Guarulhos faz aniversário, mas prédios históricos estão sem preservação
Gleissieli Souza
A segunda cidade mais populosa do estado de São Paulo comemora 459 anos neste domingo (8). Com mais de 1,3 milhão de habitantes, Guarulhos abriga um dos maiores aeroportos da América Latina e o mais importante do país.
Contudo, são poucas as marcas do passado preservadas e acessíveis à população.
Embora o município tenha uma legislação específica para a preservação do patrimônio histórico (Lei 6.573/2009), prédios e monumentos abandonados marcam várias áreas da cidade.
“O desafio é enorme, começa pela dificuldade de que a cidade sofre pressão econômica e imobiliária tão grande que a preservação do patrimônio fica difícil de conciliar”, comenta o historiador Tiago Cavalcante Guerra, 39, membro da AAPAH (Associação Amigos do Patrimônio e Arquivo Histórico de Guarulhos).
A entidade foi criada por moradores da cidade com o objetivo de ajudar na preservação da memória, e a pensar políticas e ações de preservação.
O caso mais emblemático do que afirma Guerra é o casarão Sarraceni. Ele foi destombado em 2010 para dar espaço a vagas de estacionamento no Internacional Shopping, com a alegação de que não possuía vínculo histórico e arquitetônico relevante.
O espaço, demolido de madrugada, abrigou em seu porão a primeira indústria de sapatos e artefatos de couro da cidade, e serviu de refúgio para combatentes na Revolução Constitucionalista de 1932.
Além deste casarão, outros locais hoje também só existem em fotografias, como o antigo convento de freiras e os casarões gêmeos da família Carbonell. A demolição desses prédios marcou um período de crescimento acelerado do município.
“Um dos lemas da cidade é sempre a questão da evolução, do progresso. Nosso hino fala: ‘chaminés como lanças erguidas nos apontam o caminho a seguir’, mostrando o futuro, muitas vezes esquecendo o passado”, ressalta Guerra.
Outro caso famoso é o do casarão José Maurício, localizado na Rua 7 de Setembro, na região central da cidade. Construído em 1937, era residência do ex-prefeito José Maurício de Oliveira, que governou por dois mandatos (1919-1930 e 1940-1945).
O imóvel já serviu para diversas finalidades, desde fórum até sede de secretarias municipais, até ser totalmente desocupado no início dos anos 2000. A casa foi tombada pelo patrimônio histórico e pertence a prefeitura desde 2013, mas já sofreu dois incêndios.
Segundo a Secretaria de Cultura da Prefeitura, o processo de recuperação do espaço foi iniciado em outubro, quando foram realizados o isolamento da área, limpeza do local, desratização e análise de estrutura. A previsão da finalização da reforma é de sete meses. A ideia é que se torne o Centro de Formação de Educação.
Também em situação de abandono está a Casa Candinha, erguida na primeira metade do século 19 com taipa de pilão e que foi parte da antiga Fazenda Bananal.
O espaço está fechado. Segundo a prefeitura, “foi feita uma vistoria técnica para iniciar os serviços de prospecção arqueológica no local e no entorno”. A gestão diz que esta etapa é determinante para o desenvolvimento do projeto de restauro da edificação.
Questionara sobre os investimentos para preservação desses locais, a prefeitura diz que por conta da dívida herdada do governo passado não tem recursos para a restauração de patrimônios públicos.
Afirma que o atual governo está se empenhando para atrair parcerias com empresas dispostas a investir na conservação e preservação do patrimônio histórico.
“A preservação do patrimônio não é uma prioridade, seja o governo que for. Hoje, a nossa história está sendo dilapidada e destruída por omissão do poder público; o que reflete o cenário nacional”, avalia Guerra.
SINAIS DA HISTÓRIA
Fundada em 1560 pelo padre jesuíta Manuel de Paiva, Guarulhos nasceu com o nome de Nossa Senhora da Conceição. Tornou-se província em 1880 e conquistou o status de cidade em 1906.
A origem de Guarulhos está associada a mineração de ouro encontrado na região, que antes era habitada pelos índios Guarus, da tribo dos Guaianases. Na região funcionou um aldeamento, espaço criado pelos jesuítas com a tentativa de converter os indígenas.
Apesar dos espaços abandonados, ainda há locais que trazem marcas da história da cidade.
Entre eles estão a Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, inaugurada em 1685; a Praça Getúlio Vargas, de 1952; o Hospital Padre Bento (antigo sanatório para tratamento de leprosos), de 1931; a Igreja de Bom Sucesso, da segunda metade do século 19 e a antiga estação de trem da Tramway da Cantareira (trem que ligava São Paulo à Guarulhos).
Gleissieli Souza é correspondente de Guarulhos