Moradores montam presépio há 16 anos na periferia de São Bernardo
Girrana Rodrigues
Há 16 anos, Aparecida Oneda Guimarães, 71, monta um presépio de três metros de comprimento no Jardim Silvina, na periferia de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, para celebrar o natal.
O bairro é periférico, mas fica perto do centro da cidade e de um dos pontos mais altos do município, o Montanhão. “Jesus nasceu entre a comunidade e os bairros ricos, no alto da cidade”, compara Aparecida.
O presépio fica exposto numa sala anexa à igreja Maria de Nazaré. Tem sistema de água e luz. A manjedoura é adornada com folhas esverdeadas e flores roxas. As casas, feitas de isopor, são pintadas a mão, uma a uma.
O trabalho da montagem começou em outubro. A obra que representa o nascimento de Jesus é feita por ela com ajuda da família.
“Meu marido [Olavo Ferreira] foi motorista de ônibus da cidade durante toda a vida. No Natal, ele era artista. Começou a fazer o presépio em casa e, com o tempo, trouxemos para a igreja”, relembra.
Após a morte do marido, Dona Cidinha, como prefere ser chamada, e o filho, Eduardo Ferreira, 43, que também é motorista, ficaram responsáveis pela confecção do presépio. Atualmente, recebem ajuda de algumas pessoas do bairro para dar acabamento ao trabalho.
“Além de me aproximar das pessoas do bairro, é uma forma de lembrar meu marido. Adoro a igreja no [centro] do Presépio. Foi a última que ele fez quando estava vivo”, recorda Cidinha.
Na religião católica, os presépios simbolizam o nascimento do Cristo e devem ser montados quatro semanas antes do Natal.
Neste ano, a inauguração do Silvina contou com a presença de mais de 200 pessoas. Na tradição, ele deve ser desmontado todo dia 6 de janeiro, data que simboliza a chegada dos três reis magos à Belém. A visitação, porém, fica restrita até o dia 30 de dezembro.
Todos os visitantes devem contribuir com 1kg de alimento, que são doados para as pessoas do mesmo bairro. A administradora da igreja Iza Maria da Rocha, 53, conta que as contribuições aumentam a cada ano.
“Quando começamos eram 70 cestas, agora já são mais de 300 unidades”. Cada cesta tem mais de 20 kg de alimentos, como arroz, feijão, macarrão, óleo e sardinha. Para receber, a família precisa fazer um cadastro na igreja.
O presépio também é uma forma de lembrar a infância. “Gosto de ver a parte da comunidade. As casinhas, lembram como era a minha. Aqui no nosso presépio, quem menos tem é quem mais doa”, rememora Maria da Rocha.
O aposentado e morador do Silvina há 30 anos, Romário Lopes, 71, gosta tanto do presépio, que passou a ajudar na montagem dos sistemas elétricos. “Eu chamo as pessoas do bairro para verem nosso trabalho”.
Ele fica de domingo a domingo, sentado do banco, responsável por receber os visitantes e apresentar a obra de arte. Garante que o público não tem idade “De criança a adulto. Todo mundo fica encantado”.
SERVIÇO:
Funcionamento: todos os dias.
Horário: das 14h às 18h
Ingresso: 1kg de alimento.
Girrana Rodrigues é correspondente de São Bernardo do Campo