Ser professor é uma escolha e não falta de opção

Cíntia Gomes

Neste 15 de outubro, dia em que celebramos e parabenizamos professoras e professores, é importante refletirmos o quanto esta categoria ainda é desvalorizada pelo Estado e na sociedade. 

“Hoje, ser professor é ter quase uma declaração de que a pessoa não conseguiu fazer outra coisa”, disse recentemente o atual ministro da Educação, Milton Ribeiro.

Estamos em pleno 2020 e em meio à pandemia de Covid-19. Ano em que o ensino remoto, o papel do professor e a importância da escola na vida de todos passaram a ser temas de lives, reportagens e posts nas redes sociais.

Mesmo assim, a falta de consideração com quem se desdobra para levar educação e sofre com a falta de valorização permanece.

As desigualdades e os projetos envolvendo educação a distância, tão levantadas anteriormente, de alguma forma agora foram colocadas em prática. Vimos o que funciona e não funciona, o quanto é necessário olhar as realidades tão distintas e as necessidades de todos os envolvidos para que se busque uma educação inclusiva, respeitosa e de boa qualidade na rede pública e privada de ensino. 

Já fui aluna e encontrei pessoas e profissionais incríveis que contribuíram para a formação de muitos jovens e que sem eles não teríamos jornalistas, advogados, médicos, políticos, juízes, engenheiros, entre outros. Porque a educação é a base e sem os professores ela não existe.

Quando penso na minha infância e nas escolas que estudei no Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo. Uma das maiores lembranças que tenho é da professora Ana que, quando tinha quatro anos, foi quem me recebeu com todo carinho e dedicação lá no ‘prezinho’ (hoje atual EMEI). Foi onde aprendi a escrever o abecedário e as primeiras palavras. 

Lembro que quando fui para o Ensino Fundamental na escola Carolina Renno Ribeiro de Oliveira, no Jardim Santa Margarida, zona sul, eu já sabia escrever com letra de mão e acabei indo para uma outra turma que estava mais avançada. Que saudade da Professora Ana Lúcia e da prô Esmeralda.

Foi neste período que passei a ter sala de leitura semanal na biblioteca da escola com a professora Eda Luiz, que hoje é diretora do Cieja Campo Limpo e realiza um trabalho fantástico com jovens e adultos no processo de aprendizagem. Como amava ir lá escolher um livro para conhecer novas palavras e histórias.

Já no quarto ano teve uma mudança grande, não era apenas um adulto na sala de aula, algumas disciplinas novas apareceram com a Ana Cione, professora de Ciências, Lucila de português, Ismália de matemática, Alice de artes e Rita de educação física.

No EE José Lins do Rêgo, onde estudei até concluir o ensino médio, teve a professora  Alzira, Elizabete, Hildete, Jesuíno, José Eduardo, José Alves, Junior, Mário César, Suely e Vânia.

Foi o período em que presenciei também nascerem novos professores, como minhas três amigas Thaís Lemes, Tânia Santana e Jerlica Fernandes que escolherem a pedagogia como profissão. Mas nesses exemplos é importante dizer. Não foi por falta de opção e nem capacidade. E sim escolha!

Escolha de ajudar a sociedade a formar novos alunos, novos cidadãos, novos pensadores e novos profissionais. Além de dar ferramentas para crianças e adolescentes se desenvolverem e colaborar com seus bairros por meio da educação.

Ainda acompanho tantos outros amigos que escolheram lecionar e que realizam um trabalho incrível com crianças e jovens nas periferias dessa cidade. E aqueles que também em escolas privadas vão com a mesma missão e paixão pelo que fazem. 

É por isso que os citei aqui. É uma forma singela de homenagear e dizer que é com tanto carinho e agradecimento que recordo de todos e todas que passaram por esta minha trajetória escolar.

Aluno em sala de aula antes da pandemia

Cada um foi fundamental na minha vida, formação e na conscientização do que é ser cidadã, do que é ser uma profissional que ama o que faz. E no ensino médio foi onde encontrei incentivo também na entrada no ensino superior, de que era possível mesmo que para isso a dedicação precisasse ser maior.

Enfatizavam que dariam apoio para que eu e meus colegas chegássemos aonde quiséssemos chegar.

E foi possível. Na universidade, cursando jornalismo, foram tantos os professores incríveis dispostos a passar seus conhecimentos como a Alexandre Possendoro, Claudia Cruz, Chico Bicudo, Cristina Almeida, Egle Spinelli, Eliane Basso, Fábio Siqueira, Laerte Fernandes, Liana Vidigal, Luciana Santos, Nivaldo Ferraz e Rosi Rico, que optaram em contar suas experiências e ensinar na prática para os futuros profissionais da comunicação.

Sem exceção nenhuma, são por causa deles que mesmo em meio às dificuldades – muitas vezes com falta de estrutura, de apoio psicológico para lidar com a diversidade dos alunos e pais – eles estão lá, na sala de aula (ou na sala virtual na pandemia), se reinventando e buscando uma forma de tornar o processo de aprendizagem acessível.

Por meio da educação, eles e elas transformam a realidade de brasileiros e brasileiras de cada canto deste país. Por isso é preciso olhar e reconhecer o quão fundamental são esses educadores e educadoras e a honra que é tê-los presentes nas nossas vidas.

Cíntia Gomes é jornalista, cofundadora e diretora institucional da Agência Mural de Jornalismo das Periferias. 

cintia@agenciamural.org.br

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