Prefeitura de SP entrega espaço de leitura que havia destruído há um mês na Penha
Lucas Veloso
“Depois que eles quebraram, fiquei desanimado, mas agora eu gostei”. É assim que o catador de materiais recicláveis Valdir Carvalho dos Santos, 49, o Jamaica, resume a sensação do novo espaço, entregue nesta quinta-feira (24), na Vila Silvia, bairro da região da Penha, zona leste da capital.
A promessa foi feita dois dias após a gestão destruir o projeto de leitura mantido por ele, em 16 de setembro. Depois da publicação da história pela Agência Mural, a subprefeitura disse que revitalizaria o local com a participação do morador.
Na quinta-feira (24), o dia combinado com o subprefeito Thiago Della Volpi, a Agência Mural voltou ao espaço.
O piso foi refeito, inclusive com a plantação de algumas mudas de plantas. Por outro lado, a estrutura montada pelo governo é mais simples do que a anterior. Há uma cobertura formada por quatro vigas de madeira com uma telha por cima, sem cobertura lateral.
“O local era bonitinho, arrumado. Até gostei do que fizeram aqui, mas vou fazer melhor, bem melhor”, anunciou o catador. “Eu vou até te mandar foto [disse à reportagem], pois o que tinha de estrutura aqui era melhor do que está”.
Para o fotógrafo e músico Vanderson Satiro, 42, a estrutura nova poderia ser melhor. “Os livros que trouxeram são usados. A estrutura que montaram é frágil. Os bichos comem”, resumiu. “Tem que minimamente passar um verniz aí. Isso daí é madeira Pinus, cai fácil”, critica.
Os livros, todos didáticos, trazidos em um caminhão, foram empilhados no chão sem proteção. “Se dá uma chuva, ou vento mais forte, isso aqui não aguenta”, comenta Elsa Castro, 59, moradora da região.
Outros itens, como uma geladeira reciclada com livros, uma televisão e mais alguns objetos que o catador mantinha à disposição dos moradores não foram devolvidos.
Apesar da situação, Jamaica segue otimista e agradece as pessoas envolvidas nas manifestações em favor do projeto. “Foi tudo graças às pessoas”, observa.
Questionada sobre a responsabilização dos funcionários envolvidos na ação e sobre os itens não devolvidos, a Subprefeitura da Penha se reservou a dizer que o ponto de leitura recebeu doação de cerca de 300 livros e que o servidor [que ameaçou agredir Jamaica] foi orientado a evitar a postura adotada no dia da ação.
A HISTÓRIA
Jamaica relembra que no dia em que teve o trabalho destruído, agentes da Subprefeitura da Penha chegaram no local com a justificativa de que iam fazer a poda de uma árvore.
A subprefeitura alegou na época que a medida era realizada por conta do depósito irregular de materiais no bairro. Um dia depois, contudo, afirmou que restauraria o espaço.
Pouco depois, vieram outros funcionários com tratores. Logo ele percebeu que a intenção era levar embora uma geladeira com livros, uma televisão e mais alguns itens que o catador mantinha ali à disposição dos moradores.
Jamaica não sabe ler nem escrever, e montou o espaço de leitura em um muro da rua Novo Oriente do Piauí, onde mantinha o projeto há 15 anos.
Na época, a manifestação de moradores e de grupos como o coletivo Periferia Invisível provocou a revisão das medidas adotadas pela subprefeitura.
Lucas Veloso é correspondente de Guaianases