de chegada dos veículos é de quatro minutos, porém, passageiros alegam esperar mais.
A empregada doméstica Maricelma da Silva, 52, costuma esperar de 15 a 20 minutos. Ela ressalta que não é somente nos horários mais críticos que as filas se formam. “Tem dia que vai até a parada do outro ônibus, até lá embaixo, e a partir das 16h já fica assim”, reclama.
Às vezes, duas e até três lotações chegam juntas, quando a fila já se estendeu por metros.
“É um trajeto que deveria levar dez minutos e demora meia hora”, diz o eletricista José Aparecido, 58.
A SPTrans informa que a frota é composta por 14 veículos. Um funcionário da linha, porém, afirma que um dos ônibus foi retirado há cerca de dois meses para ser substituído por um com sistema de ar-condicionado, mas até hoje não foi entregue.
Em São Paulo, o total da frota municipal é de 14 mil veículos, dos quais só 5.817 possuem ar-condicionado, representando 41,48% da frota. No Margarida, dos 13 coletivos que operam, seis possuem refrigeração, ficando dentro da média da cidade.
Além do aperto, quem embarca no trajeto também vive dificuldades relacionadas aos pontos. Das 18 paradas oficiais, algumas não são sinalizadas com os pontos padrões da Prefeitura de São Paulo.
Na Rua Tupiratama, só sabe a localidade do ponto quem pega a linha com frequência, uma vez que não há sinalização. Já na Rua Rolando Curti, perto do ponto final no sentido bairro, o micro-ônibus faz a parada em frente às caçambas de lixo sem sinalização.
Uma outra parada, que é sinalizada, fica em frente à uma obra que se arrasta há meses. Quando chove forte, a lama e os entulhos se espalham na calçada, atrapalhando ainda mais o embarque dos usuários.
Só os dois pontos finais da linha possuem abrigo.
SPTRANS
Procurada, a SPTrans respondeu que monitora a linha 5022-10 Vila Santa Margarida – Jabaquara e acompanha constantemente a operação dos ônibus para programar o atendimento à população equilibrando a oferta e demanda de transporte estabelecidos para o sistema.
Além disso, afirma que fiscaliza o desempenho operacional de cada linha, a frota operacional, as viagens e a tecnologia veicular empregada. Segundo o órgão, caso haja necessidade, são realizados ajustes para adequação da oferta dos serviços.
Carolina Figueiredo é correspondente de Cidade Ademar