Alfredo Rasta promove estilo reggae há 20 anos em São Miguel
Wesley Galzo
A Cidade Nova São Miguel é uma pequena vila, no distrito de São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo. Desde os anos 1990, a região é sinônimo também de reggae.
É ali que atua Alfredo Rasta, 59, morador do bairro, fundador e presidente da Associação Cultural Reggae, organização sem fins lucrativos que desenvolve projetos de assistência social e eventos de lazer e cultura.
Ele é o idealizador do Grito Cultural Reggae, evento gratuito que será realizado no dia 1º de dezembro na Avenida Deputado Dr. José Aristodemo Pinotti.
Após viver na Vila Mariana, Alfredo chegou à zona leste em 1966, aos sete anos de idade, e foi onde começou a dar os primeiros passos na cultura reggae. O gosto foi tanto que passou “a seguir vivências do rastafarianismo”, religião de origem jamaicana.
Na época, o ritmo que embalava a adolescência em São Miguel era o funk de James Brown e de Earth, Wind and Fire.
Começou a colecionar discos de vinil e decidiu em 1983 instalar pick ups na frente de casa e promover bailes aos domingos “pra reunir a galera, fechar a rua e curtir”. Estima que 1.000 pessoas apareciam na porta da sua casa. A discotecagem envolvia black music, samba e funk.
“O reggae era um estilo musical que estava vindo devagarzinho ainda”, relembra.
A cada encontro o número de pessoas reunidas para os bailes de domingo aumentava. Após uma década de festas em frente ao número 87 da estreita rua Valdemar Paiva e Almeida, o evento mudou de endereço.
Em 1997, fez o evento Grito de Carnaval Reggae. A ideia era mostrar o ritmo jamaicano na periferia durante a principal festa popular do ano.
Queria repetir o que acontecia em outros carnavais do Brasil com trio elétrico andando pelo bairro. Trouxe a banda Tomate Cru. Mas não funcionou como esperava.
“Subimos em cima do trio, a banda subiu e começou a andar, [mas ninguém] foi atrás do trio”, relembra. Apesar dos pedidos para a galera seguir, a resposta não ajudou. “’Não, a gente prefere ficar parado’. Demos a volta no quarteirão com o trio elétrico sozinho e voltei para ter o evento parado”, conta.
A ideia pegou e o evento chegou a reunir cerca de 10 mil pessoas na primeira edição, que contava com a apresentação de bandas nacionais e internacionais. Com o passar dos anos, o Grito de Carnaval Reggae deu lugar ao Grito Cultural Reggae, e passou a ser realizado no segundo semestre. Um projeto de lei encaminhado à Câmara Municipal de São Paulo tentou oficializar o dia 6 de fevereiro como o dia do Grito Cultural Reggae. Mas acabou não sendo aprovado pelos vereadores.
A partir da repercussão no bairro, Alfredo buscou fazer com que o reggae também trouxesse benefícios para os moradores. “Botar música na rua e não ter uma meta para isso, vai entrar aqui (na cabeça) e ficar como curtição. Ai eu falei: seria legal montar uma associação, com trabalho social”, conta Alfredo.
Em 30 de março de 1999, fundou a Associação Cultural Reggae. A instituição desenvolveu projetos socioeducativos como aulas de inglês, ballet, percussão e capoeira.
As atividades eram gratuitas e financiados por meio de convênios com a Secretaria Municipal de Cultura. Atualmente, a associação está com as atividades paralisadas, por conta da falta espaço físico para a realização das aulas.
Alfredo diz que está negociando com a prefeitura a ocupação de um terreno ocioso, a fim de transformá-lo em sede da instituição e retomar as atividades. Atualmente, ele atua apenas na área da assistência social, com a distribuição de leite para idosos do bairro, por meio do projeto Leve Leite.
Mesmo com a atuação sociocultural no bairro, Alfredo conta que sofreu preconceito no início das atividades, inclusive do poder público. “Eles viam em mim um incentivador às drogas e à prostituição. Eles achavam que o reggae incentivava os jovens a usar drogas e não era isso, eu estava levando entretenimento e lazer”, afirma.
“As mães falavam para os filhos: ‘ó ali ninguém pode ir, porque é lugar de maconheiro e drogado’”, afirma. Alfredo diz acreditar que a percepção da comunidade mudou: “Ela começou a entender que ali realmente era um lugar que estava trazendo lazer e cultura para a periferia”.