Leilão destaca obras de André Lessa, artista da periferia que transforma lixo em arte
Luis Nascimento
Desde criança, Andre Lessa, 20, gostava de fazer arte. Morador de Pedreira, da zona sul de São Paulo, ele começou a cobrar pelo trabalho aos 15. O artista busca retratar a periferia e o ser periférico, por meio de materiais encontrados no lixo.
“No começo, era uma forma de protesto pela falta de acesso aos materiais, mas depois de perceber o tanto de coisas que as pessoas descartam, coisas boas, ou que poderiam ser transformadas, eu percebi que todo o lixo pode virar arte”, afirma.
O fruto desse trabalho estará no leilão “Periferia em Foco”, neste domingo (17), no Balneário São Francisco. A venda de peças será organizada pela produtora Firminius Art., criado pela artista visual Mariana Firmino, 19, também moradora do distrito de Pedreira. O projeto tem o objetivo de democratizar a arte na periferia.
A inspiração para restaurar vem do trabalho da mãe. Hoje, Lessa tem um conceito de reutilizar e reaproveitar materiais. “Muitas das minhas obras são feitas em fundos de guarda roupa que achei no lixo. Tenho obras feitas com caco de vidro, madeira de construção e de outras coisas que as pessoas descartam nas ruas”.
Lessa é neto de migrantes do Nordeste e desde pequeno mora com a família no bairro que tem grande número de nordestinos. É dessa referência que ele diz que vem a inspiração para as obras, além de pichações e grafites de São Paulo.
“Minha inspiração vem da vivência de crescer em uma região periférica e todo peso que isso carrega, principalmente quando você vai para o “lado de lá” da ponte”, diz Lessa.
“Hoje meu trabalho tem muita coisa da cultura nordestina, da xilogravura (arte milenar que utiliza impressão em alto relevo), da arte de rua paulistana, de arte de galeria, da música, misturo tudo e dou meu toque”, relata.
As obras são marcadas por personagens denominados por Lessa de “Os Buneco”. “Os Bunecu representam os negros, os índios e os asiáticos, por isso cada um tem uma cor e variam as formas”, ressalta Andre.
“O objetivo é mostrar a diversidade de pessoas e culturas que temos em São Paulo e no mundo de forma lúdica, mesmo que com uma pitada da agressividade e sinceridade da pichação periférica”, conta André.
Lessa é considerado pelos amigos como um “poliartista”, porque, além das telas, faz esculturas, artes digitais, peças audiovisuais, peças de roupas e acessórios misturando técnicas.
O leilão será realizado das 15h30 às 20h15, no dia 17 de novembro, na Estrada Pedreira Alvarenga, 3469, no bairro Balneário São Francisco.
No total, serão leiloadas 21 obras autorais, os preços iniciais variam de R$ 20 até R$ 60 por peça. Além do leilão, o evento contará com apresentações artísticas, pocket show, DJ e loja colaborativa (destinado para exposição de produtos de artistas convidados) com obras a partir de R$10.
Esse será o segundo evento artístico organizado pela produtora. Hoje a Firminius Art é administrada por Mariana e o namorado Daniel Marinho, 20. “O foco é alcançar um espaço físico para realizar os nossos eventos, para vender, expor e abrigar as obras dos artistas periféricos”, fala Mariana.
“Precisamos abraçar a ideia do empreendedorismo negro e periférico para conseguir girar dinheiro em nossas mãos”, relata a artista.
Luis Nascimento é correspondente de Diadema