Crise na Bolívia causa mobilização nas redes sociais em Itaquaquecetuba
Lucas Landin
Desde domingo (10), grupos de rede sociais da comunidade boliviana em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, estão em polvorosa. Multiplicam-se os vídeos, fotos e memes sobre a crise política que atingiu o país vizinho.
A maioria dos posts são com mensagens a favor do ex-presidente Evo Morales, do partido MAS (Movimento ao Socialismo), que renunciou no dia 10. Nos posts, denúncias de que a Bolívia passa por um golpe de Estado.
“Vamos ao consulado mostrar apoio ao presidente [Evo], irmãos”, chama um dos membros de um grupo no Facebook, com quase 1.700 membros.
Nas últimas eleições presidenciais bolivianas, Itaquá foi uma das 11 cidades brasileiras a ter um colégio eleitoral. A cidade tem regiões como o bairro Parque Viviane II, com forte presença de imigrantes do país vizinho.
No município, Evo Morales venceu com folga segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) boliviano. Recebeu ali 608 votos (72,64% do total). O principal opositor, Carlos Mesa, recebeu 35 votos (4,18%), e amargou o terceiro lugar no município. Doutor Chi (PDC) ficou com 179 votos.
O resultado foi semelhante ao visto na soma das cidades da Grande São Paulo em que houve votação.
Além de Itaquá, São Paulo, Guarulhos, Carapicuíba e Mauá tiveram zonas eleitorais para a escolha. Segundo as atas eleitorais, Evo recebeu 21 mil votos (70%) nas cinco cidades, seguido de Doutor Chi com 5 mil (16%) e de Carlos Mesa, 2,6 mil (8%).
As últimas eleições, que ocorreram em outubro, foram o estopim da forte crise política que o país vive desde então.
Com indícios de fraude apontados pela OEA (Organização dos Estados Americanos), a eleição passou a ser questionada pela oposição, que não aceitou o resultado que indicou vitória de Morales ainda em primeiro turno. Evo tentou o quarto mandato.
Sob fortes protestos e pressão do Exército, Evo renunciou assim como o vice-presidente, Álvaro Linera.
Com uma nação dividida entre apoiadores e opositores do ex-presidente, quem assumiu o governo foi a senadora opositora Jeanine Áñez, segunda presidente do Senado boliviano, e autoproclamada presidente interina do país. Todo o processo vem sendo denunciado por Morales como “golpe de Estado”.
“Acredito sim que foi um golpe”, afirma a estudante Nayeli Oblitas, 18, umas da eleitoras do ex-presidente no último pleito. Ela disse ter votado em Evo por conta das bandeiras contra a desigualdade.
Nayeli veio para o Brasil ainda na infância. Conta que a família deixou o país vizinho por conta da pobreza. Ela não pensa em voltar, mas tem preocupação com familiares que seguem no país.
A estudante diz que o sentimento é de preocupação, seja sobre o futuro do país de origem, seja com parte da família, que ainda vive por lá. “Em nossa comunidade, a maior preocupação é com nossos parentes, que estão lá lutando para defender o nosso país”.
Evo Morales assumiu a presidência da Bolívia em 2006, e foi o primeiro presidente de origem indígena. Teve um governo marcado pelo crescimento econômico e pela queda de desigualdade. Porém, recebia críticas por tentar seguir no poder após 13 anos seguidos.
Ele tentava o quarto mandato, o que é proibido pela Constituição. Mesmo assim, teve aval judicial para concorrer por ser cidadão boliviano, o que ampliou as tensões no país.
Lucas Landin é correspondente de Itaquaquecetuba