Vargem Grande aposta em ônibus grátis para criar empregos, mas espera chega a 1 hora

Halitane Rocha

A cidade de Vargem Grande Paulista, na Grande São Paulo, anunciou que não haverá mais cobrança de passagem nos ônibus municipais. A tarifa zero começa a partir de 5 de novembro. O valor atual é de R$ 3,70.

Primeira cidade da região metropolitana a adotar esse modelo, o município de 52 mil habitantes ainda depende das linhas intermunicipais. 

Atualmente há apenas sete veículos que fazem o transporte municipal e o tempo de espera é tema de reclamação de moradores, que aguardam até uma hora nos pontos. A prefeitura promete ampliar a frota para 13 ônibus, e o número de linhas de quatro para sete. Também diz que o limite de espera será de 45 minutos. 

A administração também promete que o transporte público contará com mais horários e integração dos bairros, pelo Terminal Municipal, que deverá ser entregue no primeiro trimestre de 2020.

POPULAÇÃO

São 36 mil passageiros por mês, segundo a gestão. Destes, 12 mil são idosos e pessoas com deficiência, que já não pagam tarifa. 

Prefeito Josué Ramos anunciou o programa (Halitane Rocha/Agência Mural/Folhapress)

Cerca de um terço da população mora nos bairros do Tijuco, Agreste ou Marco Polo, a mais de 10 km do centro. É o caso da professora Maria Aparecida da Silva Souza, 47, moradora do Tijuco.

Maria utiliza o ônibus municipal nos fins de semana e quando precisa resolver algo no centro de segunda a sexta. “Durante a semana, a média de espera é de meia hora e no fim de semana, uma hora. Demora muito”. 

Maria paga R$ 5,50 e pega o ônibus intermunicipal para resolver pendências bancárias ou fazer compras em Cotia, cidade vizinha de 200 mil habitantes. “Se vou em Vargem Grande [Centro], não tenho hora para voltar”.

Empresas e usuários terão 60 dias para se cadastrar e fazer um cartão, que deverá ser apresentado no momento de embarque do passageiro. A gestão diz que moradores de outras cidades não pagarão passagem. Mas não ficou claro como funcionará para os visitantes.

FINANCIAMENTO

No lançamento do programa na quarta-feira (23), o prefeito Josué Ramos (PL) disse que a medida vai favorecer a economia local. “Sem precisar pagar o transporte de cada funcionário, os empresários poderão investir e gerar mais empregos”, afirma.

No entanto, as empresas vão arcar com uma taxa para o FMTU (Fundo Municipal de Transportes), criado recentemente. O FMTU também terá dinheiro do orçamento municipal, de multas de trânsito e da publicidade em pontos de ônibus.

O fato de moradores estarem indo para cidades vizinhas para consumir foi citado pelo prefeito. “Se o dinheiro é gasto lá, nós não ganhamos. O povo precisa circular em Vargem Grande para que os impostos vão para o caixa da nossa cidade”, diz.

Caio diz que condução demora até uma hora (Arquivo Pessoal)

O técnico em química Caio Augusto Simões, 23, mora no bairro do Agreste e diz que espera até mais de uma hora por um ônibus municipal, enquanto para Cotia passa um a cada 20 minutos. “Eu até tirei a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) em Cotia só porque a noite não tem ônibus do centro para o Agreste; o último ônibus é às 19h00”.

Apesar da gratuidade da tarifa, Caio diz não acreditar que a população do bairro irá consumir mais no centro da cidade. “Por conta do péssimo transporte, o Agreste criou um mercado interno muito grande com lojas, padaria e açougue.”

CRISE

A tarifa zero em Vargem Grande Paulista foi desenhada após uma crise que a cidade viveu no ano passado. Em julho de 2018, a prefeitura decretou estado de emergência, após a Viação Adilson Lima suspender a operação. 

Houve conflito sobre o quanto era gasto pela empresa para manter o serviço e quanto deveria ser a tarifa.

Em janeiro, a Polo Planejamento elaborou um projeto no qual argumentou que com a criação de um fundo pago pelas empresas, a prefeitura economizaria R$ 80 mil em gastos com transporte público. 

Vargem Grande Paulista será a 14° cidade do Brasil a criar o Tarifa Zero. Segundo levantamento do site Fare Free Public Transport, que reúne a lista de todos os lugares do mundo em que não é cobrada a passagem de ônibus.

Halitane Rocha é correspondente de Cotia