Escritores das periferias recebem prêmio Suburbano Convicto
Lucas Veloso
Nesta quarta-feira (11), será realizada a 1ª edição do prêmio Suburbano Convicto, na região central de São Paulo. Concebido pelo produtor cultural e poeta Alessandro Buzo, do Itaim Paulista, na zona leste, o prêmio pretende valorizar os artistas e coletivos que produzem cultura nas periferias da capital.
A premiação também marca o fechamento da livraria Suburbano Convicto, que era mantida por Buzo no centro da capital, com obras de escritores das periferias. O último sarau no local foi realizado semana passada.
Ao todo, são 51 premiados, escolhidos desde setembro. Em cada categoria são cinco escolhidos, além de um prêmio extra a uma personalidade pelo conjunto da obra. As indicações foram feitas pelo coletivo Poetas do Tietê e pelo próprio Buzo, que soma de 19 anos de carreira, metade deles dedicados ao Sarau Suburbano.
“Vejo o prêmio como um reconhecimento ao autor periférico, que pode com isto ter uma maior visibilidade no cenário nacional”, analisa Rogério Gonzaga, 44.
Morador do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, Gonzaga é fundador da Academia Periférica de Letras, um selo editorial de publicações. “Muitas vezes, o mano aqui da sul, não conhece o trampo da mana da leste e vice-versa. O prêmio abre um leque maior de projeção aos autores”.
Gonzaga argumenta que escritores das periferias enfrentam dificuldades estruturais para ganhar destaque. “São poucos que conseguem se dedicar exclusivamente à literatura. E com isso, não participam de prêmios nacionais. E quando procuram sair, encontram as dificuldades de produção”, constata.
Para ele, as editoras maiores, que dariam uma projeção mais abrangente, cobram caro. “Vejo no Prêmio Suburbano Convicto, autores com potencial enorme, mas que dificilmente terão chances de participar de outros prêmios, pois não tem projeção maior”.
LIVRARIA SUBURBANO CONVICTO
Há 12 anos, Alessandro Buzo mantinha o espaço ‘Suburbano Convicto’ na região central de São Paulo. O local foi pioneiro na comercialização de livros e produções de artistas das periferias de São Paulo, mas foi fechado nas últimas semanas.
Buzo comenta que o motivo do fechamento não é o preço do aluguel, como foi divulgado, mas as baixas vendas, que não arcam com os valores de manutenção do espaço.
“Não vamos lamentar o fechamento, vamos celebrar o fim do ciclo. Foram anos de atividades e diversos momentos incríveis”, ressalta. “Estamos fechando com a consciência tranquila, fizemos tudo que era possível”.
Na segunda-feira (2/12) foi realizada a última edição do Sarau Suburbano, evento que era feito mensalmente no local.
A premiação será na Uninove (Rua Vergueiro, 235/249 – Liberdade).
CATEGORIA ESCRITOR DA PERIFERIA
Ferréz | 45 anos
Ferréz é o nome literário de Reginaldo Ferreira da Silva. Ele começou a escrever aos sete anos de idade. O primeiro livro, Fortaleza da Desilusão, foi lançado em 1997, com patrocínio da empresa onde trabalhava, mas a visibilidade chegou com o lançamento de Capão Pecado, em 2000, romance sobre o cotidiano violento do bairro do Capão Redondo, na periferia de São Paulo, onde vive o escritor.
Jenyffer Nascimento | 35 anos
Escritora, ativista, Jenyffer Nascimento nasceu em Pernambuco. Foi na adolescência que começou a escrever as primeiras letras de rap, forma para lidar suas angústias e esperanças. Participou da coletânea Sarau do Binho e tem poemas publicados na antologia “Pretextos de mulheres negras” (2013). O primeiro trabalho individual é “Terra fértil” (2014). As questões sociais, a vivência da mulher negra são alguns temas presentes em sua obra.
Marah Mends | 38 anos
Poeta e ativista cultural em São Paulo, Marah é formada em propaganda. Tem antologias poéticas e audiobook publicados em parceria com vários autores. Em 2014, lançou o romance “Amarguras de uma paixão”. Também é fundadora do “Poesia é da Hora”, projeto com ações socioculturais.
Márcio Costa | 45 anos
Professor de História e Geografia, o escritor Márcio Costa é autor da obra ‘Justas Palavras’, de 2014. A obra reúne textos publicados na internet em uma antologia que celebrou os 40 anos, em 2014.
MV Bill | 45 anos
Alex Pereira Barbosa, mais conhecido como MV Bill, é um rapper, escritor e ativista social. Iniciou a carreira na música na década de 1980. Em 2005, junto com Celso Athayde, publicou o livro ‘Cabeça de Porco’. No ano seguinte, lançou ‘Falcão – Meninos do Tráfico’.
Outras categorias:
Poeta da Periferia: Thata Alves, Alex Richard, Sérgio Vaz, Mariana Felix e Jô Freitas.
Livro: “Colecionador de Pedras” (Sérgio Vaz), “Negra, Nua e Crua” (Mel Duarte), “A Guerra Não Declarada na Visão de um Favelado” (Eduardo), “Terra Fértil” (Jennyffer Nascimento), “Elefantes têm Medo de Formigas” (Marah Mends).
Sarau: Sarau das Pretas, Cooperifa, Sarau do Ernesto, Vopo da Comunidade e Sarau D’Amelinha.
Slam: Slam das Minas, Slam da Guilhermina, Slam Preta, Slam Resistência e Slam do Capão.
Músico (cantor ou grupo): Mc Soffia, Leci Brandão, Thaíde, MC Marechal e Maria Pérola.
Coletivo Mais Atuante: Cooperifa, Cinema na Kombi, Mães de Maio, VOPO Vozes Poéticas e Asas Abertas.
Militância Feminina: Débora Garcia, Thata Alves, Luz Ribeiro, Pam Araújo e Sharylaine.
Militância Negra: Rappin Hood, Conceição Evaristo, Erica Malunguinho, Vanessa Soares e Cleyton Mendes.
Artista do Ano: Criolo, Karol Conka, Racionais MC’s, Petra Costa e Djonga.
Lucas Veloso é correspondente de Guaianases