“Os memes da notícia ficaram ótimos”: jornalismo e redes sociais

Ingrid Fernandes

Você pode não me conhecer, mas se acompanha as redes sociais da Agência Mural, temos mais intimidade do que você pensa. Por trás dos memes, das mensagens e até das publicações em primeira pessoa, há alguém que trabalha para esmiuçar o funcionamento dos algoritmos e garantir que a informação chegue até aí.

Diferente da televisão, o entretenimento anda de mãos dadas com a informação nas redes sociais. Tanta coisa disputa a nossa atenção de uma só vez que aquela olhadinha para ver se não chegou nenhuma mensagem se transforma em pelo menos meia hora de feed rolando abaixo.

Neste cenário, como manter a relevância das redes sociais de uma organização de jornalismo das periferias?

Ao lado do amigo e parceiro de trabalho, o designer e ilustrador Magno Borges, também conhecido como “o mago das canetas”, viramos  a identidade da Mural de ponta cabeça no ano passado para responder esta pergunta.

Pesquisamos e analisamos os dados sobre nossa audiência, escutamos jovens das periferias, resgatamos nossas referências para trazer uma pegada mais irreverente para as composições visuais e publicações.

Ingrid Fernandes é responsável pelas redes sociais da Agência Mural e fala sobre como abordar assuntos densos com ares despojados (Arquivo Pessoal)

Não foi um processo simples equilibrar a mensagem séria, o compromisso com a verdade que é a alma do jornalismo, e vesti-la com ares despojados.

Numa conversa que a gente teve, o Magno lembra que “no começo, tentávamos ser mais rígidos, mas aos poucos as cores e as formas divertidas foram se apossando.”

Segundo ele, “quando uma reportagem chega da Redação e precisa ir para as redes, mais do que tentar resumir o conteúdo, pensamos em como ela pode funcionar como uma informação por si só”.

Fomos percebendo que longos textos ou dados sem contextualização não funcionam porque, como bem lembrou Magno, “ali não é o lugar desse tipo de coisa.”

Um de nossos truques para reelaborar este conteúdo é, depois de ouvir atentamente a história, procuramos uma pergunta que nos ajude a recontá-la. Ao redor dela, remontamos os fatos, organizamos os dados e produzimos um roteiro que orienta a produção de infográficos, cards, ilustrações.

Como lugares de encontro virtuais, as redes sociais dissolvem as fronteiras físicas que separam as quebradas e as articulam ao redor do debate sobre o que as impacta no dia a dia. Para trocar uma ideia sobre o que está pegando, não é preciso pegar três ônibus para encontrar alguém que mora no outro canto da cidade.

É essa conexão em rede que permite, por exemplo, a comparação de situações que acontecem em diferentes periferias, que nos aproxima dos vizinhos de nossos vizinhos e facilita até a participação de todas essas pessoas na produção dos conteúdos.

Mesmo conhecendo a vida nas periferias e tendo cerca de 70 correspondentes de diferentes quebradas, só saberemos a relação das pessoas com o consumo de notícias, suas referências, os veículos e influencers que acompanham se nós perguntarmos — e  se ouvirmos as respostas. 

Acaba que, depois deste processo de planejamento estratégico, a escuta de quem nos ouve, nos lê e nos segue se tornou uma das maiores tarefas por aqui. Mas não é sempre que se vê a olho nu este carinho cotidiano com que respondo geral. É quase como se as conversas que tenho com quem nos procura para contar um causo ou tirar uma dúvida fosse um segredo, uma confissão.

Quer saber mais sobre tudo isso? Segue a gente! 😉

Ingrid Fernandes é responsável pelas redes sociais e distribuição de conteúdos na Agência Mural de Jornalismo das Periferias