O jornalismo independente precisa da sua participação

Anderson Meneses

Principal jornal da Rocinha, favela do Rio de Janeiro, o Fala Roça foi criado há nove anos por um grupo de jovens da região, dentre eles Michel Silva. Nele são contadas histórias de moradores da comunidade que é uma das maiores no Brasil. No entanto, esse trabalho corre riscos.

Apenas em 2020, o jornal conseguiu um financiamento para manter a distribuição constante e garantir o trabalho de uma equipe de 5 pessoas. Mas o investimento está chegando ao fim e não é possível afirmar que o veículo vai se manter vivo nos próximos meses.

O risco do Fala Roça e de outras organizações das periferias afeta um direito básico e a democracia nessas regiões.

Acredito que uma democracia precisa de cidadãos e cidadãs bem informados, para que possam participar dela e fazer escolhas. E uma das condições para sustentar um regime democrático saudável está em garantirmos um ecossistema de notícias, onde o jornalismo praticado seja de qualidade, transparente, ético e que construa e mantenha sua credibilidade com seu público. 

Na prática isso se dá com jornalistas informando ou contando as histórias de moradores de um bairro, por exemplo.

Mas como garantir a duração desse trabalho?

Como muitos já sabem, a Mural marcou seu nascimento em 2010, e assim como o Michel, apenas oito anos depois conseguimos nosso primeiro recurso. Foi aí que começamos a falar de “negócios” para continuar cumprindo nossa missão com cada vez mais impacto. 

Sou um dos responsáveis por pensar novos modelos de negócios na Agência Mural. E para isso, a gente tem recorrido bastante àquele famoso provérbio africano: “Se quer ir mais rápido vá sozinho, mas se quer ir mais longe, vá acompanhado”. 

Temos  investido tempo e energia, criando uma rede de apoio e estreitando este diálogo direto com esta audiência, que não apenas acredita no jornalismo que fazemos, mas que quer estar em conversa conosco para fazê-lo melhor e maior.

Decidimos chamar o nosso programa de apoio de “Tijolo Por Tijolo”, em referência às construções que fazemos em nossos bairros, um a um e em comunidade. Atualmente 75 pessoas enchem a laje da Mural. 

Nosso programa de apoio faz parte de uma visão de sustentabilidade que tem como objetivo não apenas nos fazer continuar a existir, mas que garanta nossa existência com independência, no longo prazo.

Tipos de fontes de renda da Agência Mural nos últimos anos. Dados atualizados até julho de 2021

Para comemorar nosso aniversário de 11 anos, em novembro, lançaremos um novo site. Ele foi pensado e está sendo desenvolvido para entregar o jornalismo que fazemos com ainda mais cuidado aos leitores. E a maior preocupação é fazer com que o site continue oferecendo o conteúdo que produzimos sem barreiras para os leitores.

Atualmente 37 milhões de brasileiros vivem nos chamados desertos de notícias, segundo o Atlas da Notícias de 2020. São municípios, onde vivem 18% da população brasileira, que não possuem presença de veículos jornalísticos.

E não é preciso ir longe, ao lado da capital paulista, cinco cidades não contam com um meio de informação, segundo o estudo, com um total de 382 mil moradores. E não podemos esquecer que os bairros periféricos ou as favelas também podem ser consideradas “mini desertos”. 

Só a Rocinha, no Rio, possui 70 mil moradores. Paraisópolis, 100 mil. Pirituba, onde eu cresci, são mais de 167 mil. Bairros inteiros, com vidas cotidianas únicas, que carecem de informações independentes para que sua população possa votar, cobrar os governantes e saber sobre serviços, problemas e acontecimentos específicos daquela localidade.

Reduzir as desigualdades de informação –aquela que é produzida e a que está disponível para os cidadãos– é também parte importante na luta contra a desigualdade social. A informação correta dá caminhos aos cidadãos para que acessem seus direitos. 

E aqui fica o convite, se você puder, encontre a sua tribo e colabore com o jornalismo. Você pode colocar um tijolinho na Mural, incentivar o jornal Fala Roça ou então apoiar 20 outros veículos digitais que selecionei, mas, como eu disse, esta é minha sugestão. 

Felizmente, o país está cheio de novas organizações jornalísticas de qualidade. Apoie uma delas!

  1. AzMina
  2. Mídia Índia
  3. Nós, mulheres das periferias
  4. Favela em Pauta
  5. Amazônia Real
  6. Gênero e Número
  7. Cajueira
  8. Agência Eco Nordeste
  9. ponte
  10. ((o))eco
  11. Olhos Jornalismo
  12. Catarinas
  13. data_labe
  14. Alma Preta
  15. O joio e o trigo
  16. Meus Sertões
  17. Periferia em Movimento
  18. Mídia Caeté
  19. Desenrola e não me enrola
  20. Marco Zero
  21. Bônus: A Ajor tem um monte de novos associados, gente pequena… dá uma olhada lá!

Anderson Meneses é codiretor e cofundador da Agência Mural de Jornalismo das Periferias.
anderson@agenciamural.org.br

Erramos: o texto foi alterado

O Fala Roça foi criado por um grupo de jovens da região e não só por Michel Silva, com publicado inicialmente.