‘Artistas locais dão de dez a zero em atrações do Faustão’, diz ativista de Osasco
Desde 2009, sete amigos se reúnem a cada quinze dias na cidade de Osasco, na Grande São Paulo. Além da amizade, o objetivo é discutir a cultura local, ao menos aquela que não é lembrada. As palavras resistência, arte, crítica, voz, protesto, música e liberdade descrevem o coletivo e estão em seu emblema.
Eles fazem parte do Movimento da Cultura Maldita. “É a cultura que não está na grande mídia, e que tem artistas muito bons, que dão de dez a zero nesses que aparecem no [programa do] Faustão”, afirma a jornalista Fayola Damaceno, 25. Todos os anos, uma grande ação dá espaço para grupos artísticos da região.
Além de Fayola, formam o grupo, o historiador Renato Barbosa, 28, o estudante de Ciências Sociais Leandro Soares, 32, o funcionário público Thiago Avelino, 31, e o fotógrafo Marcio Mazeo, 33. Recentemente o administrador Ubirajara Vigato, 27, e a psicóloga Carolina Franco, 25, também passaram a compor o coletivo.
“Para mim é fácil e difícil [participar], é o que eu sou. Vai muito na contramão, a mulher pega no pé, mas entende que a gente faz isso porque gosta”, conta Mazeo, que conheceu a ação após fazer uma cobertura fotográfica em um dos primeiros eventos, realizados na zona sul de Osasco. “A gente coloca como prioridade o movimento, até a frente do trabalho”, reforça.
Foram quatro eventos até agora, dois em Osasco e dois em Carapicuíba. O último deles foi realizado em 7 de setembro. A dinâmica das ações começa pela manhã, com atrações para as crianças. Em 2011, por exemplo, na praça Marechal Bittencourt [conhecida como Praça da Led], em Osasco, havia livros infantis pendurados nas árvores para quem quisesse pegar. Depois, atrações de música, grafite, circo e teatro a céu aberto, mudaram a rotina do local.
“Trabalhamos muito com rap, que é a música de protesto”, ressalta Fayola. “O projeto foi tomando proporções que não esperávamos. No começo, as pessoas não entendiam a proposta como uma coisa para movimentar a cultura”, diz.
Os eventos são possíveis graças a colaboração e ajuda dos grupos coletivos da cidade, que dão apoio a proposta. “A gente não dá nada [para os artistas], mas muitos chegam cedo para ajudar a gente a montar tudo”, afirma Mazeo. Às vezes, o pagamento é feito apenas em cerveja.
Hoje, os custos são bancados pelos próprios integrantes, que também são produtores de cultura [peças e músicas também são compostas pelos membros]. Porém, eles estudam se formalizar, pois assim poderão se inscrever para receber apoio do poder público. O tema é uma das questões que pautam as reuniões.
“A gente se questiona muito. Às vezes até briga, mas é legal, até para reforçar o viés ideológico. Você tem que buscar o apoio, mas saber de quem é esse apoio”, completa Fayola.
O movimento de coletivos pela cultura tem crescido na cidade, como o Multirão Cultural da Quebrada, mostrado pelo Mural em 2012.
Paulo Talarico, 23, é correspondente de Osasco
@PauloTalarico
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