Um “vacinômetro” contra a desinformação
Cleber Arruda
A estudante de jornalismo Bruna Rocha, 21, acordou às 4h da manhã da última quarta-feira (18) ansiosa para vacinar contra Covid-19 no posto de saúde do seu bairro, em Pituba, Salvador. Na noite anterior, seu nome não constava no registro e ela fez um recadastro.
Saiu de casa antes das 6h e conseguiu o quarto lugar na fila de espera, onde encontrou três amigos. Até o início da vacinação, que deveria começar às 8h e atrasou meia hora, Bruna viu o tempo fechar e um temporal cair sobre eles, em mais um teste de resiliência nesta saga.
“Estava aguardando que a vacina fosse no domingo, mas suspenderam. Depois, quando finalmente achei que seria na terça, o governo adiou novamente.”
Passado o susto com a situação cadastral, a espera de dias e horas e o mal tempo, Bruna, nossa correspondente da Agência Mural na capital baiana, saiu da unidade de saúde com muitas fotos e vídeos da ocasião, e entrou para uma estatística que tem surtido um efeito comemorativo na nossa rede: criamos um ”vacinômetro”.
Sim, temos uma tabela com os nomes dos nossos atuais 97 membros da Mural, na Grande São Paulo e em Salvador, em que preenchemos voluntariamente nossas idades, datas de vacinação contra Covid-19 e o nome das vacinas que tomamos.
A ideia vai além de acompanharmos e celebrarmos cada membro vacinado, queremos fortalecer e defender a vacinação como forma de proteção e ajudar a multiplicar este sentimento entre as redes de cada um dos muralistas.
Atualmente, conversando com outros muralistas e outros familiares, a sensação é que ainda há um trabalho intenso a ser feito no campo de informar sobre a importância da vacinação, sobretudo o de combater o fluxo de desinformação existente a respeito do tema.
Tamanho das filas, negacionismo, questões políticas, dúvidas a respeito da eficácia são algumas das razões que as pessoas apresentam para não querer vacinar.
Nas últimas semanas, com as vacinações das pessoas com idades entre 20 e 30 anos, os números da nossa tabela “decolaram”, já que grande parte da nossa rede está nesta faixa etária. No total, temos 98% dos muralistas vacinados com a primeira dose, e 22% vacinados já com a segunda dose.
A única muralista que não vacinou até o momento estava com Covid-19 e deve se vacinar até o fim deste mês.
Já vacinada com as duas doses, a correspondente do Capão Redondo, Suzana Leite, 24, foi a primeira a ser vacinada da turma. Recém-chegada à nossa rede, em janeiro, ela trabalhava como agente comunitária quando recebeu a primeira dose.
“Não tenho comorbidades, mas estava na linha de frente no posto. Realizava duzentas e poucas visitas por mês, organizava filas, alertava os pacientes, e por ter esse contato direto com o público, fui vacinada”.
Da experiência, Suzana conta ter encontrado um cenário diferente do atual, com muito mais desinformação a respeito da vacinação. “Tinha muita recusa, as pessoas estavam indecisas, queriam saber a origem da vacina, e muitos idosos deixaram de tomar a vacina”.
Mesmo após a primeira dose, Suzana conta ter contraído a covid-19 duas semanas depois e ter ficado mal. “Tive que me afastar e quando retornei, as pessoas ficaram surpresas porque elas não acreditavam que isso era possível. Então, falta informação.”
A imunização completa acontece depois da segunda dose, mas mesmo assim, ainda são necessários cuidados.
Em Guarulhos, o casal de muralistas Thalita Monte Santo, 28, e Jordan Mello, 35, se vacinou recentemente.
“Nós estávamos com muitas expectativas, uma porque eu estava amamentando e outra pela imunização mesmo. Quando liberaram para puérperas, eu tinha passado da fase e não consegui. Ia todos os dias ao posto perguntar se já tinham liberado para lactantes, mas não foi o caso de Guarulhos, como ocorreu em São Paulo”, lamentou.
Thalita conta que tentou se cadastrar diversas vezes no site da prefeitura sem sucesso. Com isso, o casal esperou a idade. “O Jordan se vacinou primeiro e já foi um alívio. E na mesma semana, eu consegui também. A gente fica muito feliz quando são pessoas próximas, ainda mais porque pessoas da família dele faleceram. E quando chegou a minha vez foi uma emoção indescritível.”
Enquanto isso, nós vamos comemorando nossa tabela cada vez mais preenchida e compartilhando do efeito tranquilizador das fotos e posts dos colegas vacinados nas redes sociais.
Cleber Arruda é cofundador da Agência Mural e editor do projeto em Salvador