‘A gente busca nos bailes funk um momento de alegria’, diz jovem de Mogi das Cruzes

Jéssica Silva

Guilherme Sousa tem 20 anos e mora em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Ele já foi ao baile funk da 17, em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo. Para chegar lá foram 80 quilômetros e um trajeto de duas e horas e meia.

“Fui lá porque é bastante conhecido e eu queria muito conhecer“, afirma. Além disso, ele reforça uma impressão apontada por outros jovens do município – faltam espaços para curtir o ritmo na cidade. 

“Quando tem é no parque olímpico. Todo final de ano tem duas vezes no ano”, reforça. “A gente busca nesse espaço diversão, um momento de alegria. É o que todos procuram em bailes”, ressalta. 

Mogi das Cruzes foi uma das cidades que tiveram vítimas no último domingo (1º), quando nove pessoas foram mortas pisoteadas, após uma ação da Polícia Militar no baile da 17. Entre os mortos estavam dois mogianos, Gabriel Rogério de Moraes, 20, e Bruno Gabriel dos Santos, 22.

Amigo de infância de Bruno, Caique Martins, 24, cresceu junto com ele no condomínio Jardim dos Amarais 1, no bairro Jardim Esperança. 

“Me mudei para a Vila Cintra, mas ele continuou morando lá. Mantínhamos contato através de um grupo no WhatsApp. O Bruno sempre foi um cara sorridente. Não tinha tempo ruim. As melhores lembranças que tenho dele são do futebol na quadra, das brincadeiras de criança, dos contras no videogame”, afirma. 

Caique ficou sabendo da morte do amigo pelo irmão, que também o conhecia desde pequeno. “Foi um baque”, comenta.

“Horas antes dele ir para o baile, ele havia conversado conosco no grupo. Nós nunca imaginamos que algo assim possa acontecer com alguém próximo a nós.”

Caique não gosta de funk e nunca foi a um baile. Mas afirma que há preconceitos por ser um evento realizado na favela. “Somos muito conhecidos internacionalmente por esse ritmo.”

Já para Byanca Madaleno, 26, ninguém quer se responsabilizar ou dar espaço para o estilo musical em Mogi. Normalmente, os shows de funk são realizados em uma casa noturna conhecida ou em sítios.

“A verdade é que ninguém quer que um baile funk aconteça perto de sua casa. Já vi Blitz próxima a bailes funk e policiais sendo grosseiros sem necessidade alguma”, diz.

João Raphael Oliveira, 25, mora no bairro do Mogi Moderno. Apesar de nunca ter ido a um baile funk, ele curte o estilo e o vê como uma forma de expressão social. 

“Curto funk porque acho as danças bonitas e sensuais, letras alegres e que em alguns momentos tentam mostrar a realidade do artista que está cantando, vejo como uma expressão social, digna de qualquer outra como o samba e o jongo por exemplo”. diz

Ele ainda diz acreditar que a cidade é conservadora, e não existem espaços para jovens da periferia. “A cidade ainda enxerga o funk como um estilo marginal, do qual fomenta o crime, não existe um espaço para que os jovens periféricos possam usufruir.”

Jéssica Silva é correspondente de Mogi das Cruzes