Jovem de Paraisópolis estuda impactos do turismo em favelas

Agência Mural

O turismo no interior das favelas teve início há duas décadas, na Rocinha, maior favela do país, no Rio de Janeiro. De lá para cá, iniciativas como essa vêm se expandindo não apenas para outras comunidades cariocas. Em Paraisópolis, que abriga cerca de 100 mil habitantes, na zona sul de São Paulo, desde setembro do ano passado, os moradores têm convivido com a presença de turistas, que  percorrem os becos e as vielas para conhecer a cultura do local em visitas guiadas.

Esse tipo de prática, no entanto, é contestada por Douglas Ribeiro, 20, morador de Paraisópolis e estudante do curso de Lazer e Turismo na Universidade de São Paulo (USP), que apresentará seu artigo “A Percepção de Moradores de Paraisópolis e Heliópolis acerca do Turismo na Favela”, em maio, no congresso “Destination Slum! 2.0”, na Universidade de Potsdam, na Alemanha.

“Você sabe que turistas visitam a comunidade? O que você acha disso?”. Perguntas como essas nortearam a pesquisa – ainda em andamento — realizada pelo universitário, com pessoas das duas maiores favelas de São Paulo.

Comunidade de Paraisópolis recebe passeios guiados desde o ano passado
Comunidade de Paraisópolis recebe passeios guiados desde o ano passado

De acordo com Ribeiro, a maioria dos entrevistadores questionou a real efetividade dessas visitas, além de pontuarem, em especial, a questão da invasão da privacidade. “O turismo na favela é invasivo. É quase como um zoológico humano, como ocorre em muitas periferias do Rio”, destaca Ribeiro, exemplificando situações em que turistas adentram as comunidade com carros blindados.

“Ninguém pergunta ao morador se ele quer ser visitado ou se essa visitação é interessante e significante para a vida dele. Muitos desses turistas saem disparando fotos das casas das pessoas, das crianças, sem qualquer tipo de autorização”, complementa.

PARAISÓPOLIS DAS ARTES

Em Paraisópolis, há pouco mais de um semestre, os interessados em visitar a comunidade precisam desembolsar R$ 150 para ter acesso ao roteiro cultural, criado pela União de Moradores.

O tour conta com visitas à oficina de Berbela, o homem que transforma sucata em arte, e à casa de Antenor Feitosa, que construiu sua residência com garrafas PETs, além de passar pela Casa de Pedra, do Gaudí Brasileiro, e por iniciativas como o balé e a orquestra filarmônica, entre outros.

De acordo com Joildo Santos, vice-presidente da União de Moradores, a cobrança pelo “tour” não é um pedágio da comunidade para as visitas. Ele também diz que o valor cobrado pelo projeto é repassado aos artistas e ao guia, que é pago para esta atividade. “Qualquer pessoa pode visitar Paraisópolis. O projeto busca valorizar as iniciativas culturais  e mudar o conceito que as pessoas tem de favela. Diferente de projetos implantados em outros locais, conseguimos destacar as iniciativas culturais da comunidade. Queremos ser reconhecidos por isso”, afirma.

O jovem que embarcará à Alemanha com ajuda de doações, reforça que o turismo na favela só tem sentido “se a arrecadação é destinada à educação da comunidade”.

Douglas Ribeiro, 20, estuda Turismo na Universidade de São Paulo
Douglas Ribeiro, 20, estuda Turismo na Universidade de São Paulo

RUMO À ALEMANHA 

Sem contar com a verba da USP, que cortou custos que eram destinados à participação dos alunos em atividades fora do país, e conseguir as passagens por meio de um amigo, Ribeiro decidiu então criar uma “vaquinha” on-line para arrecadar os cerca de R$ 3 mil, necessários para sua estadia de 14 dias na Alemanha.

O financiamento coletivo, programado para ficar aberto durante um mês, atingiu o valor necessário em apenas cinco dias.

Ribeiro então já começa a arrumar as malas e alça novos voos.“Quero aproveitar os dias na Alemanha para visitar o Instituto de Pesquisas Latino-Americanas que tem dentro da Universidade Livre de Berlim”, planeja ele, que sabe muito bem o que pretende daqui para frente. “Quero ingressar na carreira acadêmica; fazer mestrado na área de mudança social e atuar em alguma secretaria ou ministério na área de políticas públicas do lazer”.

Vagner de Alencar, 27, é correspondente de Paraisópolis
vagnerdealencar.mural@gmail.com
@vagnerdealencar

Comentários

  1. finalmente alguém entendeu que as visitas de turistas na favela é igual zoo humano.

    os moradores não deviam aceitar e exigir melhorias na favela.

  2. A existência de favelas é a demonstração cabal que o país fracassa em termos de políticas públicas. A ode às favelas é tão absurda como seria a ode à ausência de rede de esgotos, à miséria, à desigualdade, ao analfabetismo. A maior contribuição que poderia ser dada aos moradores de Paraisópolis seria a urbanização do lugar. Colocar urbanistas, arquitetos, poder publico e comunidade, em diálogo, pra bolar o bairro no qual as pessoas desejariam morar. Em seguida, botar tudo abaixo e construir um bairro de verdade, para os atuais moradores, com prédios residenciais, ruas e avenidas, transporte, escolas, postos de saúde, creches, Poupatempo, equipamentos culturais, comércio, bancos, distrito policial, bases comunitárias da PM.

    1. lamentável comentário, sem contar no completo desconhecimento do local , generalizando totalmente a área , a comunidade de Paraisópolis conta com postos de saúde ,creches, escolas ,etec, ruas e avenidas ,possui um comercio diversificado e de qualidade , não é uma terra de ninguém ,tem segurança ,conheço a mais de 3 anos a comunidade e não ouvi falar de nenhum assalto ocorrido.

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