Educação midiática e jornalismo em educação: precisamos dos dois!
Cíntia Gomes
Nos últimos anos, com a tão famosa “crise” no nosso setor, veículos especializados em educação foram deixando de existir, as editorias de educação nos jornais impressos e sites foram incluídas em outros temas mais abrangentes como cotidiano, cidades e geral.
E quando ganham destaque, as reportagens sobre educação são mais pautadas pelos anúncios governamentais, como a realização do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) ou o corte de bolsas da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
Há poucas histórias e poucos veículos com espaço e recurso para cobrir um tema tão importante no dia a dia. E são poucos os jornais com um profissional especialista em educação.
Essa cobertura jornalística como temos atualmente, só reforça o quão necessário é investir e cuidar de outra educação, a midiática, que está ligada diretamente a quem produz e quem consome notícia.
Ter acesso e saber consumir informação faz hoje parte das habilidades que todo cidadão precisa ter para se mover no mundo, no seu cotidiano. A educação midiática, como tem sido chamada mais recentemente, contribui para que as pessoas possam ser críticas sobre o que leem, assistem e ouvem na imprensa.
Não é tão simples quanto parece. Por estarmos conectados a todo instante e atualizados com tudo que acontece, principalmente pelas mídias sociais, torna-se cada vez mais complexo buscar informação confiável, o que facilita a disseminação de conteúdos falsos, enganosos ou de pura propaganda.
Com o tempo, nós fomos descobrindo que temos de fazer as duas coisas ao mesmo tempo: cobrir o acesso e a qualidade da educação que acontece nas periferias, cuidar da formação dos jovens profissionais que passam pela nossa rede e, mais que nunca, contribuir para que nossa audiência consiga nos ler, nos assistir e nos ouvir de forma crítica e inteira.
A educação midiática não só contribui para um cidadão mais conectado e crítico, mas também possibilita que os jovens jornalistas enxerguem novas perspectivas das informações e ampliem a narrativa que se produz sobre onde vivem.
Recentemente o Redes Cordiais lançou um guia para capacitar cidadãos a aplicar com autonomia métodos de mensuração de impacto a projetos de educação midiática.
A Agência Mural contou ali sua experiência, mostrando que era preciso investir mais em educação midiática, principalmente fazendo com que as pessoas possam passar pela vivência de participar deste “fazer jornalístico”.
Percebemos sempre que quando um estudante ou morador tem contato com esses jornalistas, que cresceram e nasceram no mesmo bairro que ele, acontece uma identificação, ele se sente representado. Passa a questionar mais e observar outros argumentos e a refletir mais sobre o que é falado sobre ele, sobre seu bairro, sua escola e seu entorno.
Não basta fazer jornalismo para nós, jornalistas. Não basta ser ético e garantir a qualidade técnica do que fazemos. É preciso chegar até a audiência, é preciso dialogar com ela, é preciso ser relevante para ela, é preciso ser compreensível e ter impacto real na vida dela. A informação que fazemos circular precisa ter sentido. E aí entra o jornalismo em qualquer área, seja em educação, cultura, política, entre outros.
É preciso buscar formas de que a educação midiática esteja presente na vida cotidiana e na formação cidadã dos indivíduos. Por meio de um jornalismo ético, confiável, diverso e representativo, conseguimos amplificar vozes, conectar territórios e assim democratizar a produção, a circulação e a distribuição de informação.
Cíntia Gomes é jornalista, cofundadora e diretora institucional da Agência Mural de Jornalismo das Periferias.
cintia@agenciamural.org.br