Comunidade em Ermelino Matarazzo vive sem esgoto e água tratada

Thalita Archangelo 

Mãe de dois filhos, Andreia da Silva, 22, tem preocupação quando as crianças vão brincar fora de casa. “Deixo as crianças brincarem por aqui, mas tenho medo de deixar eles muito livres porque podem cair no córrego”, afirma. 

O córrego é o Mongaguá e marca a paisagem de quem passa pela Avenida Paranaguá, em Ermelino Matarazzo, na zona leste de São Paulo. O local abriga uma população que tenta driblar a situação precária diariamente.  

Além de conviverem com o mau cheiro, os moradores ficam expostos à urina de roedores, insetos dos mais variados tipos e problemas de saúde. “Uma criança teve um problema de pele no pé porque andava descalça e por causa da água suja”, relembra Andreia. 

Ela também conta que adotou um gato para afastar os ratos que circulam na região. 

O distrito de Ermelino Matarazzo, que abriga o bairro com mesmo nome e o da Ponte Rasa, possui uma população de 207 mil pessoas. Destes, ao menos 4.400 estão em favelas como a Comunidade do Mongaguá e boa parte vive sem saneamento básico adequado.

Na capital, cerca de 4.000 pessoas foram internadas por doenças ligadas à contaminação da água em 2017 e foram registradas 104 mortes pelo mesmo motivo, segundo o Datasus (Departamento de Informática do SUS). 

Cerca de 448 mil pessoas não têm coleta de esgoto na cidade, de acordo com o SNIS (Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento), de 2017. No Brasil, são 35 milhões de moradores nessa situação, segundo o Instituto Trata Brasil.

As consequências de se viver em um local sem saneamento básico e água tratada podem ser diretamente ligadas às questões de saúde pública. De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), para cada dólar investido em água e saneamento, economiza-se 4,3 dólares em saúde global.

Moradores relatam que houve processo de remoção (Thalita Arcangelo/Agência Mural/Folhapress)

REMOÇÕES

Em 2017, a subprefeitura de Ermelino Matarazzo tentou remover as famílias do local. Andreia lembra que o Cras (Centro de Referência de Assistência Social) foi até a comunidade e pediu para que os moradores fossem para um albergue da região, que fica na rua Guilherme de Oliveira Sá, ou se mudassem para casa de parentes. 

A informação é de que o Comando de Policiamento Ambiental iria derrubar as moradias para a construção de um parque linear. “Eles vieram derrubar, mas ninguém aceitou sair. Aí quebraram só um barraco, que estava vazio há um tempo”.

Depois desse episódio, funcionários do Cras orientaram a população da comunidade, que é ocupada há pelo menos 40 anos, a realizar o cadastro para concorrer a um apartamento do CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo), em que as mensalidades são a preços acessíveis. 

A subprefeitura de Ermelino Matarazzo foi questionada sobre as questões habitacionais e de saneamento do local, mas até a publicação deste texto não respondeu às solicitações. 

Thalita Archangelo é correspondente de Ermelino Matarazzo

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