Projetos do Campo Limpo disputam Prêmio Jabuti de incentivo à leitura
Cléberson Santos
Duas iniciativas atuantes na região do Campo Limpo, zona sul de São Paulo, estão concorrendo ao Jabuti 2019, o principal prêmio literário do País.
Estão entre os 10 semifinalistas da categoria “fomento à leitura”, o Sarau do Binho e a Rede LiteraSampa.
Os finalistas serão divulgados pela CBL (Câmara Brasileira do Livro (CBL), organizadora da premiação, na próxima quinta-feira (31). A cerimônia de premiação será no dia 28 de novembro, em cerimônia no Auditório Ibirapuera, em São Paulo.
O Sarau do Binho é um dos principais encontros entre poetas no Campo Limpo e existe desde 2004. Assim como outro importante sarau da região, o da Cooperifa, ele também ocorria em um bar. Isso até 2012, quando a prefeitura determinou o fechamento do local.
Desde então, Binho passou a organizar encontros em escolas e espaços culturais. Hoje, o sarau é realizado em um teatro em Taboão da Serra, na região metropolitana de São Paulo, e na Praça do Campo Limpo.
“É como uma chancela. Nos impulsiona a continuar com nossas ações e sermos mais criativos ainda, buscando soluções que possam ajudar as pessoas a terem o encontro com o livro”, afirma Suzi de Aguiar Soares, 53, organizadora do Sarau.
Além disso, o coletivo também é responsável por outras ações de incentivo à leitura, como a Kombiblioteca e a Felizs (Feira Literária da Zona Sul), que teve a quinta edição no mês passado.
Já a LiteraSampa é uma rede de bibliotecas comunitárias espalhadas por diversas regiões da capital e também na Grande São Paulo. Segundo Mara Esteves, 35, articuladora da LiteraSampa, a rede surgiu após uma reflexão durante um edital de criação de bibliotecas em 2011.
Ela comenta que muitos projetos foram encerrados após o fim de financiamentos. “Para que isso não fosse tão cotidiano, foi dialogado para se criar a rede e, assim, a gente tivesse mais potência de captação de recurso e de conhecimento distribuído por igual para todos”, explica.
Hoje, a Rede LiteraSampa conta com um total de 11 bibliotecas, sendo três na Grande SP (duas em Mauá e uma Guarulhos), uma no centro, uma na zona oeste, duas na zona leste e outras quatro na zona sul, como a de Parelheiros, que fica dentro do cemitério da região.
A LiteraSampa também promove intervenções artísticas em suas bibliotecas e também seminários sobre a importância da leitura, inclusive para leitores mirins.
Mara aponta que a indicação da LiteraSampa representa um olhar mais atento da organização do Jabuti às iniciativas da periferia.
“Fiquei surpresa. Nós que acompanhamos o setor da literatura e do livro no Brasil estamos acostumados a ver esses espaços serem ocupados somente por iniciativas que estão vinculadas à elite”, diz. “É um divisor de águas no resultado de um dos prêmios mais tradicionais do país”.
Além do Sarau do Binho e da Rede LiteraSampa, também disputam o prêmio de “incentivo à leitura” projetos ligados ao SESC, SESI, Senac, Itaú e também o poeta Sérgio Vaz, da Cooperifa, e a youtuber Isabella Lubrano, do canal Ler Antes de Morrer. Junto com o troféu, o vencedor receberá R$ 5.000.
Segundo o regulamento do Prêmio Jabuti, serão avaliados critérios como a abrangência e a inclusão do projeto, o caráter inovador e criativo e a capacidade de abrangência e sustentabilidade econômica.
MAIS PERIFÉRICOS
Outros artistas de periferias de São Paulo também estão na lista de semifinalistas do Prêmio Jabuti.
O quadrinista Alexandre de Maio, que desenhou a reportagem “Minas da Várzea”, concorre na categoria “História em Quadrinhos” com o livro “Raul”; Paulo D’Auria, do coletivo “Poetas do Tietê”, está com o livro “As Novas Aventuras de Guaracy” disputando na categoria “juvenil”; Tom Faria concorre na categoria “biografia” com o livro que conta a história da autora Carolina de Jesus; E em “Economia Criativa”, Edson Leite concorre com o livro “Por Que Criei a Gastronomia Periférica”.
Cléberson Santos é correspondente do Capão Redondo