Líder comunitária cria geloteca para promover leitura na zona oeste de SP

Estela Aguiar 

Líder comunitária, Viviany Neve, 37, vive no Pelourinho, uma ocupação da zona oeste de São Paulo. Apaixonada por leitura desde a infância, ela tinha a ideia de criar um espaço cultural no local.

Foi assim que idealizou a geloteca, uma geladeira cheia de livros, localizada na entrada da comunidade (na avenida Engenheiro Heitor Eiras Garcia,  7443).

A ocupação foi criada em 2015 ao redor do Condomínio Franca, iniciativa do Minha Casa, Minha Vida. Ganhou o nome em referência ao bairro da cidade de Salvador, na Bahia, e conta atualmente com 138 famílias. 

Para criar a geloteca, Viviany teve ajuda de alunos do curso de Gestão de Recursos Humanos da Universidade São Judas Tadeu. “É um sonho primitivo, foi uma das primeiras coisas culturais que eu imaginei.”  

A iniciativa recebeu livros doados pelos alunos e a geladeira foi uma aquisição de conhecidos. A ideia é que quem pegue um livro possa compensar com outro.

Filha de Viviany na Geloteca (Luanna Romão/Agência Mural/Folhapress)

Ela conta que uma das inquietações sempre foi o acesso à cultura. Afirma que os jovens do bairro têm pouco contato com locais que fomentam a crítica, como uma simples biblioteca ou uma sala de cinema. 

“As pessoas não têm acesso à cultura no bairro, porque normalmente o lugar que tem, é preciso se deslocar e pagar para frequentar. Muitos possuem dificuldades financeiras para esse tipo de acesso”, diz.

Após implantar a geloteca, moradores solicitaram à subprefeitura do Butantã que a região seja batizada como “Praça do Saber”. Antes, o local era um ponto viciado de lixo e, com auxílio de moradores, virou um ecoponto. 

A líder comunitária quer ter gelotecas espalhadas por todo o bairro. “Quero colocar uma geladeira em cada praça do Jardim João XXIII, e chegar sei lá, até a Rua Barão de Itapetininga.” 

“Todo o esforço valeu a pena. As crianças leem e pedem para o pai ler, a mãe, o irmão mais velho, e aí eu vejo que consegui atingir o objetivo, que é o incentivo à leitura.”  

Viviany também trabalha com prestação de serviços de limpeza. Ela foi criada na zona oeste, no Jardim Boa Vista. Também viveu na zona sul e em cidades da Grande São Paulo, como Embu das Artes e Taboão da Serra. Até chegar ao Pelourinho.

“No começo [da ocupação] foi desafiador, momentos engraçados como pedir pizza porque não sabiam como chegavam aqui”, diz.

Ela foi eleita uma das líderes da ocupação, após a saída dos antigos participantes.

Para o futuro, ela almeja a regularização da Vila Pelourinho, para que todos possam ter a casa própria, e que “novos projetos possam florescer”. 

Estela Aguiar é correspondente do Jardim João XXIII