A credibilidade do jornalismo está em ser transparente

Anderson Meneses

Eu imagino que você, assim como eu, já deve estar cansado de aceitar políticas de privacidade, cookies e termos de uso em cada novo link que abre no navegador.

São inúmeros botões que simplesmente clicamos no “li e aceito” sem mesmo ler o que estamos aceitando, não é mesmo?

Nos últimos tempos, o número desses botões aumentaram consideravelmente por conta da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, conhecida como LGPD, que entrou em vigor no Brasil em setembro de 2020.

Ela garante que todo brasileiro é titular de seus dados pessoais, ou seja, todos nós, pessoas físicas, que vivemos no Brasil e que temos informações sobre nós coletadas e tratadas pelo poder público e por entidades do setor privado, como empresas e associações, temos novos direitos garantidos pela lei.

Eu não sabia disso até pouco tempo atrás quando o nosso advogado Pedro Fonseca trouxe o tema em um workshop para a redação da Agência Mural. 

Parece até estranho a gente estar conversando sobre uma lei que fala sobre dados pessoais de um lugar onde nem o saneamento básico e água chegaram direito, onde temos menores esperanças de vida, pois até oxigênio está faltando.

Mas em tempos sombrios, como o que estamos passando neste momento, onde a falta de transparência e as mentiras tomam conta, precisamos lembrar que os leitores e as leitoras são aqueles e aquelas para quem trabalhamos, para quem praticamos jornalismo. Eles e elas, moradores e moradoras das periferias, também precisam conhecer seus direitos.

Aliás, quem nunca foi praticamente obrigado a informar o CPF na farmácia para comprar um simples analgésico? E alguém sabe o que foi feito com esse dado posteriormente? 

Na Mural, acreditamos que o tratamento correto e transparente dos dados pessoais dos cidadãos e cidadãs brasileiros é uma questão séria, relevante e que precisa ser acompanhada de perto por todos nós. E por isso decidimos publicar uma política de privacidade e proteção de dados para que leitores e leitoras tenham vontade de ler até o fim do termo, exigido em lei, e para que entendam o que estamos fazendo com seus dados pessoais. 

Na redação fugimos dos jargões e juridiquês e criamos “um documento jurídico escrito em português padrão, sem necessidade de tradução”, como o nosso advogado, que redigiu o texto, define bem.

Levamos muito a sério a transparência como valor. Em 2019,  fomos  um dos primeiros veículos brasileiros, ao lado da Agência Lupa, Folha de S. Paulo, Nexo Jornal, O Povo e Poder360, a aderir ao Projeto Credibilidade, movimento global para combater a desinformação e aumentar a transparência no jornalismo. 

Por isso escolhemos não publicar uma política e apenas cumprir um protocolo que você, leitor, leitora, vai fingir um “li e aceitei”. Nossa escolha foi mostrar que nós respeitamos você. 

Anderson Meneses é codiretor e cofundador da Agência Mural de Jornalismo das Periferias.
anderson@agenciamural.org.br