Mural https://mural.blogfolha.uol.com.br Os bastidores do jornalismo nas periferias de SP Mon, 27 Dec 2021 13:12:41 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Fake news atrapalham o combate à Covid-19 nas periferias https://mural.blogfolha.uol.com.br/2020/05/05/fake-news-atrapalham-o-combate-a-covid-19-nas-periferias/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2020/05/05/fake-news-atrapalham-o-combate-a-covid-19-nas-periferias/#respond Tue, 05 May 2020 18:37:11 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2020/05/WhatsApp-Image-2020-05-05-at-15.12.42.jpeg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=17300 Vagner de Alencar

Antes de começar este texto, recorri a um dos grupos de família, no WhatsApp, para saber qual havia sido a última notícia falsa recebida por lá. Em instantes, uma tia me encaminha uma imagem de máscaras verdes sobre uma mesa, acompanhada por um áudio de 57 segundos. 

A voz, em tom imperativo, é de um homem “informando” (para não dizer desorientando) outras pessoas a não receberem máscaras doadas:

“Boa noite, essa máscara já chegou da Argentina. Tô avisando a todos que não usem isso. Quem usar, com certeza, vai morrer. Amanhã já estará em Cariacica, Grande Vitória, Vila Velha, todos esses lugares. Eles vão entregar isso na fila de banco, nos postos de saúde. Ela vem com o número da besta: 666. Veio com essa cor aí, verde. Então nem se aproxima disso. E avisa todo mundo, seus contatos, por favor, com urgência. Se for para ficar até a noite inteira espalhando, então espalha.”

O pedido parece ter funcionado. O áudio do homem, aparentemente do Espírito Santo (por conta das cidades citadas), chegou aos ouvidos de minha tia, em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo. 

Na segunda maior favela de São Paulo, desde o começo da pandemia, uma megaoperação foi montada por lideranças locais para combater o coronavírus. Recentemente, até mesmo duas escolas públicas se tornaram hospitais de campanha para abrigar moradores infectados pela Covid-19.

Embora assistam, a olho nu, a toda essa mobilização na favela, uma parcela da população acreditou na fake news (fortemente pautada pela religião). Uma profissional de saúde da comunidade me relatou ter tido máscaras dispensadas por moradores por conta da mensagem. 

Enquanto o noticiário se esforça para informar e orientar a população sobre cuidados e prevenção (reportagens têm desmentido essas informações sobre as máscaras), o poder de notícias falsas como essa segue na direção contrária à luta pela sobrevivência e contribui para potencializar ainda mais as mortes nas periferias. 

Segundo uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira (4) pela Avaaz, o Brasil é o país que mais acredita em fake news no mundo. Cerca de 100 milhões confiaram em informações mentirosas sobre a Covid-19, por exemplo. 

Ainda de acordo com o levantamento, o WhatsApp e o Facebook são, respectivamente, as duas maiores plataformas propagadoras de notícias falsas. Na primeira, 6 em cada dez pessoas já receberam esse tipo de conteúdo, enquanto na segunda foram cinco a cada dez.

A situação preocupa enquanto o número de casos avança para as bordas da cidade.

Nas periferias paulistanas, o número de mortes pela Covid-19 só cresce. Nos últimos 15 dias, houve um aumento de 94%, na soma dos casos suspeitos e confirmados, segundo a Secretaria Municipal da Saúde

Os distritos da Brasilândia e Sapopemba lideram o total de mortos, com 100 óbitos, enquanto nos 20 distritos mais ricos, nenhum chegou a 50 mortes.

Se as populações periféricas estão sendo as maiores vítimas do vírus, sobretudo por conta da desigualdade agora mais latente, a desinformação certamente só ajudará a potencializar ainda mais mortes.

De volta ao grupo de WhatsApp da família, o retrato do alastramento dessas notícias continua. Uma prima me encaminha outra fake news. Dessa vez, sobre relação entre as máscaras e o banco começou nas últimas semanas. 

Essa mesma fake news dizia que o aumento dos casos de Covid-19 se daria pelas ‘máscaras contaminadas’ e que colocariam a culpa nas filas para o saque do auxílio emergencial.

Como se o perigo real não fosse ir para a fila sem máscara e a aglomeração que milhares de moradores das periferias têm enfrentado para conseguir os R$ 600. Veja só um trecho da mensagem, também gravada por um homem:

“Não vão pegar o dinheiro. Tá passando perrengue, deixa o banco esvaziar as filas. Não pega máscara dada pelo governo. A partir da semana que vem, quando chegar máscaras da China, povo brasileiro vai morrer igual mosca. Isso é tudo programado. Quem puder, divulga esse áudio. Se a gente espalhar pra 50 pessoas que a gente gosta, já vai estar ajudando.”

Felizmente minha prima descartou a desinformação e continua protegendo a si e aos filhos. O mesmo não pode ser dito em relação a outros milhões de brasileiros, que muitas vezes se apoiam em notícias falsas por descrença ou fanatismo religioso.

Vagner de Alencar é diretor de jornalismo da Agência Mural de Jornalismo das Periferias
vagnerdealencar@agenciamural.org.br

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Cem dias depois, Paraisópolis quer notícias além da tragédia https://mural.blogfolha.uol.com.br/2020/03/10/100-dias-depois-paraisopolis-quer-noticias-alem-da-tragedia/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2020/03/10/100-dias-depois-paraisopolis-quer-noticias-alem-da-tragedia/#respond Tue, 10 Mar 2020 14:20:05 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/Paraisópolis_Leu-Britto-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=17182 Vagner de Alencar

Há quase dez anos, escrevo sobre o cotidiano de Paraisópolis, a segunda maior favela de São Paulo. Tudo começou aqui no blog Mural. Assim como os outros 80 correspondentes, todos espalhados pela região metropolitana, buscamos descortinar a visão ainda estereotipada das periferias. 

Minha história com a comunidade é antiga. Em 1995, minha família se mudou da Bahia para Paraisópolis. Por lá, vivi em pelo menos cinco endereços diferentes. Todos eles em vielas que, por exemplo, sequer existem para os Correios. 

Nesta segunda-feira (9) se passaram cem dias em que uma dessas dezenas de vielas foi cenário de uma das maiores tragédias recentes do noticiário nacional. 

Nove jovens que ficaram encurralados em uma ação policial morreram pisoteados durante o baile funk Dz7, o pancadão mais famoso da cidade.

Apesar de nunca ter sido frequentador, sempre acompanhei a relação dicotômica envolvendo a festa que chega a reunir até 20 mil pessoas em um único fim de semana. 

Por consequência da tragédia, Paraisópolis recebeu todos os holofotes possíveis. Naturalmente. Acompanhar o caso e ter mais notícias do que aconteceu é sobretudo uma demanda de quem vive na região. 

Só que, se de um lado, a comunidade cobra respostas dos abusos, do outro, os moradores necessitam de outras informações sobre onde moram. 

Nos últimos três meses, porém, a cobertura da imprensa sobre Paraisópolis ainda se resume ao noticiário policial. 

Não preciso ir muito longe. Basta digitar “Paraisópolis” no campo de busca do Google; ou, para ser ainda mais preciso, procurar, via Google Trends, os termos mais associados à favela nesse período. A resposta: “tragédia”, “vítima”, “massacre” são as palavras mais associadas ao bairro. 

A comunidade, no entanto, é maior e muito mais do que um retrato trágico. Ali vivem hoje​ cerca de 100 mil pessoas, que formam em torno de 25 mil famílias, sendo 80% delas nordestinas​. ​

Uma região de quase 800 mil m² com um comércio com mais 8.000 estabelecimentos​, entre​ agências bancárias, clínicas veterinárias, casas de show​, grandes redes de produtos de consumo​.

Aqui no blog Mural, em especial, tentei mostrar a Paraisópolis que sempre esteve ali, porém descoberta, com espanto ora encantamento, por quem a via apenas pelas notícias de ocupação policial ou pela visita de celebridades ou políticos em tempos de eleição, a cada dois anos — como deve acontecer nos próximos meses. 

A comunidade onde vive o Antenor, que construiu uma casa com mais de 20 mil garrafas pet, àquela onde os moradores protagonizam uma relação de amor e ódio em relação ao baile funk da D17.

Os holofotes devem continuar sobre a resolução da tragédia recente. Precisamos acompanhar o andamento do inquérito que apura o caso.

E sobre ele: no dia 7 de fevereiro, a Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo concluiu o Inquérito Policial Militar sobre a conduta dos 31 PMs envolvidos na tragédia e pediu arquivamento da investigação. Já a Polícia Civil, por meio do DHPP [Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa], ainda investiga a operação da PM.

Apesar de não viver mais em Paraisópolis, meu vínculo por lá se mantém a partir dos familiares e amigos, e das visitas constantes. 

A luz do jornalismo precisa estar acesa para outras histórias (Vagner de Alencar/Agência Mural/Folhapress)

E para além das investigações sobre as mortes, gostaria, assim como todos os  moradores com os quais conversei, ver na imprensa a pluralidade de histórias que podem ser contadas sobre a favela.

Sobre a entrega do Parque Paraisópolis, criado em lei de 2008 e prometido pela Prefeitura de São Paulo para ser aberto neste ano.

Sobre o Niel Santos, tatuador criador do “Cicatriz de Cor” para atender, a baixo custo, clientes com cicatrizes  de violência doméstica a acidentes automotivos.

Sobre os problemas enfrentados pela população pela não canalização do Antonico, córrego que corta boa parte da comunidade, gerando alagamentos em períodos chuvosos.

As luzes do jornalismo precisam estar acesas para outras histórias, escondidas (ou não) entre tantos becos e vielas. Não só de morte. Pelo contrário. De vida. Não apenas sobre Paraisópolis. Mas de todas as periferias paulistanas, brasileiras. 

Vagner de Alencar é jornalista, cofundador e diretor de jornalismo da Agência Mural de Jornalismo das Periferias. 
vagnerdealencar@agenciamural.org.br 

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Leilão destaca obras de André Lessa, artista da periferia que transforma lixo em arte https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/11/13/leilao-destaca-obras-de-andre-lessa-artista-da-periferia-que-transforma-lixo-em-arte/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/11/13/leilao-destaca-obras-de-andre-lessa-artista-da-periferia-que-transforma-lixo-em-arte/#respond Wed, 13 Nov 2019 16:59:10 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/DSC_0545-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16990 Luis Nascimento

Desde criança, Andre Lessa, 20, gostava de fazer arte. Morador de Pedreira, da zona sul de São Paulo, ele começou a cobrar pelo trabalho aos 15. O artista busca retratar a periferia e o ser periférico, por meio de materiais encontrados no lixo.

“No começo, era uma forma de protesto pela falta de acesso aos materiais, mas depois de perceber o tanto de coisas que as pessoas descartam, coisas boas, ou que poderiam ser transformadas, eu percebi que todo o lixo pode virar arte”, afirma.

O fruto desse trabalho estará no leilão “Periferia em Foco”, neste domingo (17), no Balneário São Francisco. A venda de peças será organizada pela produtora Firminius Art., criado pela artista visual Mariana Firmino, 19, também moradora do distrito de Pedreira. O projeto tem o objetivo de democratizar a arte na periferia. 

A inspiração para restaurar vem do trabalho da mãe. Hoje, Lessa tem um conceito de reutilizar e reaproveitar materiais. “Muitas das minhas obras são feitas em fundos de guarda roupa que achei no lixo. Tenho obras feitas com caco de vidro, madeira de construção e de outras coisas que as pessoas descartam nas ruas”.    

Lessa reaproveita materiais para fazer obras (Luís Nascimento/Agência Mural/Folhapress)

Lessa é neto de migrantes do Nordeste e desde pequeno mora com a família no bairro que tem grande número de nordestinos. É dessa referência que ele diz que vem a inspiração para as obras, além de pichações e grafites de São Paulo. 

“Minha inspiração vem da vivência de crescer em uma região periférica e todo peso que isso carrega, principalmente quando você vai para o “lado de lá” da ponte”, diz Lessa.

“Hoje meu trabalho tem muita coisa da cultura nordestina, da xilogravura (arte milenar que utiliza impressão em alto relevo), da arte de rua paulistana, de arte de galeria, da música, misturo tudo e dou meu toque”, relata. 

As obras são marcadas por personagens denominados por Lessa de “Os Buneco”. “Os Bunecu representam os negros, os índios e os asiáticos, por isso cada um tem uma cor e variam as formas”, ressalta Andre. 

“O objetivo é mostrar a diversidade de pessoas e culturas que temos em São Paulo e no mundo de forma lúdica, mesmo que com uma pitada da agressividade e sinceridade da pichação periférica”, conta André. 

Leilão terá pinturas feitas pelo artista (Luís Nascimento/Agência Mural/Folhapress)

Lessa é considerado pelos amigos como um “poliartista”, porque, além das telas,  faz esculturas, artes digitais, peças audiovisuais, peças de roupas e acessórios misturando técnicas.  

O leilão será realizado das 15h30 às 20h15, no dia 17 de novembro, na Estrada Pedreira Alvarenga, 3469, no bairro Balneário São Francisco. 

No total, serão leiloadas 21 obras autorais, os preços iniciais variam de R$ 20 até R$ 60 por peça. Além do leilão, o evento contará com apresentações artísticas, pocket show, DJ e loja colaborativa (destinado para exposição de produtos de artistas convidados) com obras a partir de R$10. 

Esse será o segundo evento artístico organizado pela produtora. Hoje a Firminius Art é administrada por Mariana e o namorado Daniel Marinho, 20. “O foco é alcançar um espaço físico para realizar os nossos eventos, para vender, expor e abrigar as obras dos artistas periféricos”, fala Mariana.

“Precisamos abraçar a ideia do empreendedorismo negro e periférico para conseguir girar dinheiro em nossas mãos”, relata a artista. 

Luis Nascimento é correspondente de Diadema

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‘Na Disciplina: Samba e Cidadania’ une cultura, comunidade e política na zona sul de SP https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/11/07/na-disciplina-samba-e-cidadania-une-cultura-comunidade-e-politica-na-zona-sul-de-sp/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/11/07/na-disciplina-samba-e-cidadania-une-cultura-comunidade-e-politica-na-zona-sul-de-sp/#respond Thu, 07 Nov 2019 17:30:31 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/Carolina_Figueiredo-1-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16965 Carolina Figueiredo

É dia de sol na rua Oldegard Olsen Sapucaia, no Jardim Miriam, em Cidade Ademar, zona sul de São Paulo, e as crianças correm em frente a tenda onde instrumentos de som são montados. 

Moradores ajudam a fechar os dois lados da via, com bandeiras metade preta e metade laranja, cores símbolo do Pagode na Disciplina. Vai começar o samba. 

A cena está no documentário ‘Na Disciplina: Samba e Cidadania’, e é reproduzida todos os últimos domingos do mês na região. 

O filme estreou no dia 27 de outubro, na mesma rua onde Pagode na Disciplina é realizado, e conta a história da importância das comunidades de samba na periferia da zona sul da cidade.    

Produzido por um coletivo autônomo de audiovisual, o filme de cerca de 30 minutos começou a ser produzido em abril. A ideia partiu da produtora Luana Vieira, 37, criadora do evento. 

“É uma forma de contar a história do samba dentro da periferia de forma original, organizada e potente, mantendo viva a valorização e tradição de um povo”, diz Vieira. 

Realizado desde 2015, o Pagode na Disciplina reúne sambistas da região do Jardim Miriam. No média-metragem, a história da roda se conecta à de outros sambas de rua de Cidade Ademar. 

“É um documentário feito por muita gente”, define a diretora de produção Carol Moreno. Além dela, embarcaram na produção do filme Semayat Oliveira (direção), Carol Moreno (direção de produção), Sabrina Teixeira (desenho de som) e João Victor de Oliveira (direção de fotografia). 

O trabalho foi feito com orçamento de R$ 1.000, por meio de um edital do Mascate CineClube, projeto de incentivo da produção cinematográfica na região. 

Por conta do baixo orçamento, o filme foi realizado no tempo livre. Segundo Moreno, toda a produção foi colaborativa, contando com o apoio dos moradores do Jardim Miriam e da comunidade do samba de outras regiões de Cidade Ademar.

 

Semayat foi diretora do documentário (Mascate Cineclube/Divulgação)

O espaço se tornou também um símbolo em uma região sem acesso à cultura. Cidade Ademar não possui equipamentos como cinemas, teatros, casas de cultura, bibliotecas ou museus, conforme mostrou pesquisa divulgada pela Rede Nossa São Paulo no começo do ano.

Moram na região da subprefeitura de Cidade Ademar cerca de 410 mil habitantes, dos quais 52,1% se declaram pretos ou pardos, segundo IBGE.

O filme vai além do Pagode na Disciplina. “A gente fala de cidadania, de outras histórias que fizeram parte do samba aqui em Cidade Ademar, da importância do samba como uma contracultura ancestral de resistência do povo preto”, conta Semayat. 

“Me emocionei [com o documentário] porque eu acompanhei a saga deles e isso é importante para nós. Não podemos deixar isso morrer nunca”, diz a educadora Silmara Cristina, que mora em Diadema e vai ao Pagode com frequência. 

SAMBA E CIDADANIA

Além de produtora executiva do documentário e uma das fundadoras do Pagode na Disciplina, Luana Vieira é coordenadora no escritório central da UneAfro Brasil, rede de formação para jovens periféricos que promove diversos conteúdos educacionais. 

Ela articulou a criação de um cursinho pré-vestibular ao lado do bar sede do Disciplina. Todos os sábados, cerca de 20 jovens da região assistem a aulas preparatórias para os vestibulares nacionais.

Luana é mãe de cinco filhos e considerou a experiência materna na formulação do samba. “Fazer com que essas mulheres possam sair e ter pelo menos uma vez no mês um momento em família, com os filhos brincando, é o que mais me motiva”, conta Vieira, que incluiu brinquedo infantis como pula-pula no espaço do evento.

Sabrina Teixeira, Luana Vieira, Carol Moreno, Semayat Oliveira e João Victor de Oliveira produziram o documentário (Carolina Figueiredo/Agência Mural/Folhapress)

No local, também se apresentam poetas e sambistas de outras regiões, há rodas de samba femininas e lançamentos de livros de autores periféricos.

“O Pagode na Disciplina entende fazer política como possibilitar o espaço de convivência saudável e de troca de ideias”, diz Semayat Oliveira. “Tudo isso que a gente está vivendo aqui hoje não é só cultura, mas é política também”, complementa Carol Moreno.

ORGANIZAÇÃO 

No Pagode na Disciplina, a ideia é que crianças e idosos possam acessar o evento. A rua cheia do dia da exibição do filme misturava crianças, idosos, adultos e adolescentes.

Para o evento, Luana pede autorização à CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), à Subprefeitura de Cidade Ademar e à Polícia Militar. 

Como a rua Oldegard Olsen Sapucaia não é definida como de lazer, não é permitido que seja fechada com muita frequência, e a organização precisa justificar todos os meses o porquê do evento acontecer. 

A organização do samba vende alimentos e acessórios personalizados, como bonés, copos e camisetas para custear as despesas. O evento é gratuito e é permitido que os moradores entrem no local demarcado com as próprias bebidas e alimentos. 

Mantendo a tradição, a primeira exibição oficial do ‘Na Disciplina’ foi na rua, mas a diretora Semayat Oliveira diz querer levar o filme para novos espaços e festivais.  “A ideia é mostrar como o samba de rua é importante para uma expressão de cidadania nas periferias”, finaliza. 

Carolina Figueiredo é correspondente de Cidade Ademar

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Projetos do Campo Limpo disputam Prêmio Jabuti de incentivo à leitura https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/10/30/projetos-do-campo-limpo-disputam-premio-jabuti-de-incentivo-a-leitura/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/10/30/projetos-do-campo-limpo-disputam-premio-jabuti-de-incentivo-a-leitura/#respond Wed, 30 Oct 2019 17:40:26 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/IMG-20191029-WA0013-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16949 Cléberson Santos

Duas iniciativas atuantes na região do Campo Limpo, zona sul de São Paulo, estão concorrendo ao Jabuti 2019, o principal prêmio literário do País. 

Estão entre os 10 semifinalistas da categoria “fomento à leitura”, o Sarau do Binho e a Rede LiteraSampa. 

Os finalistas serão divulgados pela CBL (Câmara Brasileira do Livro (CBL), organizadora da premiação, na próxima quinta-feira (31). A cerimônia de premiação será no dia 28 de novembro, em cerimônia no Auditório Ibirapuera, em São Paulo.

O Sarau do Binho é um dos principais encontros entre poetas no Campo Limpo e existe desde 2004. Assim como outro importante sarau da região, o da Cooperifa, ele também ocorria em um bar. Isso até 2012, quando a prefeitura determinou o fechamento do local.

Desde então, Binho passou a organizar encontros em escolas e espaços culturais. Hoje, o sarau é realizado em um teatro em Taboão da Serra, na região metropolitana de São Paulo, e na Praça do Campo Limpo.

“É como uma chancela. Nos impulsiona a continuar com nossas ações e sermos mais criativos ainda, buscando soluções que possam ajudar as pessoas a terem o encontro com o livro”, afirma Suzi de Aguiar Soares, 53, organizadora do Sarau.

Além disso, o coletivo também é responsável por outras ações de incentivo à leitura, como a Kombiblioteca e a Felizs (Feira Literária da Zona Sul), que teve a quinta edição no mês passado.

Mara Esteves é articuladora da Rede LiteraSampa e gestora da Biblioteca Comunitária Djeanne Firmino, no Jardim Olinda (Cléberson Santos/Agência Mural/Folhapress)

Já a LiteraSampa é uma rede de bibliotecas comunitárias espalhadas por diversas regiões da capital e também na Grande São Paulo. Segundo Mara Esteves, 35, articuladora da LiteraSampa, a rede surgiu após uma reflexão durante um edital de criação de bibliotecas em 2011.

Ela comenta que muitos projetos foram encerrados após o fim de financiamentos. “Para que isso não fosse tão cotidiano, foi dialogado para se criar a rede e, assim, a gente tivesse mais potência de captação de recurso e de conhecimento distribuído por igual para todos”, explica.

Hoje, a Rede LiteraSampa conta com um total de 11 bibliotecas, sendo três na Grande SP (duas em Mauá e uma Guarulhos), uma no centro, uma na zona oeste, duas na zona leste e outras quatro na zona sul, como a de Parelheiros, que fica dentro do cemitério da região. 

A LiteraSampa também promove intervenções artísticas em suas bibliotecas e também seminários sobre a importância da leitura, inclusive para leitores mirins. 

Mara aponta que a indicação da LiteraSampa representa um olhar mais atento da organização do Jabuti às iniciativas da periferia.

Fiquei surpresa. Nós que acompanhamos o setor da literatura e do livro no Brasil estamos acostumados a ver esses espaços serem ocupados somente por iniciativas que estão vinculadas à elite”, diz. “É um divisor de águas no resultado de um dos prêmios mais tradicionais do país”.

Além do Sarau do Binho e da Rede LiteraSampa, também disputam o prêmio de “incentivo à leitura” projetos ligados ao SESC, SESI, Senac, Itaú e também o poeta Sérgio Vaz, da Cooperifa, e a youtuber Isabella Lubrano, do canal Ler Antes de Morrer. Junto com o troféu, o vencedor receberá R$ 5.000.

Segundo o regulamento do Prêmio Jabuti, serão avaliados critérios como a abrangência e a inclusão do projeto, o caráter inovador e criativo e a capacidade de abrangência e sustentabilidade econômica. 

MAIS PERIFÉRICOS

Outros artistas de periferias de São Paulo também estão na lista de semifinalistas do Prêmio Jabuti.

O quadrinista Alexandre de Maio, que desenhou a reportagem “Minas da Várzea”, concorre na categoria “História em Quadrinhos” com o livro “Raul”; Paulo D’Auria, do coletivo “Poetas do Tietê”, está com o livro “As Novas Aventuras de Guaracy” disputando na categoria “juvenil”; Tom Faria concorre na categoria “biografia” com o livro que conta a história da autora Carolina de Jesus; E em “Economia Criativa”, Edson Leite concorre com o livro “Por Que Criei a Gastronomia Periférica”.

Cléberson Santos é correspondente do Capão Redondo

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Promessa desde 2013, UBS no Jabaquara segue sem prazo para construção https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/10/08/promessa-desde-2013-ubs-no-jabaquara-segue-sem-prazo-para-construcao/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/10/08/promessa-desde-2013-ubs-no-jabaquara-segue-sem-prazo-para-construcao/#respond Tue, 08 Oct 2019 16:43:29 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/IMG-02-320x213.jpeg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16848 Vagner Vital

Cobrança antiga de moradores da Vila Guarani, no Jabaquara, zona sul de São Paulo, a UBS (Unidade Básica de Saúde) Vila Guarani recebeu endereço e nome. No entanto, a promessa de 2013 tem no local apenas entulho, mato e uma placa que indica a obra que nunca chegou a começar. 

O projeto iniciado ainda na gestão de Fernando Haddad (PT) foi descontinuado em 2016, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde. 

Moram no distrito do Jabaquara 223 mil habitantes, atendidos por nove UBSs, espalhadas pela região. 

Quem vive na Vila Guarani tem que se deslocar até a unidade mais próxima, na Cidade Vargas, a cerca de 3 km (27 minutos a pé) para buscar atendimento médico. A região também não possui hospitais públicos: o mais próximo, o Hospital Municipal Dr. Arthur Ribeiro de Saboya, fica a 4 km (41 minutos a pé). 

“Quando tento marcar consulta para o meu marido tenho que esperar três meses para ser atendida na UBS Milton Santos, pois não tem vaga”, diz a aposentada Maria Cecília, 67, que conta com o auxílio de transporte público e por aplicativo para levar o marido Nelson Quintana, 66, às consultas. 

Segundo dados do Observatório Cidadão da Rede Nossa Paulo, uma pessoa chega a esperar até 123 dias para exames de ultrassonografia geral no Jabaquara, um dos piores índices da capital, ficando atrás apenas dos distritos Tatuapé (128) e Carrão (152), na zona leste. 

“O posto [UBS] que vou é o da Cidade Vargas, no Jabaquara, mas demora demais, muita burocracia, os exames demoram mais de dois meses”, diz a hair stylist Karina Kelly, 33. 

“Se tivesse mesmo esse posto aqui seria maravilhoso, seria só subir a rua de casa e não teria que pagar exames no particular”, completa.

Mato alto e muro quebrado no terreno que abrigaria a UBS Vila Guarani, na região do Jabaquara, zona sul (Vagner Vital/Agência Mural/Folhapress)

O projeto de construção da UBS Vila Guarani aparece no Diário Oficial do Município em 20 de outubro de 2015, com valor estipulado em R$ 773 mil pelo Fundo Municipal de Saúde. 

Questionada, a Secretaria Municipal de Saúde, da gestão Bruno Covas (PSDB), não respondeu quanto foi gasto no projeto. 

Em dezembro de 2015, a Secretaria contratou, com dispensa de licitação, a empresa Tsenge Engenharia S/S para prestação de serviços técnico-profissionais para execução de levantamento topográfico e cadastramento arbóreo, no valor de R$ 10 mil. 

Segundo a pasta, o cancelamento da construção da UBS Vila Guarani foi decisão da gestão anterior, Fernando Haddad (PT), e relacionada ao congelamento dos recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do governo federal. 

Para atender a demanda da população local, a Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) Sudeste, em reunião com o Conselho Gestor local, sugeriu a fusão do projeto da nova unidade com a UBS Cidade Vargas. Ainda não há prazo para início das obras.

Vagner Vital é correspondente do Jabaquara

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Livro sobre a obra de Tula Pilar é lançado em feira literária da zona sul de SP https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/09/19/livro-sobre-a-obra-de-tula-pilar-e-lancado-em-feira-literaria-da-zona-sul-de-sp/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/09/19/livro-sobre-a-obra-de-tula-pilar-e-lancado-em-feira-literaria-da-zona-sul-de-sp/#respond Thu, 19 Sep 2019 18:03:56 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/Carmen-e-Maitê-Arquivo-pessoal-1-320x213.jpeg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16776 Gisele Alexandre

“Tenho 29 anos, mas já vivi mais de 100 considerando meus conhecimentos, minha sabedoria, incluindo minha rebeldia”. Era assim que Tula Pilar, que morreu em decorrência de uma parada cardíaca em abril deste ano, se definia na poesia “Sou uma garota ousada”.

No sábado (21), a garota ousada será homenageada com o lançamento do livro “Pilar futuro presente: uma antologia para Tula”. 

A obra reúne poesias e contos escritos por Tula, além de entrevistas e cartas de outras mulheres negras em admiração à poeta.

O lançamento será na Praça do Campo Limpo, zona sul da capital, como parte das atividades de encerramento da Felizs (Feira Literária da Zona Sul).

Ao longo da vida, Tula fez da poesia instrumento de resistência e o trabalho inspirou outras mulheres das periferias da capital. A jornalista Maitê Freitas, 34, moradora da Capela do Socorro, na zona sul, é uma delas e é uma das organizadoras da publicação.

“Essa antologia é meu jeito de dar o meu abraço forte na Pilar e dizer ‘muito obrigada’”, conta Maitê.

Livro com textos de Tula Pilar, escritora que morreu em abril (Divulgação)

A publicação ganhou forma após um convite de Suzi Soares, articuladora e produtora cultural do Sarau do Binho, coletivo responsável pela produção da Felizs.

Maitê conta que o processo de produção da publicação durou cerca de três meses e ela contou com apoio da também poeta e escritora Carmen Faustino, 40, moradora do Campo Limpo, outra amiga e admiradora do trabalho de Tula Pilar, a quem conheceu em 2007.

“Nossas conversas na madrugada eram sempre muito divertidas e cheias de conselhos. Pilar foi e ainda é uma inspiração para minhas poesias e textos eróticos, sua ousadia abriu caminhos para muitas de nós”, diz Carmen.

O livro foi produzido integralmente por uma equipe feminina e negra. A obra traz ainda cartas de Marina Costa, Elizandra Souza, Dandara Kuntê e Vera Eunice (filha da escritora Carolina Maria de Jesus, autora de “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada” e que viveu entre 1914 e 1977).

O livro foi editado pelo Selo Sarau do Binho em parceria com a Oralituras. O projeto gráfico também foi criado pela designer Loredana Oliveira, 31, moradora da Vila do Castelo, zona sul, que também teve a oportunidade de conviver com a poeta. 

“Meu processo criativo foi bem difícil, pois eu estava presa a muitas emoções”, diz Loredana. “Depois de algumas pesquisas encontrei o sankofa, que são símbolos de Gana (África) que representam palavras. Foi daí que surgiu minha inspiração para os elementos que estão no livro”.

A ilustração da capa foi criada pela artista plástica e professora universitária Renata Felinto, 41, que hoje vive no estado do Ceará, mas que conviveu com Tula. A ideia foi inspirada na imagem de Tula sorrindo, um traço marcante das apresentações da autora.

Renata ressalta a importância que Tula teve para o entendimento de sua própria sexualidade e afetividade. Assim como era a poeta, ela também é uma mãe que tenta equilibrar a rotina com os filhos sem deixar de lado seus desejos femininos. 

“A flor que tem no cabelo da Tula Pilar na ilustração capa se chama clitória. Achei que essa flor seria perfeita, já que ela esbanja alegria via prazer. Prazer não apenas no sentido sexual e afetivo, mas prazer no sentido de respirar a vida”, finaliza.

O livro “Pilar futuro presente: uma antologia para Tula” está disponível na pré-venda na internet

Foram impressos 150 exemplares e a meta é imprimir 1.000 unidades, o que depende dos pedidos. A venda será destinada aos filhos de Tula Pilar e à impressão de novos exemplares.

Gisele Alexandre é correspondente do Capão Redondo

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Falha na linha 5-lilás do metrô complica trajeto de moradores do Capão Redondo https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/06/25/falha-na-linha-5-lilas-complica-trajeto-de-moradores-do-capao-redondo/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/06/25/falha-na-linha-5-lilas-complica-trajeto-de-moradores-do-capao-redondo/#respond Tue, 25 Jun 2019 13:43:03 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/06/WhatsApp-Image-2019-06-25-at-09.21.39-1-320x213.jpeg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16390 Gabriela Costa

A assistente social Suzana da Silva, 34, mora no Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, e diariamente enfrenta uma jornada de dois ônibus, metrô e trem para chegar no trabalho em Osasco, na Grande São Paulo. Hoje, contudo, a situação foi mais complicada.

Às 7h30 chegou à estação Capão Redondo e não sabia que a linha 5-lilás do metrô não funcionava entre esse trecho e a estação Giovanni Gronchi. “Não tinha como tentar outro caminho para ir para Osasco”, contou.

Esperou por dez minutos para pegar um ônibus pelo Paese (Plano de Apoio entre Empresas em Situação de Emergência), serviço disponibilizado pela prefeitura de São Paulo

“Só consegui entrar porque parou na minha frente e a multidão me empurrou para dentro do ônibus”, contou.

O trecho entre Capão e Santo Amaro geralmente é feito em dez minutos de metrô, ela conta. De ônibus, demorou mais de uma hora por causa do trânsito.

A Ponte João Dias ficou totalmente parada às 9h15. Ela é o principal acesso para quem deixa essa região e vai para a Marginal Pinheiros e a avenida Santo Amaro, com destino ao centro. 

Suzana chegou ao trabalho às 10h, uma hora depois do que previa. A situação foi semelhante à de milhares de passageiros que vêm de bairros das periferias como o Campo Limpo e o Capão.

A linha 5-lilás tem circulação média de 463 mil passageiros, número que cresceu após a abertura de novas estações que interligam a região à linha 1-azul.  

A Viamobilidade afirma que “ocorreu a queda de cabos da rede aérea (aproximadamente 1 Km), o que impede a alimentação elétrica para a circulação de trens no trecho entre as estações Capão Redondo e Santo Amaro”.

Outra moradora que trabalha na Grande São Paulo é Lucia Souza, 43, auxiliar de limpeza. Sai do Capão diariamente para ir para Diadema. Nunca tinha pegado o ônibus para fazer o trajeto. “Estou totalmente perdida nesse caminho”.

Ela pegou a linha 6451/10 terminal Bandeira e foi até o Shopping Morumbi. De lá precisou ir até a avenida Berrini e seguir o trajeto para Diadema, no ABC, em outro ônibus. 

Por outro lado, a recepcionista Taiara Dalpino, 35, conseguiu escapar do problema. Ela vive perto da estação Vila das Belezas, onde vai a pé, e trabalha no Morumbi. Viu na TV o problema e recorreu ao marido. “Ele me levou de carro, saímos antes e consegui chegar bem.”

Ainda não há previsão para a normalidade da linha. Entre Santo Amaro e Chácara Klabin, os trens circulam normalmente.

Gabriela Costa é correspondente do Campo Limpo
gabrielacosta@agenciamural.org.br

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Manhã de greve tem escolas fechadas em ao menos 14 cidades da Grande SP https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/05/15/manha-de-greve-tem-escolas-fechadas-em-14-cidades-da-grande-sp/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/05/15/manha-de-greve-tem-escolas-fechadas-em-14-cidades-da-grande-sp/#respond Wed, 15 May 2019 16:50:40 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/WhatsApp-Image-2019-05-15-at-12.34.25-320x213.jpeg true https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16217 A manhã desta quarta-feira (15) teve escolas fechadas, dúvidas dos pais e mobilização de alunos e educadores nas periferias de São Paulo e da região metropolitana.

A paralisação dos professores atingiu ao menos 14 cidades da Grande São Paulo, segundo levantamento da Agência Mural.

Biritiba-Mirim, Carapicuíba, Cotia, Diadema, Embu-Guaçu, Franco da Rocha, Guararema, Guarulhos, Itaquaquecetuba, Mairiporã, Mogi das Cruzes, Osasco, São Bernardo do Campo, Vargem Grande Paulista, além da própria capital, tiveram interrupção das aulas. Parte dos moradores irá para a avenida Paulista nesta tarde. 

Na região do Parque Cisper, em Ermelino Matarazzo, a escola João Franzolin Neto teve paralisação de 60% dos professores. Na escola municipal Rosângela Rodrigues Vieira, 90% pararam.

Na Brasilândia, zona norte, a escola Hélio Heber Lino teve aula de apenas dois professores em sala de aula, enquanto na CEI Jardim Dionísio, no Jardim Ângela, zona sul, a unidade funcionou até 11h.

“Minha filha de oito anos, que estuda na escola estadual Jardim Aurora, não teve aula. Me prejudicou no que tinha para fazer hoje e também não vai ter balé no CEU Jambeiro”, disse Kátia Figueiredo Lima, 43, moradora de Guaianases, na zona leste.

Professora da escola estadual Aurélio Campos, em Interlagos, na zona sul, Claudia Maria Luciano, 57, afirma que a redução de recursos no ensino superior afeta também o ensino de base.

“A educação básica depende fundamentalmente das pesquisas que são feitas nas universidades públicas. Tudo o que é feito para a melhoria do conhecimento está dentro das universidades. Indiretamente quem acaba sendo prejudicado com isso é a educação básica”, afirma.

Escola sem aulas em Mairiporã (Humberto Muller/Agência Mural/Folhapress)

“Este é o primeiro momento que os agentes da educação estão se mobilizando contra este governo, que tem um discurso anti-intelectual e anti-conhecimento”, diz o professor Raimundo Justino, de Ermelino Matarazzo, na zona leste.

“Já tivemos muitos governos que trataram a educação com descaso, mas esse a trata como inimiga”, opina o educador.

GRANDE SP

Até a noite desta terça-feira (14) escolas de ao menos oito cidades haviam aderido, mas outros municípios também tiveram paralisações na manhã de hoje.

Em Franco da Rocha, na região norte da Grande São Paulo, ao menos quatro escolas tiveram paralisação completa, caso das municipais José Augusto Moreira – Estância Lago Azul, Arnaldo Guassieri, na Vila Lanfranchi, a Egydio José Porto, no Parque Vitória, e a escola estadual Luiz Alexandre, no Jardim dos Bandeirantes.

A informação passada pela coordenadora é de que 90% dos colégios tiveram suspensão parcial ou total das aulas. Na rede municipal, a prefeitura informou que 18 escolas registram paralisação total; 24 com paralisação parcial; 10 funcionam normalmente. Situação parecida vive a cidade vizinha de Mairiporã.

“Na escola da minha filha foi avisado via agenda e o professor reforçou pelo Whatsapp”, diz o autônoma Giselle Guidoni Carvalho, 33. A filha dela estuda na escola municipal Muffarege Salomão Chamma.

“Todos têm o direito de protestarem e paralisarem suas funções em decorrência de uma reivindicação. Entretanto, não existe uma outra solução, pelo menos nos meios em que pesquisei, que solucione a questão da previdência”, diz Giselle.

A auxiliar de farmácia Keiti Moraes Ferraz, 26, tem um filho que estuda na escola Nicolau Pinto da Silva, colégio que também teve aulas paralisadas. “Não me afetou. Super apoio a manifestação dos professores. Inclusive, queria ir participar”, diz Keiti.

Havia um cartaz colado na porta da escola com a informação sobre o funcionamento nesta quarta.

Em Guarulhos, município de 1,3 milhão de habitantes, a informação é de que 119 escolas municipais tiveram paralisação das aulas. A prefeitura de Guarulhos não confirmou a quantidade.

Manifestantes caminharam até a prefeitura em São Bernardo (Cadu Bazilevsky)

No Alto Tietê, de acordo com o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), 23 escolas não têm aulas em Mogi das Cruzes. Segundo a entidade, em Biritiba Mirim as três escolas estaduais da cidade funcionam apenas parcialmente. Em Guararema, das seis escolas estaduais, a Apeoesp estima que a paralisação está em 60%.

Em São Bernardo do Campo, os professores caminharam da praça Santa Filomena até o Paço municipal. Em meio ao protesto, houve também reivindicações sobre a educação local.

A professora Andrea Rocha, 46, da rede municipal, dá aula para o quinto ano do ensino fundamental na Emeb Olegário José Godoy, no bairro Montanhão. Ela critica o modelo implantado no colégio.

“Não é uma escola integral, é de tempo integral. [A prefeitura] pegou a escola e colocou os alunos ali dentro. Só que a escola não tem estrutura para receber essas crianças. Não tem quadra, não tem biblioteca, é um computador para cada três crianças”, diz Andrea.

Da Agência Mural: Paulo Talarico, Priscila Pacheco, Rafael Balago, Aline Venâncio, Humberto Muller, Jariza Rugiano, Jéssica Silva, Leticia Marques, Lucas Veloso, Micaela Santos, Thalita Monte Santo.

 

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Mães indígenas se tornam líderes de aldeias no extremo sul de São Paulo https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/05/12/maes-indigenas-se-tornam-lideres-de-aldeias-no-extremo-sul-de-sao-paulo/ https://mural.blogfolha.uol.com.br/2019/05/12/maes-indigenas-se-tornam-lideres-de-aldeias-no-extremo-sul-de-sao-paulo/#respond Sun, 12 May 2019 15:04:42 +0000 https://mural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/DSC_0848-320x213.jpg https://mural.blogfolha.uol.com.br/?p=16198 Luana Nunes

Giselda Pires de Lima, 38, percebeu desde jovem que dentro da aldeia onde vivia havia vários problemas. Porém, era pouco ouvida sobre o que pensava. “Eram sempre homens resolvendo tudo. Quem tomava todas as decisões eram eles, sem nem entender as dificuldades que as mulheres tinham”, afirma.

Índia nascida e criada na Tenondé Porã, uma das comunidades do povo Guarani Mbya, em Parelheiros, extremo sul de São Paulo, ela atuou para mudar esse cenário. A solução foi a criação de uma nova aldeia, a Kalipety, na qual é uma das principais lideranças.

Giselda, também conhecida como Jera em guarani, é um dos exemplos das mães indígenas que buscaram o papel de liderança para defender os direitos das mulheres índias.

Mãe de dois filhos, ela enfrentou resistências. “Denunciei violência contra mulheres na frente de todo mundo e encarei os mais raivosos. Alguns deles se juntavam para me enfraquecer, mas eu não deixava”, relembra. “Ainda assim tive muito apoio dos que entendiam que uma mulher ajudaria a trazer soluções que eles não sabiam”, conclui.

Apesar de “nova”, a aldeia Kalipety mantém firme vários aspectos culturais, mas com algumas mudanças. Em especial, a política interna do espaço é definida sem a figura do cacique. “Faço parte do conselho interno, com jovens, mulheres e homens, onde todos podem falar, todos têm a mesma voz”, relata.

O conselho se reúne uma vez por mês e os líderes e caciques de cada aldeia da região se juntam para falar sobre problemas, novidades ou projetos.

Jera é líder da aldeia Kalipety (Thiago Borges / Cedeca Interlagos)

TAPE MIRIM

Inspiradas na atuação de Jera, as irmãs Arayvoty, 49, e Kexeru, 47, (Laura e Beatriz), que moravam na Tenondé Porã, também decidiram conquistar um novo espaço.

Segundo Laura, a aldeia está cada vez com mais habitantes e, em consequência, com menos espaços. Hoje, são cerca de 1.500 moradores.

Elas estavam incomodadas com a falta de espaços para plantar, um dos pontos fortes da região, além das dificuldades de passar a tradição para os filhos. Ambas também são mães: Laura tem oito filhos e Beatriz sete. 

“Levanta dessa cadeira e vamos fazer coisas boas por nós”, disse Jera para as irmãs. Foi aí que tudo começou.

Arayvoty chamou a irmã Kerexu e ela aceitou a ideia de procurar uma nova terra. Para encontrar o novo local, tiveram a ajuda de Jera e Thiago, um outro líder da Kalipety, que auxiliou nas buscas com um GPS para que a área estivesse dentro do território Tenondé.

No dia seguinte começaram a andar mata a dentro para achar o território que seria demarcado pela Funai (Fundação Nacional do Índio) como a aldeia Tape Mirim, processo concluído em março de 2017.

Logo de cara um problema: não tinham de onde obter água. Cavaram pela região, mas em nenhum foi possível fazer um poço. Mesmo assim, decidiram se estabelecer ali. No primeiro dia, foram 15 pessoas para ajudar a limpar e montar os primeiros barracos.

“Achei que todos ficariam, mas foi todo mundo embora e ficou eu, minha irmã e as crianças debaixo de uma tenda de lona no meio do mato, sozinhas. Tive medo”, desabafa Arayvoty.

“No terceiro dia que estávamos aqui caiu uma tempestade. Era vento, relâmpago, raio e nós duas com as crianças contra tudo isso, sozinhas sem ter o que fazer”, diz Kerexu.

Elas tiveram de mexer na lona para tirar a água que estava afundando e as crianças ficaram assustadas.

Atualmente, elas contam com a ajuda do Programa Aldeia, projeto da prefeitura que dá apoio para fortalecer a cultura do povo Guarani Mbya. Com esse apoio, conseguiram madeiras necessárias para a construção de algumas casas, a criação de um poço arteseano para abastecer a comunidade.

A aldeia Tekoa Tape Mirim completou dois anos em março e já abriga cerca de 11 famílias que chega a quase 50 pessoas.

 

Arayvoti é mãe de oito filhos (Luana Nunes/Agência Mural/Folhapress)

Assim como na Kalipety, na Tape Mirim ainda existem dificuldades pela distância da cidade. Estão a 13 km de Parelheiros, bairro mais próximo com um supermercado disponível.

Ambas já conseguem plantar e consumir do próprio espaço. “A ideia é continuar caminhando para depender só da terra”.

QUEBRAR PRECONCEITOS

Antes de se tornar uma liderança, Jera teve experiência no mundo longe da aldeia. Ela começou a estudar aos 11 anos na escola do bairro e sempre esperava com ansiedade a hora de ir para casa.

Pensou em desistir, pois não sabia uma palavra da língua dos juruas (brancos na denominação guarani). Conhecia apenas o dialeto guarani, mas pegou gosto pelas salas de aula. Concluiu o ensino médio e foi para faculdade, onde se formou em pedagogia na USP (Universidade de São Paulo).

Depois de trabalhar na área da educação, resolveu abandonar as salas de aula. Pensou que não queria “ser funcionária do estado, daquele que tanto oprimiu na história de mais de 500 anos do meu povo”.

“Depois de toda a minha vivência e o impacto que a escola teve para mim, decidi então que eu ia me fortalecer na educação tradicional [dos guaranis]”, diz. “A gente aprende desde criança que não precisa saber ler e escrever para entender e respeitar a natureza”.

Jera também tem um trabalho que chama de “agente cultural”, no qual recebe a população para explicar coisas da comunidade e quebrar preconceitos enraizados sobre a população indígena.

“Gosto de explicar e esclarecer dúvidas que sempre surgem como se somos tribo. No nosso caso, não somos. Tribo é um grupo de pessoas que não tem organização social e nas nossas aldeias sempre tivemos”, afirma.

“Quanto mais gente souber da nossa história e do nosso modo de vida, melhor. As pessoas tendem a respeitar mais o que elas conhecem.”

Luana Nunes é correspondente de Parelheiros
luananunes@agenciamural.org.br

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