Artista da periferia faz desenhos realistas chegarem às celebridades

Danielle Lobato 

Quando Tiago Alves era criança, costumava se dedicar às aulas de artes. Mal sabia que, aos 33 anos, teria o trabalho reconhecido por Pelé, pelos jogadores Arboleda e Lucho González, o comediante Thiago Ventura, os músicos Pablo Martins, DoisP, Zeider e Hélio Bentes. 

Morador do Itaim Paulista, extremo leste de São Paulo, Alves é autodidata, aprendeu as técnicas sozinho e atualmente se dedica às obras realistas. 

Quando pequeno, diz que fazia as melhores ilustrações da sala de aula, e era elogiado por professores. Quando terminou o ensino médio, abandonou a arte e ingressou na área comercial por dez anos. “Ao ver um desenho realista, a chama reacendeu”, diz. 

Começou então a se especializar em casa. “Pesquisei na internet técnicas envolvidas no desenho realista, como vídeo aulas e conheci mais da obra, era isso que queria”. 

Nelson Mandela é um dos desenhos expostos no Itaim Paulista Reprodução

Fazia os traços como um hobby, mas chamou a atenção de artistas ao expor o trabalho nas redes sociais. 

“Fui no [festival de música] encontro das tribos e lá entreguei para o Zeider, vocalista do Planta Raiz, e o Hélio Bentes, do Ponto de Equilíbrio. Eles curtiram muito. Colocaram nas redes sociais e teve a maior repercussão”, lembra Alves. 

Os desenhos são feitos em papel A4 ou A3 e podem levar até 20 dias para ficarem prontos. As obras são vendidas por R$ 150 a R$ 250, dependendo do trabalho que exige e o tamanho escolhido pelo cliente.

O material usado por ele também é profissional. Usa grafite, agulha de crochê, lápis artístico e também uma caneta borracha.

Pelé recebeu obra de Tiago Alves (Arquivo Pessoal)

Sobre as obras mais difíceis, ele aponta a do ex-jogador Pelé que demorou 30 dias para ficar pronta. “Trabalhar a textura da pele negra e mais idosa não é fácil. Porque é preciso fazer muitas camadas no papel, trocando os grafites, tem lugar que precisa de uma cor diferente, ver onde precisa de mais sombra”, explica. 

Embora tenha obras reconhecidas na internet, o desenho ainda não é a sua única fonte de renda. Ele trabalha dando aulas particulares de desenho realista, fazendo tatuagens  e como motorista em aplicativo. 

“Viver da arte não é fácil. Aos poucos a gente vai caminhando. Com a grana que pego pago pensão, complemento no aluguel, contas de casa e assim vai”, afirma Alves. 

Exposição na Casa de Cultura do Itaim Paulista tem desenhos realistas sobre personalidades como Martin Luther King (Reprodução)

Recentemente, Alves fez desenhos realistas sobre personalidades afrodescentes como Nelson Mandela, Marielle Franco, Bob Marley, Obama, Cartola, Ruth de Souza, Mussum, Malcom X e  Martin Luther King Jr. 

O trabalho resultou na exposição Negro é arte e Cultura, aberta ao público, na Casa de Cultura do Itaim Paulista, como parte da programação do mês da  Consciência Negra. 

“É a primeira vez que faço uma exposição sozinho no meu bairro. Fiquei muito feliz com o convite. Ter o meu trabalho reconhecido dentro e fora pra mim é muito importante”, afirma Alves. O trabalho fica exposto até 9 de dezembro.

Casa de Cultura do Itaim Paulista – R. Monte Camberela, 490, Itaim Paulista. Terça a sábado: 9h às 21h. Domingos: 9h às 20h.

Danielle Lobato é correspondente do Itaim Paulista