Dia do Trabalho: os invisíveis essenciais em mais de um ano de pandemia

Paulo Talarico

De segunda a domingo, Mariana pega o ônibus para trabalhar em uma loja no centro de Osasco, na Grande São Paulo. O local que vendia produtos como materiais de limpeza e brinquedos incorporou alimentos como o arroz para se tornar um serviço essencial. 

O fato de a loja não ter fechado definitivamente a alivia, apesar da lotação, das filas que se formam ao redor para entrar. Ela precisa do trabalho para conseguir manter a casa, alimentar a filha e pagar as contas da casa. 

Nunca duvidou dos riscos do coronavírus (sabe dos perigos da doença, já perdeu familiares), mas a única opção disponível que tem é pegar o ônibus cheio e seguir. 

Desde março do ano passado, a ideia de “trabalho essencial” entrou nas conversas do dia a dia. Primeiro, os serviços que teriam de seguir funcionando para manter o abastecimento como o transporte público e mercados. Ao mesmo tempo, a falta de renda e de apoio como o auxílio emergencial segue levando mais gente para as ruas. 

É nessa conta, sem poder aglomerar, que chegamos a mais um Dia do Trabalho neste sábado (1º de maio). Será o segundo em pandemia e marcado pela exposição dos que precisam seguir nas ruas – o que atinge boa parte dos moradores das periferias.

Operadores de caixa, como Mariana, estão entre as profissões que mais tiveram alta de mortes no ano passado – aumento de 67% em janeiro e fevereiro deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado, antes da pandemia. Frentistas de posto de gasolina  (com alta de 68%) e motoristas de ônibus também estão nessa lista. Os dados são da Lagom Data, publicados no El País.

Os números são do Ministério da Economia e por meio deles não é possível saber a causa das mortes. No entanto, esse excesso no ano que a pandemia começou indica o peso da Covid-19 para quem não pode parar. 

Além disso, esses são dados sobre trabalhadores com carteira registrada e não estão na margem informal, os “invisíveis” nas palavras do ministro da Economia. 

Desde o começo da pandemia, a Agência Mural tem conversado com moradores e moradoras que trabalham para manter a renda com atividades que estão fora do registro. 

Caso do Lucas, jovem e que desempregado começou a vender máscaras nas ruas de Itaquera. “A gente precisa trazer um leite, uma fralda. [Se meu filho precisar] Vou falar: ‘filho, espera aí que tem o corona lá fora’?”, questiona. “Não dá, a gente tem que meter as caras mesmo.”

Ou dos entregadores e entregadoras que mantiveram boa parte da economia em funcionamento, apesar das condições não favoráveis. Desde o ano passado, protestos por mais apoio à categoria e por melhores condições de trabalho para os entregadores têm ocorrido pelo Brasil. 

“Esse trabalho nosso não é muito valorizado. É taxa pequena, você pode ser assaltado, atropelado, pode morrer aí na rua e eles [aplicativos] não se responsabilizam por nada, eles não vêm com nada. Você tem que arcar com tudo”, dizia o desabafo de um entregador no meio do ano passado.

“Tem o que comemorar?”, questiona Danilo, que vende churrasco em São Paulo, sobre o Dia do Trabalho. Numa semana que ultrapassamos as 400 mil mortes por Covid-19 e a exposição ao vírus segue em alta, com as medidas para redução de salários e jornadas anunciada pelo governo, há poucos motivos para celebração. 

Mas há muito o que mudar.

Paulo Talarico é editor-chefe da Agência Mural